segunda-feira, 3 de março de 2008

O batom

Um batom deixado propositadamente na mesa de cabeceira é a sua carta de despedidas.

“Não vou deixar minhas palavras para que você possa distorcer com mágoa ou tempo.”

O pequeno cosmético zomba de mim. Trás em sua forma distorcida, seus lábios grossos.

Arrumo minha estante, organizo meus livros, Cds e roupas. O maldito continua me encarando, um peso sobre o livro que estava lendo e que não consigo mais abrir.

É como sua presença: o mesmo olhar que convidava meu rosto para entre suas pernas. Que sorrindo, durante o gozo, me perguntava sobre o que lia.

“Não sinto mais saudades de você.”

Com um olhar displicente e com as malas prontas, desta forma, disse que iria me deixar.

Não me deu o direito de reivindicá-la. Apenas pediu que beijasse seu sexo como despedida.

“Deixe meu gosto em teus lábios. Só assim não terei asco de beijá-lo antes de ir.”

Todas minhas coisas estão dentro das caixas da mudança. Todas menos a mesa de cabeceira, um livro e um objeto que carrega seus lábios.