quarta-feira, 26 de março de 2008

Indigentes

Não suporto pedintes. Odeio essa escória miserável e asquerosa que somos obrigados a ver e cheirar ao caminho do trabalho, ao caminho de casa, por qualquer que seja o lugar que tenhamos que passar.

Vou ao shopping preocupado nas roupas de minhas reuniões, presentes de minha amante, lazer de meus filhos e lá está, parado na saída da garagem, me obrigando a assistir seu semblante patético contra o vidro de meu carro.

Já demiti um office-boy por me obrigar a descer em pleno horário comercial. Não por atrapalhar meus afazeres. Mas pelo fato de me obrigar a esquivar dessa massa de miseráveis, que superlotam as saídas dos prédios comerciais em busca de centavos em homens vestidos de ternos.

Eu pago meus impostos. Já estou dando mais do que centavos para que o governo faça seu trabalho e tire esse incômodo de minha vista. Sei que me iludo ao pensar que os ignorantes e analfabetos, que se cercam de sujeira e falta de ambição, poderiam entender algo sobre impostos, trabalho e luta pela vida. Eles são parasitas.

Sento em um bar, após um dia duro e peço uma cerveja. Odeio esses bares perto do serviço, mas precisava beber hoje.

Consigo sentir o cheiro de um desses dejetos antes mesmo de se aproximar de mim.

- O senhor poderia me dar um dinheiro para comprar uma cachaça?

- Pela primeira vez eu ouço algo honesto de vocês. Garçom dê uma cachaça para esse homem.

- Obrigado... Mas o senhor poderia só me dar um trocado?

- Sabia! Certamente quer guardar para comprar cola ou qualquer outra droga barata.

- Estou com fome senhor e gostaria apenas de dinheiro para comprar alguma coisa para comer.

- E por quê diabos não pediu dinheiro, porra!

- Por que ninguém acredita em um mendigo pedindo dinheiro para comida.

Solto uma nota de dez reais na mesa, que ele pega agradecido e atravessa a rua.

Continuo bebendo puto e começo a me sentir bêbado e triste antes mesmo da quarta garrafa. Ligo para o trabalho falando que não irei mais a reunião da tarde, que não voltarei mais hoje e quando peço mais uma garrafa vejo o bêbado voltando em minha direção.

- Vai para o inferno seu idiota! Já te dei dinheiro hoje.

O homem deixa na minha mesa cinco reais e cinqüenta centavos. Sorri agradecido, olha para a aliança posta ao lado na mesa e diz pousando sua mão suja sobre a minha:

- Não deixou o trabalho de lado para pensar nela hoje? Faça isso mais dias, mostre que ela é mais importante e ela vai voltar.

O mendigo sai e me deixa chorando com uma aliança na mão.

Um comentário:

angelica duarte disse...

a escrotidão como fuga dos sentimentos?