quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ouvindo The Strokes

Fernanda estava cansada de ouvir uma música gritar tanto o seu último final de semana. Odiava acessar a porcaria do seu facebook esperando que aquela ridícula bolinha verde aparecesse, de que adiantaria no final das contas? Qual foram as vezes que Patrícia respondia de volta?

Heart in the cage continuava zombando no repeat e toda vez que ela tentava desligar algo dizia que ela deveria ouvir a porcaria do mantra. Por que diabos tinha ficado com essa mina? Sabia desde da primeira long neck que não deveria olhar para ela dançar. Na segunda ouviu a si mesma não se aproximar mais do que a multidão a sua volta. Quando pediu a terceira não deveria ter tocado seu antebraço como tocou. Era a quarta ou quinta garrafa quando estava sentindo o sorriso dela tão próximo?

“I don't want what you want
I don't feel what you feel”

- Qual é o seu nome?
- Fernanda.
- Você é a amiga da Kátia não é?

O modo como o cabelo dela colava no suor perto da nuca, o sorriso mostrando sua gengiva vermelha e aqueles caninos tão brancos e pontudos, ela ficou imaginando como seria ele prendendo seus lábios.

Ela dançava como se a pista fosse uma cama. Ela olhava como se Fernanda fosse música. Aonde estamos?

“Help me I'm just not quite myself
Look around there's no one else left”

- Fica comigo hoje?
- Eu nunca fico para dormir.
- Experimenta comigo?
- Você é linda...

Desligar o iPod não fazia nenhuma diferença. Ela ainda ouvia a música mesclada ao cheiro Patrícia.

“I'm sorry you were thinking; I would steal your fire.”

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Marasmo (por Catarina)

Já eram umas 10 da noite e Catarina estava terminando de se vestir. Tinha escolhido uma meia calça grossa, estava morrendo de vontade de estrear o vestido que ganhou de sua amiga em uma viagem a Catalunha, e enquanto colocava seus brincos ia pensando que valeria a pena enfrentar a friaca de Julho hoje à noite.

O telefone toca e ela sente uma preguiça inacreditável ao ver o número.

Diego? Tipo, sério cara? Lá viria algum convite direto para sexo ou meias palavras que no fim significavam a mesma coisa. Por que ele não me surpreende ao menos uma vez?

- Alô.
- Opa... eae?

(AI MEU DEUS...)

- Eaê cara. Tudo bem?
- Tudo. Qual é a boa de hoje?
- Ah, não sei ainda. Estou esperando uma ligação.
- Eu te liguei.

(PREGUIÇAAAA!)

- Então cara, tô saindo já. A gente se fala outro dia beleza?
- Poxa, queria te ver... Tô com saudades de ti.
- Por que não me ligou sei lá... Mais cedo ou semana passada?
- Porque você me disse que não curte os caras que ficam correndo atrás de ti.
- Disse?
- Aham.
- Então acho que você não me entendeu.

Ligação encerrada. Quase perde o ânimo, mas então se lembra do convite das meninas para a festa. Lembra-se do motivo de estar usando esse vestido lindo nesse frio absurdo. E tem certeza que assim que encontrasse com Letícia e aquele gato do Marcos a música iria fazer seu sorriso durar até o final da noite.

Marasmo (por Fernando)

- Pensei que você não ia chegar nunca.
- Gosto de fazer você esperar um pouco.

Fernando mal fechou a porta e já encostou Otávio contra a parede, adorava o modo que ele segurava a lateral de sua calça como se estivesse a ponto de tirá-la. Era a terceira noite que estavam se encontrando direto desde que convenceu-lhe a sair do trabalho direto para sua casa. Ele já estava ficando louco só de sentir sua barba mal feita.

- Acabei esquecendo de fazer. Quer que eu tire?
- Cala a boca seu sacana.

O sorriso era incrível e então ele finalmente estava atento ao saco de supermercado úmido e gelado colando a sua calça.

- Ah, trouxe umas latinhas. Deixo na geladeira?
- Aham. Vai deixando lá que vou atender o telefone um instante.

...

- Fernando tá de bobeira hoje?
- Ah gato, to aqui com o Otávio tomando umas cervas. Quer vir?
- Vocês querem ficar sozinhos?
- Claro que não! Basta vir.

...

- Aqui sua cerveja. Quem era?
- Um amigo meu. Acho que tá precisando de companhia.
- Amigo... Amigo?
- Não. O Diego é hetero. Um amigo das antigas... Por que você não pegou as tulipas?
- Porque você vai receber uma visita, então deixo nosso encontro para daqui a pouco.
- Você é tão lindo.
- Eu sei.

...

A campainha toca e Diego entra olhando meio sem graça para o garoto bem mais novo no sofá. Fernando sempre se envolve com esses tipos vez após vez, fica impressionado como aparentemente ele tem sempre mais companhia do que ele.

- Trouxe uma caixa de Heineken...

...

Fernando fecha a porta do quarto segurando o riso e olha Otávio tirando sua blusa de botões deixando a mostra a regata que ganhou de presente dele. Os ombros dele eram largos e de longe era o homem mais gostoso que já tinha pegado.

- Um dia você ainda me deixa sem graça com o jeito que você me olha.
- Não consigo te olhar de outro jeito. Ainda estou tentando entender a sorte de ter arrastado você para dentro da minha casa.
- Pensei que você tinha certeza do motivo. Pareceu tão seguro falando com seu amigo.
- Ah, pelo amor de Deus... Você sabe que não tem diferença nenhuma.
- É acho que não. Seu amigo não se importa de nós dois dentro do quarto?
- Não. Eu dividi o apartamento com ele durante a faculdade.
- Ah... então ele tá acostumado com universitários gritando e trepando como coelhos?

Ele tira a regata e abraça Fernando firme o bastante para que ele deixe escapar um gemido antes de morder seu queixo.

...

São duas da manhã quando Otávio sai do quarto e vê Diego deitado no sofá cercado de latas de Heineken. Volta para pegar um lençol e ao cobrir Diego ele acorda, ainda bêbado.

- Sou tão fracassado assim?
- Acho que somos todos.
- Homens?
- Humanos.

Risos

- Sabe... Fernando é um cara legal. Ele... Ele é difícil as vezes. Mas sempre tá certo sabe?
- Ele é sim.
- Acho que ele gosta de você.
- Gosto muito dele também. Mas você não tem como ter certeza sobre isso, estamos só curtindo.
- Não... Ele gosta de você. Gosta mesmo...
- Você quer água?
- ...
- Diego?

Marasmo (por Diego)

Hoje fez uma noite fria no final de Julho pela Asa Norte e Diego decidiu que ficar em casa assistindo seus filmes não estava servindo para nada além de câimbras e o início de uma depressão de merda.

- Vai fazer alguma coisa hoje?
- Ah, não sei ainda. Estou esperando uma ligação.
- Eu te liguei.

Engraçado quando um cara percebe que não é a prioridade de alguém. A maioria dos homens com quem conversava diziam sempre que jamais foram a segunda opção de uma mina e ele sabia que a maioria mentia.

- Fernando tá de bobeira hoje?
- Ah gato, to aqui com o Otávio tomando umas cervas. Quer vir?
- Vocês querem ficar sozinhos?
- Claro que não! Basta vir.

Fernando era seu melhor amigo desde os 15 anos. Foi a primeira pessoa que confiou um segredo a Diego, talvez por que ser gay de fato não era nenhuma surpresa.

- Trouxe uma caixa de Heineken.
- Vou colocando na geladeira. Otávio esse é o Diego, Diego esse é o Otávio.
- Olá.
- Prazer.
- Esse é o Diego, ele trabalha com o emprego mais chato do mundo então não vou ser mal educado falando isso.Fernando disse da cozinha enquanto buscava três latas de Skol.
- Todos os trabalhos são chatos na verdade não é? Eu trabalho no café Savana servindo mesas o que você faz?
- Sou funcionário público. Trabalho na...
- Sua cerveja querido. Ninguém quer saber o que burocratas fazem, mas nos conte, quem te deu o fora dessa vez?

Odiava parecer tão previsível assim.


- Não foi exatamente um fora.
- Aham... então sua ideia de diversão em uma sexta-feira a noite é conversar com seu amigo tomando uma cerveja?
- Qual seria o problema de tomar uma cerveja com os amigos? Preciso buscar uma balada todo final de semana, que saco!
- Diego... Te conheço desde moleque. Que tal você começar a falar logo? Não vou esperar você ficar bêbado, ainda quero transar hoje.

Algumas risadas

- Tá seu merda. Tô saindo com uma mina aí, ela é bem gata e sei lá... Queria apenas que ela pensasse um pouco mais em mim do que ela pensa nos demais, só isso.
- Tô saindo com uma mina aí... Assim você não me convence de forma alguma que ela vale a pena sequer eu dispor meu tempo em te ajudar. Essa racha tem nome? Rosto? Ou você já começou a diminuir a importância para ti? Se for assim, eu te aconselho a beber rápido, passar em algum lugar bacana com essas roupas caras que você adora e usar toda sua pose de macho alfa que você ama ser e esperar o sorriso da primeira pré-universitária que você fixar seu olhar.
- Olha eu não quero me intrometer mas concordo com o Nando. Ela é realmente importante para você?
- O nome dela é Carina e estou pensando mais nela do que eu deveria, acho que é isso.

...

- Queria que... Porra sei lá. Queria que ela tivesse me buscando sabe? Que eu fosse...
- O foco dela. A prioridade. Seu Senhor.
- Quê?
- Para de ser egoísta Diego. Se você quiser que a menina faça de você o seu foco, no mínimo você tem que oferecer algo para que isso aconteça. O que você tem oferecido para qualquer mulher nos últimos tempos?
- Vai a merda Fernando! Qual é cara? Tú por acaso acha que tem sido fácil ficar com qualquer uma dessas minas hoje em dia? Elas estão muito loucas cara, não querem nada com nada, ficam com qualquer maluquinho nessas baladas e rejeitam qualquer um que tente dar algo certo para elas. Tú não sabe nada de minas vai por mim! Andar com essas garotas e discutir sobre suas roupas e homens não te transforma em um especialista em mulheres. Ninguém vai entender uma mulher até comer uma. Elas são loucas!
- Sim elas são loucas. Claro que são! Imagine viver cercada de idiotas como você? Imagine não ter nenhuma outra opção já que toda sua carne, foco, mente, vida são voltadas a tentar entender o por que da atração por um gênero tão egoísta.
- Eu...
- Diego, eu me envolvo com homens há tanto tempo que sei exatamente o porque qualquer uma dessas meninas estão fugindo e preferindo continuar perdidas. Elas estão seguindo exatamente suas palavras. Elas preferem rejeitar qualquer maluquinho em baladas, já que elas não encontraram nenhum... meu deus como você é idiota... “algo certo” para elas. Entendeu?

...

- Toma mais uma cerveja gatinho. Fica a vontade, a geladeira tá aberta, só encosta a porta quando você for sair tá?