sábado, 15 de março de 2008

Orfãos

Na minha escola teve um menino que ficou chorando quando a sua tia veio buscá-lo ao invés de sua mãe. Ele ficou fazendo cena perguntando sobre por quê sua mãe não tinha vindo, se ela tinha se esquecido que havia combinado de levar ele ao parque depois da aula, gritava tanto que chamava a atenção de todo mundo que estava na saída. Sua tia tentava acalmá-lo, enquanto chorava tanto quanto ele.

Mas o moleque era um mimado dos mais chatos, chorava, gritava e batia as pernas como um louco, enquanto a tia implorava que ele parasse com aquilo.

“Tenho algo muito sério para te dizer Matheus... por favor, fique quietinho.”

Todos os alunos, pais, bedéus, professores e orientadores ficaram vendo aquela cena patética e balançando a cabeça. Até que sua tia exausta gritou:

“Seus pais sofreram um acidente de carro! Eles morreram Matheus.”

O portão da escola foi tomado pelo silêncio, senti minha mãe me segurando com força contra si, olhei para seus olhos e ela chorava enquanto me beijava. Sem entender direito comecei a chorar também.

Esse medo da perda, de ver uma criança desconsolada ao lado de sua tia, me fez querer estar mais perto de minha mãe. Sentia ela me segurando com tanta força que me machucava e não me importava.

Reparei entre todos os presentes, que os pais abraçavam seus filhos, do mesmo modo que minha mãe estava me abraçando. Naquele momento entendi, em partes, o que é ser parte da carne que representa nossos pais.

Uma criança largada e derrotada demais para continuar uma cena é algo terrível de se ver. Mas me assustou menos do que o modo que minha mãe suspirou antes de dizer que me amava. Como se a única parte da vida dela que importa, estivesse dentro de mim.