segunda-feira, 30 de março de 2009

Frases soltas

Chuva

Ouvir a chuva correr assim no final de uma tarde me faz esquecer um pouco a solidão. Solidão é o nome que as pessoas dão para café fraco em dias frios.

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O chapéu

Me apaixonei por um chapéu de veludo vermelho. Ele passou por mim e me encantou com seu tom e perfume. Tenho quase certeza que havia um lindo sorriso feminino abaixo dele.

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Gestos

O que você havia dito para mim entre seu movimentar de dedos e pequenos sons? Era algo sobre minha aparência, meu sorriso, meu olhar?

Queria apenas entender como consigo entender todos os sinais de seu interesse, sem perceber a juventude proibida para mim em seu rosto.

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Enterro

Aquele grupo de pessoas bem vestidas e conversando sobre animosidades deveriam realmente estar ali? Estava calor demais. Em todos os malditos filmes os enterros são durante alguma chuva torrencial, por que fazia tanto calor e estava com essas roupas ridículas e pretas?

As pessoas a olhavam com pena, passavam suas condolências e momentos depois comentavam sobre seus carros, empregos e contas. A vida continuava, isso era certo. Para todos, menos para o olhar triste mirando a caixa com o corpo putrefato que um dia a chamou de amor.

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Despedidas

Ainda tenho guardado a escova que você deixou em meu banheiro, não tive coragem de tirar do lugar pois espero realmente que venha buscar. Ela parecia ser importante para você, eu sempre gostei muito do modo demorado que escovava enquanto conversava comigo pela manhã. Bom de qualquer modo ela ainda está por aqui e quando quiser vir buscar...

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Borges

Gostava muito do modo como você lia Borges durante a madrugada. O vinho descia sempre mais macio ao som de sua voz bêbada me narrando a sujeira sacana dessas linhas.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Macaquinho vê, macaquinho faz

Ônibus cheio na volta para casa. Pessoas mal humoradas, outras olhando para a janela e uma maioria bufando e balançando a cabeça para qualquer coisa.

A mulher em minha frente se levantou, olhei para o lado vi a pessoa mais próxima de mim e indiquei a vaga a minha frente.

- Por favor.

Um momento de surpresa, um sorriso e então se sentou. Momentos depois o ônibus esvazia encontro uma poltrona e sento. Instante depois enche e uma mulher se aproxima me levanto e dou novamente a vaga.

Durante o restante da viagem pessoas sorrindo, um homem levanta, um segundo, até mesmo um terceiro com uma bolsa enorme cede sua vaga para um idoso que estava a sua frente.

Teste interessante é bom voltar para casa em um ônibus cheio de pessoas sorrindo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Despedidas - Parte final

O corpo amanhece com uma leve dormência entre a panturrilha e o braço com pequenos pêlos em volta do seu. Por um momento Paula se permite aconchegar entre a respiração suave em sua nuca e o leve roçar de seus lábios nas mãos que seguram suavemente seu pulso.

- Bom dia Alice.
- Bom dia.

O beijo em sua omoplata arrepia até sua cintura, pode sentir o calor do corpo do menino com quem passou a melhor noite de sua vida. Agarra com força seu antebraço e então beija com uma enorme pressão a mão que a segura. Um beijo de medo, de saudades e que faz tremer seus lábios.

- Não vou a lugar nenhum.

Ela se vira e beija o menino com lágrimas correndo com força, o abraça com medo e chora em prantos enquanto encosta sua testa no peito que bate acelerado.

- Eu que estou indo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Despedidas - Parte 2

Ela estava se divertindo de verdade. Diante de um monte de pessoas e aromas, com sua cabeça leve, sorriso no rosto coberto de suor e olhos castanhos voltados unicamente para ela, cercando e sorrindo enquanto a música aproximava para um beijo que nunca era dado.

- Vou pegar uma cerveja para nós.

Uma menina estava olhando para ela sem parar, estava achando graça de chamar atenção de uma mulher enquanto não tinha nenhum olhar de interesse com o homem que dividia uma cama. Bastou uma noite para ser o interesse de um jovem e uma mulher de olhos mal pintados.

- Não está muito gelada.

Achou graça do copo plástico, morreu de rir enquanto via o garoto dançando com um copo na mão e a garrafa enorme na outra.

- É a minha Long-Long-Neck. Normalmente eu bebo direto na garrafa.

A dança era frenética, seu coração estava disparado e sentia sua mão fria. O fumo começava a bater forte demais, estava se sentindo claustofóbica e idiota.

- Preciso subir um pouco.
- O quê?
- Não estou bem, preciso de ar.
- O que você está sentindo?
- Vou subir.
- Alice espera aí.
- Meu nome é Paula! Estou me sentindo mal porra. Vou subir.

Por um momento ela se sente uma idiota, é apenas uma leve síndrome de paranóia por conta do fumo, teve tantas vezes quando era adolescente que já esqueceu. Bastava lavar a nuca, comer alguma coisa doce e relaxar um pouco.

- Você está melhor? Toma aqui uma coca-cola.
- Obrigada. Desculpa por gritar com você.
- Sem problema.

O garoto massageia a nuca dela, o suficiente para um arrepio e se sentir notada e querida por uma pessoa. O pensamento que faz com que incline a cabeça e o beije. Sentir seu hálito e uma mão a aproximando do corpo dele. O coração dela dispara.

- Quero sair um pouco daqui.
- Tudo bem, quer que eu dirija?
- Sim, não sei onde você mora.

O caminho para destino incerto, é assim que Paula fica cantando dentro de sua cabeça e a idéia a excita, sabe que depois de oito anos irá transar com outro homem, mesmo que esse ainda não seja um homem completo a idéia é o bastante para se sentir bem. Quer esse garoto, quer ser o desejo dele desta noite, sua vitória.

- Fique a vontade, vou colocar um som.
- Sem som. Me beija.

Ele a toca como ela imagina que seria, mãos trêmulas que a anos ela esquecera tocando seu corpo e despindo acelerado sua roupa, a análise é tão simples. Esse garoto vai terminar o sexo em dez minutos ou menos.

Mas ela se equivoca. Ele a completa por uma noite, a toca como quem está recebendo o melhor dos presentes, a chupa sem presa e com tanto desejo que a faz chorar no primeiro orgasmo. O restante da noite são toques, carícias e a certeza que teve a melhor foda de sua vida. Ela deixa marcas, urra e dorme exausta.

continua...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Despedidas - Parte 1

Por quantas noites essas discussões seguiam? Realmente valia a pena esse desgaste do que tentaram criar durante cinco anos juntos, valeria cada discussão final que sempre se repetia terminado com um sexo que servia de desculpa pela tensão criada pelos momentos não vividos?

- Estou saindo.
- Você vai voltar amanhã Paula. Você faz sempre essa cena e volta para continuarmos de onde paramos.
- Pode ser que quando eu volte você não me queira aqui, ou talvez não me reconheça.
- Como assim?

Ela apenas fechou a porta para curtir, com roupas curtas, uma noite de verão do início de março em Brasília. Eram umas onze da noite e queria pegar o carro e dirigir pela cidade, queria sentir que poderia apenas rodar a noite inteira sem se preocupar com o celular tocando.

Passou correndo pela rodoviária, hoje era quarta-feira e poderia arriscar o Balaio, quem sabe encontrava algum menino de cabelo bagunçado e barba por fazer, do tipo que sentia saudades de marcar sua coxa ou buço como Henrique antes de passar no STJ.

Fez a curva ao passar correndo pelo setor bancário e viu a rua um pouco mais vazia que o habitual para o Balaio, será que estava deixando de ser moda ou ela estava realmente perdendo todas as oportunidades das semanas que se passaram? Estacionou o carro dentro da quadra e foi caminhando por entre os blocos e árvores.

- Ow, gatinha. Tem fogo?

Um grupo de meninos, deveriam ter uns 20 anos no máximo, estavam juntos perto de alguns carros. Podia ver de longe a aglomeração maior de pessoas do lado de fora do Balaio.

- Tenho sim.
- Quer dar umas bolas?

Fazia quanto tempo desde que não fumava um baseado? Uns dois, três anos?

- Quero sim.

A fumaça veio com uma ponta úmida com gosto de cerveja, deixou sua cabeça leve após receber em sua mão pela segunda vez.

- Essa pedra brasiliensis é foda.
- Fica quieto cara, olha só a mina tá chapadona.
- Tú tá de boa?
- Não. Estou mal para caralho. Mas quer saber? Foda-se.

Sentiu uma mão em seu ombro e olhou um garoto bonito de olhos castanho e avermelhados olhando para ela com uma expressão mais séria.

- Fica tranquila. Qualquer coisa eu posso te dar uma coca ou uma conversa o que você achar melhor.
- Quantos anos você tem?
- Tenho 20, mas essa pergunta é por ter me achado interessante ou apenas para saber se posso ter algo a acrescentar em uma conversa?

Não pode evitar sorrir, estava alegre não estava? Era a maconha? Era ela?

- Vamos entrar e dançar um pouco?
- Faz tempo que eu não danço.
- Não tem problemas, é apenas música. Não tem como errar.

Sentiu as mãos a guiando para dentro do Balaio, atravessou a rua olhando para as pessoas a sua volta, todas bonitas, coloridas, uma camiseta com a marca Atari e um gordo conversando com um cara de costeletas sobre o super mário comer cogumelos.

- Estou com nome na lista. Sou Fernando Nider.
- É cinco contos.
- Toma aqui 15, minha parte mais a dela.
- Pode entrar.

As escadas estavam mostrando música abaixo, cheiro de cigarro, de maconha, de cerveja derramada, perfumes e gente dançando.

- Seu nome é Fernando Nider?
- É sim.
- Meu nome...
- Vou te chamar de Alice tudo bem?
- Alice?
- É hoje você é Alice.

continua...