quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Organograma


Olho atentamente para o círculo em azul em volta do dia 31 de janeiro de 2013, hoje foi a data que marquei para morrer.

Faz exatamente três meses que pensei pela primeira vez em acabar com a minha vida. Olhando para trás vejo que a expectativa sobre as festas de final de ano fora demasiado pretensiosa. O mês de janeiro acabou e estou com a ferramenta necessária para acabar com todas as dúvidas.

Investir um pouco de dinheiro todo o mês para comprar uma Taurus calibre 38 talvez tenha sido meu único projeto bem sucedido. Irônico notar que entre pagar as contas, comprar meus remédios, uma prostituta e assistir dois filmes, existiu uma reserva para comprar a arma de um desconhecido que aumentou o valor na última semana.

A prostituta. Algumas pessoas acreditam realmente que suicidas são pessoas tristes, amarguradas e que provavelmente são carentes de amor em suas vidas. Não é o meu caso. Não tenho nenhuma tristeza, amargura e falta de amor acima da usual urbana. Decidi trepar com uma prostituta pelo simples motivo de saber como era trepar com uma antes de morrer. Simples assim.

Pensei se deveria escrever uma carta, mas mudei de ideia ao pegar a caneta. De que valeria deixar algo se ninguém leria? Realmente gostaria de meus esforços tão ridículos em um talento que jamais possuí fosse ainda mais medíocre sendo lido por um policial ou um legista? - “Deixo aqui... bla bla bla... o mundo é cruel... bla bla bla... Sou um derrotado! Deixa isso para lá, o que temos para almoço?” - Não, prefiro deixar apenas uma sujeira no chão e com sorte manchar uma barra de calça desses prestadores de serviço.

Coloco as seis balas dentro do revólver e sinto o seu peso em minha mão. É uma arma pequena, mas parece realmente poderosa. Uma pressão e tudo acaba. Não a toa que tantas pessoas são assassinadas todos os dias, o controle de uma vida no contrair de um dedo. É impressionante.

Abro a minha boca, sinto o ferro gelado de encontro com minha língua e sinto o bater suave nos meus dentes de baixo. Jurava que estaria trêmulo, mas acho que isso significa que estou realmente pronto. É como sempre me disseram que seria uma sessão de Yoga, estou em paz. Encontrei Buda dentro de minha boca.

Um pensamento engraçado passa por minha cabeça e não consigo evitar de sorrir. Será que sentirei o gosto da pólvora?

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ecos



Avisos são como ecos quando se está sozinho. Você os escutou durante alguns anos e meses até que tudo o restou são as memórias do que foi dito e não feito.