segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Retrospectiva

Duas paixões, uma despedida, em forma, alguns problemas de saúde, risadas, samba, de volta ao plano, desenvolvimentos pessoais, recuo do cabelo, um pouco mais de dinheiro, algumas dívidas, drogas para momentos alegres e tristes, uma lágrima, novas cantoras, experiências, fios brancos, troca de tons, orgasmos intensos e fracos, encarando meu pai como amigo, beijando minha mãe, sentindo saudades do Rio, absorvendo arte em várias formas, poucos filmes bons vistos, reunião com amigos, boas conversas, mulheres dizendo que me amam, mulheres dizendo que me odeiam, dormindo na rua, olhando pessoas pela rua, rugas, admirando paisagens, suspiros longos, gargalhadas, livros parados na metade, 165 textos publicados, músicas que sempre lembram alguém, a certeza que alguns sorrisos sempre me encantam e que o passar dos anos é necessário.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um homem sem fé

Minha mulher estava estava debaixo de um saco plástico preto e surrado. Sua perna estava com marcas e o sangue pisado estava preso em uma mecha de seu cabelo, estranho como conseguimos diferenciar sangue coagulado em um cabelo negro a noite, os policiais me diziam que ela provavelmente havia sido estuprada.

A menina caída a alguns metros a frente era minha filha, digo que era não pelo fato de estar morta e sim pelo rosto disforme que foi visto por mim quando levantaram uma página de jornal que rasgou por colar em seu sangue.

...

Estou olhando um homem pregado a uma cruz durante três horas.

...

Na mesa de um restaurante vejo pessoas conversando, sorrindo, um casal apaixonado se beijam e uma senhora diz adeus a sua filha.

- Vá com Deus minha filha.

Eu disse isso a minha mulher e filha quando me despedi delas na sexta-feira. Olhei o rosto das duas no domingo. Elas estavam sozinhas quando acontecera ou estavam com Deus?

...

- Meu filho, sua dor é grande, mas Ele tem seus planos. Todos nós partimos de alguma forma. Elas estão na graça de Deus.
- Estupradas, espancadas, fatiadas e mortas. Esses são seus planos para duas pessoas boas?
- Quem age desta forma são os homens. Eles pecam, não Deus.
- E Deus pode perdoá-los?
- Deus perdoa a todos que abrirem seu coração.

...

Um tiro na joelho e vários cortes pelo corpo do sacerdote. Creio que ele demorou uns 40 minutos para morrer. Estava gritando, chorando, implorando e blasfemando.

40 minutos para um homem de Deus morrer e mesmo assim Deus não estava ao seu lado. Deus não intercedeu por ele, não intercedeu pela minha mulher e não intercederá por mim.

Aponto a arma para minha cabeça.

- Quero ver o que tem a me dizer, seu filho de uma puta.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Medidas

Meninas reunidas em uma mesa de bar enquanto o sambinha ao vivo toca animado. Uma delas estava gargalhando até um rapaz passar por elas e com um sorriso sem graça cumprimentar as duas na mesa e parar um instante, deixando claro um ar incomodo ao focar uma em especial.

- Tudo bem Fernanda?
- Tudo.
- Difícil te encontrar viu?
- É? Ando nos mesmos lugares de sempre.
- Pode ser... Bom, nos vemos por aê. Inté.
- Inté.

...

- Vocês terminaram há quanto tempo mesmo?
- Quase um mês.
- Você está bem Fê?
- Ótima.
- Vou pedir mais uma cerveja.
- Sabe o que me irrita? Éramos amigos antes. Porra, sempre estávamos fazendo tudo juntos.
- Normal Fé.
- Normal um cú Beatriz!
- ...
- Sou amiga de um cara massa. Curto ele horrores e parece que só porque eu resolvo chupar o pau dele, ele não consegue mais me cumprimentar como uma pessoa ao terminarmos.
- Eu te avisei. O Jorge não sabe se envolver com ninguém. Você mais do que qualquer uma deveria saber disso.
- Cara, não quero transar com ele, não estou pensando em voltar para ele nem nada do tipo. Apenas não quero ser tratada da mesma forma que ele trata essas retardadas que ele pega.
- Há, há, há. Mas você foi Fé. Esquece isso.
- Como é que é?!
- Querida acorda! Lembra quando ficamos ouvindo as histórias das meninas do Jorge? Fulana manda mal nisso, é grudenta demais, preciso de espaço e o caralho... Fê, fiquei ouvindo isso sobre ti durante toda as últimas semanas de namoro de vocês.
- ...
- Jorge é lindo, um fofo com as amigas. Mas basta entrar em uma mina para se tornar um idiota completo. Vai por mim Fernanda, eu jamais abriria mão das conversas que posso ter com ele por 19 cm de pau.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Brasília me envergonha

Fui ao meu primeiro show da Maria Rita ontem à noite. A turnê da nova queridinha da MPB é focada no samba em uma voz maravilhosa e um molejo de quadris que fizeram a ala feminina gritar GOSTOSA deixando qualquer homem tímido para tentar estar um tom acima aos elogios.


Era uma homenagem as vozes de São Paulo. Abrindo com os Demônios da Garoa, que conseguiu me fisgar de vez com a simplicidade e carisma de palco, o louco de pedra do Jair Rodrigues (que me levou as lágrimas com Romaria) e a esperada da noite abrindo às 23 horas Maria Rita, que me transformou de ouvinte a fã sem nenhuma dificuldade.


Um festival de bom som, qualidade, humor e a certeza de que essas pessoas nasceram para a música, vivem dela e não envelhecem como a maioria de nós infelizmente virá a envelhecer.


Quando digo a maioria de nós, digo o público que assistia sentado (alguns dormindo) em desrespeito a um som que foi criado para salões abertos e sapatos que deslizem pelo chão. Ao suor que desce em uma nuca morena e no abraçar colado daqueles que sabem que algumas músicas foram criadas para eles e que se dane quem esteja em volta.


Um artista pedir para a platéia se levantar é uma ofensa. É a prova que o público pagante (vide a primeira geração brasiliense) deveria deixar a nostalgia de lado e fazer que seus corpos acordem doloridos na terça-feira, que acordem sem voz, mas que dancem porra! Afinal, isso é samba.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Bailarina

Renata gostava de dançar sozinha em seu quarto apenas de blusa e calcinha. Girava pelo cômodo em uma dança frenética e animada, mexendo com velocidade o cabelo e com malemolência os quadris ao ritmo do som animado e dançante as duas da manhã.

Perdera a conta de quantas vezes os vizinhos batiam abaixo de seus pés. Achava graça na verdade, era como um parceiro solicitando um desafio ao som de seu solado, que magistralmente pousavam como resposta.

Quando ia as festas os meninos sempre se aproximavam, perguntavam se poderiam dançar com ela, alguns dançavam em sua volta e desistiam quando percebiam que estavam dançando sozinhos. Isso incomodava a eles, mas para a bailarina solitária era como todo o restante a sua volta, apenas paisagem.

Ela e o som eram amantes. Era dele que ela buscava o calor que as suas amigas buscavam nos corpos. Era dançando que ela beijava, transpirava e fazia amor. Era o orgasmo sem egoísmo, sempre ao seu modo e sempre intenso.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dia de samba ou dia do samba?

Estou me emocionando fácil por tudo que bate, vibra, movimenta quadris de moças e criar suor hoje. Acordei ouvindo sambinhas. Passei o dia ao som de Noel e entrei a tarde com Moreira, Clara Nunes, Paulinho, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Chico Buarque, Bezerra, Cartola e hoje no desânimo que me atingia pelo morrer do samba... vem em vozes novas de Maria Rita, Mart’Nália e Marcelo Camelo (ponto para você Mah).

Adoraria ser um mestre do bom som como meus amigos. Tenho para mim dois grandes guias que não somente gostam de samba, mas tem em seu dia-a-dia, sua pessoa e modos tudo que ele compõe. Deve ser por isso que gosto tanto dos dois e vivo aprendendo um pouco a cada encontro.

De Gabriel meu irmãozinho de Panamá, carrego com orgulho os passos do “tranca”, no bebericar da cachaça, o cortejo maroto para as moças e o som matreiro de Moreira da Silva e o poeta da Vila marcado para sempre no nome Noel.

De Maíra Brito... Ah, essa mulher é o samba de uma forma que apenas as mulheres são. É o sorriso, molejo, graça e sagacidade em respostas. É quem me passa Vanessa da Mata, Mart’Nália, Cartola e até mesmo me convenceu a parar de olhar torto para o Camelo.

O samba é meus amigos mais próximos, é rir, dançar, beber cerveja em bares, nas umbigadas com namoradas e sentar na mesa do Tartaruga com os amigos de minha mãe, bebendo cerveja e dançando até ir dormir com o ritmo latejando em minhas coxas.

É um dia em homenagem ao samba e principalmente para uma menina ruiva que dividiu sua vida comigo por três anos e me mostrou que minha cidade estava dentro de mim, mesmo me escondendo dela em flanelas e pôster de bandas.

sábado, 29 de novembro de 2008

Onda do Marcelleza

Saca só a do marcelleza...

Quem seria o melhor papel para o Wolverine? Tinha que ser um coroa com cara de malvado, treta, que diria o seguinte:

- Olha aqui seu filho da puta (tira uma garra do dedo indicador), vou te furar seu safado!

ao invés de...

- Ei eu sei que você sofre como eu com a falta da Je... Resumindo.


Hugh Jackman ou Joe Pesci


X



Mais uma vez, o marcello provou que deveria ser roterista nos EUA ao invés de Esperto no Brasil

devo ressaltar que não estávamos em nosso juízo perfeito na publicação desta. rs (o autor)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Amendoeiras


Senti o aroma de amêndoas quando fixei meu olhar no aguar dos olhos de minha amiga, quando fez seu comentário.

“Vejo o Rio como um amante.”

O ano está acabando e os convites vêm de todos os lados. Minha prima, as amigas dela, minha avó, minha família e começo a perceber que os paralelepípedos com suas frestas ocupadas com caroços de amêndoas também.

Disse para mim mesmo que irei abolir o ritual sacrificado de despedir-me do Rio que todos os anos faço do mesmo modo. O sentar nas areias de Copacabana, que descobri ontem ser um plágio made in Brasilis, olhar o mar e chorar copiosamente.

“Meu filho se quiser voltar para o Rio, podemos dar um jeito enquanto procura como se estabilizar.”

Essas sempre são as palavras da mulher que mais amo desta família. E sempre grito dentro de mim para ficar calado e não deitar em seu colo pedindo sua benção.

“Ficarei bem Dona Ana. Nos vemos no ano que vem. Vó...”
“Também te amo meu filho.”

Crescer e ser criado no Rio de Janeiro é saber o que é cruzar o aterro do Flamengo aos gritos com seus primos atrás de ti em um pique-pega. É fazer da praia castelinhos de areia e água. Caçar Tatuís após a chuva. Receber bom dia de todos que passam perto de você. Pegar ônibus sem blusa e pingando de sal. Entrar no shopping para fugir do calor. Noites sem fim e amanhecer de preguiça no ar condicionado. É olhar as amendoeiras cobrindo o chão em um misto de areia, vãos e flor.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Flagra

O marido, esse termo é melhor que o nome, fica sentado olhando para uma peça em cima da mesa. É um pequeno cavalo em pedra-sabão e ele se concentra no desfazer do objeto em uma pequena farinha soltando em seus dedos.

- Amor, cheguei.

A esposa, vocês entenderam sobre o nome, deixa sua bolsa na mesa de centro e nota que algo aconteceu.

- Tá tudo bem?
- Eu entrei no quarto da Pricilla sem bater na porta. Eu simplesmente esqueci de bater na porta.
- Ah, ela brigou com você. E com razão! Ela é uma adolescente, pelo amor de Deus! Precisa de intimidade e espaço. Eu mesma ficaria muito...
- Ela tava transando.

...

Duas taças de vinho e um casal conversando sobre o tema que não era discutido ou vivido em suas camas a mais de dois anos.

- Onde ela está?
- Saiu alguns minutos depois. Obviamente sem falar comigo.
- Bom não iremos criar um drama desnecessário. Eles estavam se cuidando?
- Desculpe, do angulo que eu os vi não consegui reparar.
- Não precisa ser grosso!
- O que você quer que eu diga? Que caralho!
- Era com o Mateus?
- Quem é Mateus?
- O namorado dela!
- Aquele de rabisco no pescoço?
- Esse mesmo.
- Era ele sim.
- Menos mal.
- Céus... Nunca pensei que aquele menino de maquiagem gostasse de mulher de verdade.

Mas alguns minutos de silêncio constrangedor e metade da garrafa se foi.

- Lembra quando tinhamos a idades dos dois?
- Eu pelo menos respeitava a casa dos seus pais.
- Nem sempre...
- Do que você está falando?
- Lembra da Páscoa?
- Quando o teu pai mandou eu ir arrumar a instalação?
- Aham. Lembra que eu fui com você.
- Foi a primeira vez que você me chupou.
- E a primeira que engoli também. Você deveria ter me avisado.
- Não ia perder a oportunidade.

Olhares, um gole rápido no vinho e a certeza de um belo ato independente da idade quando é feito com vontade.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um lugar

Queria apenas deixar as coisas para trás. Marcar alguns detalhes com meus amigos, com aqueles que prezo, findar contas, deixar algo para ser imortalizado e partir.

Estou de olho em um cenário, uma lagoa azul com montanhas ao fundo e um céu sem fim. Incrível como me parece convidativo simplesmente apagar todos os detalhes da rotina e me isolar em algum canto, onde talvez possa sentir o mundo falar comigo.

Quero o som das árvores, quero o criptar da chama, uma água gelada de fazer o coração disparar ao entrar, escolher apenas uma direção para seguir caminhando, olhar o anoitecer e me cercar de um teto sem limites.

Talvez assim, no meio do todo, eu possa entender o significado completo de estar só e você seja uma lembrança entre várias outras de um local deixando para trás.

sábado, 15 de novembro de 2008

Deixe estar

- Pode cortar uma lasca dessa pedra para mim vovô?

O senhor sorri para a menina.

- Querida, essa pedra é uma ametista. Ela é composta de vários pedaços e creio que seus pais gostem dela por inteira.
- Eu não. Quero um pedaço dela.
- Por que destruir uma peça tão bonita?

A menina perde a paciência e empurrando a pedra da mesa, o som do partir em vários pedaços se espalha pelo escritório silencioso.

- O que você acha que fez mocinha?! - O avô segura com força a neta pelos braços.
- Queria apenas uma lasca vovô. Quem partiu a pedra em vários pedaços foi você.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Come Alway Melinda




Daddy, daddy, come and look
See what I have found
A little ways away from here
While digging in the ground

Come away melinda
Come in and close the door
It’s nothing, just a picture-book
They had before the war

Daddy, daddy, come and see
Daddy, come and look
Why, there’s four or five
Little melinda girls
Inside my picture book

Come away melinda
Come in and close the door
There were lots of little girls like you
Before they had the war

Oh daddy, daddy, come and see
Daddy, hurry do
Why, there’s someone
In a pretty dress
She’s all grown up like you
Won’t you tell me why

Come away melinda
Come in and close the door
That someone is your mummy
You had before the war

Daddy, daddy, tell me if you can
Why can’t things be
The way they were
Before the war began

Come away melinda
Come in and close the door
The answer lies in yesterday
Before they had the war

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Crença

Sou a descrença. O olhar de desdém para os céus em busca de respostas para o dia-a-dia, para o sofrer, a alegria e a necessidade de não sentir que algo, alguém, Deus olhe por mim, por meus passos e por aqueles que eu admiro e julgo importante para sentir completo e repleto de vida.

Por que acreditar em Deus? Por que não seguir o fluxo de diversas religiões, diversas pessoas. Tantas que parecem tão certas e tão seguras de si. Em paz. Elas parecem tão certas em relação a suas crenças.

Então sorrindo percebo que não poderia compreender o conceito das ovelhas, do sacrifício por nada que eu não ame. Não amo o que não posso ver, tocar, sentir ou provar. Sou refém dos meus sentidos: sou limitado a uma imaginação que abraça universos, intelectuais, ciência, arte, povos e culturas, mas que não consegue olhar para a humanidade como um todo e esperar algo mais do que já somos e do que podemos vir a ser por conta própria.

Sou um amante do ser humano. Acredito em tudo que está dentro dessa bola de lama perdida entre planetas, gases, vácuo e estrelas. Acredito em qualquer coisa distante e fora daqui, mas não em Deus.

Mas uma das suas tem me provocado. Tem sido uma pequena Eva, carregando a própria maçã em seus lábios, com algumas palavras entre olhares.

“Por quê?”

No estalar de um beijo e nos olhos que obrigam minhas convicções serem mais fortes, eu sigo nesse jogo contraditório e perigoso.

Não tenho fé em teu Deus. Não tenho fé em mim, perto de você. Mas tenho por ti minha cara e como tenho.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Arritmia

A anfetamina não meu deixou dormir direito. Rolei de um lado para o outro da cama, coração disparado e suando em bicas.

"Culpa da anfetamina. Já tomei dois banhos. Relaxe, tente dormir."

Lembro de virar o copo com o café gelado e olhar a expressão congelada do não no rosto a minha frente.

"Putz cara... Você bebeu minha poção."

"O que tinha aqui dentro?"

A noite insone. O virar para os lados, o lembrar da porcaria da conversa que não some de jeito nenhum.

"Me liga amanhã."

Já são meio-dia. Meu telefone não liga, nenhuma Lan aberta, não posso comprar um cartão e tão pouco ligar a cobrar.

"Você é furão demais cara. Isso enche o saco."

Fico pensando, juntando as peças. Isso foi de propósito. Sabe que não teria como ligar, eu havia dito. Por que pediu?

"Nós estragamos tudo."

Concordo. Um dia comendo, lendo, malhando e vendo televisão me mostra que estou inquieto, irritado, incomodado. Não posso criar relacionamentos. Não seria fiel em nenhum parâmetro.

"Você me pediu em casamento bêbado. Se eu tivesse aceitado o que diria? Que foi um erro?"

Quarenta flexões, setenta abdominais, trinta barras e mesmo dolorido não consigo esquecer o cheiro, a textura e o desespero de não sentir seu gosto a quase um mês.

Deve ser culpa minha. Eu afasto propositalmente quem é importante de verdade. Preciso sofrer. Esse é o grande mistério. Sofrer para não assumir.

"Não deveria deixar os rastros das pessoas com quem você dorme. Acha que isso não me incomoda?"

É a anfetamina. Ela não me deixa parar de pensar. Me deixa com sede e faz linhas surgirem e sendo enviadas antes de serem lidas.

"Nós estragamos tudo."

...

"Exatamente."

sábado, 1 de novembro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Calor

Banho frio e pele queimando. Febre ao caminhar apenas pequenos passos no dia-a-dia, sol aberto e a pino. Sorrindo quando alguém diz que está muito bonito bronzeado, esqueça a falta de ar nesse abafado estado de derreter e perder os sentidos.


Brasília, as novidades pela televisão são as menos originais, todo dia é o dia mais quente desde sei lá quando dos anos 90, 80, 70 e agora 60. Parece que todos viviam em um período mais quente que esse deserto louco, sem mar, lagoa potável e clubes sem crianças e uma penca de pessoas buscando o mesmo alívio, em trajes ultrajantes.


Vontade de beber, de tomar sorvete, de trepar e cair cada um para o outro canto sem nenhum pudor ou conceito contrário a intimidade. O calor ajuda ao desligar da etiqueta do abraço ou do afago, suando em bicas a menina embaixo de mim implora para que eu termine logo.


“Eu já gozei gatinho, por favor termine.”


Banho frio e demorado, beijo quente e acelerado. Mais uma ida aos lençóis empapados e a certeza de uma repetição hipnótica e embaçada ao calor que insiste em humilhar o ventilador na potência máxima.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Falha de comunicação

Um cliente em Taguatinga para reunião sobre orçamento.


- Onde é o endereço por favor?

- Fica na QNE.

- Ok, as nove horas nos encontramos em sua loja.


Miseravelmente acordo cedo e espero na parada o ônibus que me mandaram pegar.


- Você tem que pegar Taguatinga Centro.

- Okei.


Entrando no ônibus você já começa a ter a certeza que te indicaram o ônibus errado.


- Pára na QNE?

- QNL?

- Não QNÉ.

- QNL?

- Q... N... Ê.

- L?

- As vogais. A, e, i, o, u. E de vogal.

- Passa sim.


Com a cara emburrada da cobradora já sei que me fudi. O ônibus vai seguindo e vou percebendo que conheço o lugar que ela me mandou descer. Minha amiga mora aqui.


- Senhor. Aqui é a QNL não é?

- É sim.

- Merda. Fica muito longe a QNÉ?

- QNL?

...


Pego um ônibus e pergunto se esse cobrador sabem onde fica a bendita QNÉ. Parece que sabe, fica em Taguatinga Centro.


Por acaso essa cidade tem dois centros ou eu realmente poderia ter ficado na primeira parada? Desço de novo e me mandam eu pegar outro ônibus.


Resolvo perguntar a um velho caminhando, algo em mim me faz pensar que idosos são mais pacientes com idiotas, e talvez ele tenha quase nascido aqui.


- Senhor, bom dia. Estou meio perdido. Poderia me dizer a direção da QNÉ?

- Da QNÊ?

...


O bom senhor diz que é muito longe e que devo pegar um ônibus que dá a volta em Taguatinga inteira. Pelo menos é apenas R$ 2,00.


Quando chego na bendita QNE percebo que o ônibus fez um circulo, deveria apenas ter atravessado a comercial a pé mesmo e o cobrador concorda.


- Por que não foi a pé?

- Um senhor disse que era longe.

- Esses velhos...


Agora procurando a bendita loja, logicamente sem sucesso, já tomei tanto sol e dei tanta volta que não sei mais onde é Leste, ou Oeste.


- Preciso ir para a QNE 1.

- Segue nessa direção (apontando para o meio das casas) que você encontra sem erro.


Nesse momento tive um estalo. Vou seguir andando a esmo, para ser mais preciso a direção oposta do cara que me indicou. Resultado? Achei o bendito lugar.


Qual é o problema com as pessoas? Desta vez, esqueci meu gene Y e pedi informação com o X que sobrou e nada? Uma pegadinha com turistas? Que saco! Ganhei um bronzeado e perdi dinheiro. Mas a reunião foi boa.


Cuidado com o uso do É e do Ê em Taguá meus caros.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Refém das camêras

De um lado Lindemberg e do outro os "Alemães" de Sampa. A história todo mundo já cansou de ver em noticiários, jornais, mesa de bar e na copa do trabalho.

Pobre menina, pobre rapaz apaixonado, pobre polícia mal preparada. Quer dizer... Ninguém diz pobre polícia. A polícia é a culpada a eterna culpada.

Se invadisse e matasse o jovem transtornado seria dito nos noticiários: "A polícia agiu corretamente? Deveria ter sido esse o fim? Deveriam ter buscado ajuda psicológica? Como amor vira tragédia?".

Mas mataram a pobre refém. De novo.

E todos dizem. "Mas quem atirou foi o sequestrador. A polícia entrou após o tiro. A escada sendo posicionada logo depois prova isso". Peraí... A escada sendo posicionada? Eu sei disso? Um mero espectador desse circo todo sabe que a polícia estava com uma escada do lado de fora?

Culpem a porcaria da polícia por botar de volta a amiga dentro da casa, pela demora, por não ser a SWAT e o que mais os noticiários quiserem dizer.

Porém um ponto me fez pensar. Não sou nenhum especialista tático, mas nunca joguei Poker deixando minhas cartas a mostra.
Será que podemos, uma só vez, culpar as pessoas certas?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Fundidos

- O conto do soldadinho de chumbo sempre mexeu com minhas ilusões do que seria um relacionamento.

- Naturalmente trágico por assim dizer?

- Além disso. Existe um aceitar das imperfeições dos demais, encarar a fidelidade, enfrentar rivais, buscar retornar para quem se ama.

- Mas você esqueceu que os dois morrem no final?

- Eles não morrem. São brinquedos, objetos. Se fundem ao tornar-se um coração de chumbo.

- ...

- Essa é a mais linda história de amor contada para crianças.

Ela me dá um beijo doce.

- Ou para adultos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Horizonte

Bebidas por favor. Mais uma dose para sorrir, mais uma dose para tentar chorar, mais uma dose, por favor. Afinal, meu irmão está seguindo seu caminho e levando um pedaço de mim consigo.


Vou lembrar com certeza que dividimos um apê fudido no Cruzeiro, que para enganar a fome comíamos arroz com cenoura feita sem óleo e batatas como a base “forte” da alimentação. E sorria sempre que me lembrava de Cowboy Bebop ao olhar para a geladeira e ver os dois bebendo sem um puto.


Acho que comecei a beber de verdade ao andar com esse alcoólatra. Na verdade não somos mais por ganhar pouco, o dia que começar a ganhar muita grana iremos morrer com certeza.


Terras frias e cinzas estão à espera. E é irônico que ultimamente tenha sentido tanto frio por aqui, mesmo no calor.


Existe um medo, óbvio que existe! Quando alguém que você gosta vai embora, você fica assustado. O mesmo clichê de andar olhando para os lugares que freqüentaram e não deixar de esquecer, infelizmente não serve apenas para nossas meninas.


Amadurecer é uma merda. Queria pela primeira vez o sentir da adolescência de novo. Onde esse cara que é era apenas um magrelo de cara esquisita, ia a minha casa e ficávamos brincando de tomar porres, rindo, vendo animes e jogando RPG.


Pagar contas, crescer, buscar sonhos e ser ambicioso estraga tudo e mata a gente de saudades. Que merda. Odeio conhecer gente inteligente! Odeio chamá-los de irmãos! Odeio dever ser quem sou! Odeio ser a porcaria de um pisciano viadinho que não consegue esconder o quanto está dolorido com essa merda toda!


Aê vem aquele imbecil e te olha nos olhos dizendo que vai dar tudo certo e você sente, como sempre, que ele está certo e desencana. Ri, porque tem motivos para estar triste. Porque olha em volta e nota outros olhares sentindo o mesmo e o vendo em várias outros ângulos que você mesmo não conheceu dele.


Vamos todos beber saindo daqui, pelo amor de Jah! Que o Barahona faça uma boa viagem, ele apenas indicou o caminho marujos. Um dia será nosso momento de seguir viagem.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Beirute Asa Norte

Estava ali sentado umas 21 horas mais ou menos. Pensei em comer um quibe recheado e tomar uma Antártica antes de ir para casa. Era perto e talvez não chovesse hoje, poderia ir andando mesmo, isso daria a coragem de pedir mais uma garrafa, caso descesse bem a primeira.


- Tio. Me paga um quibe.


O garoto carregava um monte de panos debaixo do braço e colocou sobre a mesa enquanto esperava minha resposta para essa intimação juvenil.


- Estou sem trocado.

- Põem no débito junto com o seu.

- Garçom, trás um quibe pro garoto aqui.

- Pede um refri também tio.

- E um refri.


Ficou esperando mexendo nos panos enquanto eu tomava minha cerveja e olhava para os lados. Algumas meninas olhando para a mesa, mas com certeza por conta do menino.


- O tio gosta de homem né?

- Quê?!

- Todo mundo que vem aqui vem procurar homem. Ainda mais a partir dessa hora.

- Não. Vim só comer um quibe e ir para casa.

- Sei...


O quibe chegou e sentou-se à mesa enquanto olhava para o garçom.


- Quero um copo com limão.

- Não quer aproveitar e pedir gelo não?

- Gelo deixa com gosto ruim.


O garçom saiu com uma cara de bunda e eu tentava esconder o riso.


- Moleque tú é folgado para caralho.

- Vai comprar um pano tio?

- Não preciso de pano, tenho uma penca em casa.

- Então compra mais um, se tem um monte pode ter mais um.

- E por que eu teria mais um cacete?

- Um a mais no armário não faz diferença pra você tio. Mas para mim é menos cinco mesas por noite que eu passo.

- E em todas você pede quibe, senta e xinga os outros de viado?

- Não te xinguei. Perguntei se o tio gostava de homem. Se o tio acha que isso é palavrão está no bar errado.

- Me dá essa merda de pano aqui caralho.

- É cinco reais.

- Só o quibe e o refri que eu paguei já deram isso.

- Pagou não, foi no cartão.

- Mas isso é dinheiro.

- O tio disse que não tinha dinheiro. Se me der os cinco que tem na carteira, não faz falta. Não tinha mesmo lembra?


Dei os cinco reais, ele terminou de comer e saiu.

Fui para casa sorrindo ao me lembra do moleque. Assimilação, infância e malandragem.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Banana com Aveia e Mel

Café da manhã a partir de hoje é obrigatório. Uma necessidade de sentir o sabor de pequenos flocos dissolvendo na cor âmbar, sobre as rodelas quase iguais da fruta fatiada e sobreposta.


- Amor, está na mesa.


Um murmuro gostoso sai do quarto, o mesmo que dizia: - Vou daqui a 10 minutos se você me der um beijo.

O corpo de Vanessa debaixo da coberta era um pouco da fruta coberta do mel. Pele branca debaixo de uma coberta quase dourada pela luz da cortina.


- Vai acordar não preguiça? O café está na mesa.

- Naonm.


Beijo na altura da nuca e o sorriso involuntário que segue o arrepio da pele.


- Vamos?

- Cinco minutinhos?

- O café vai esfriar.

- Não bebo café mesmo. Gosto mais de suco e fruta.

- Menina saudável.

- Melhor que ser um velho fumante.

- Velho?

- Até fio branco já tem.

- Quer que eu pinte?

- Não. Homens que pintam cabelo são aquelas bichas velhas.

- Hahaha...

- Tipo de Acajú.

- Vou me lembrar disso. Vamos?


Ela se veste devagar e mexe o suficiente no cabelo para reclamar que está desarrumado, mesmo sem estar.


- Hum... Suco de laranja.

- Acabei de abrir a caixa.

- Por que você não compra a fruta? Parece que você tem um espremedor para decorar a cozinha.

- E é.

- Ê vocês da cidade grande. Hahaha.

- Você já mora aqui há dez anos.

- Dez anos não apaga oito de uma lavoura.

- ...

- Essas marcas em minhas mãos são de arrancar frutas de árvore. Nunca se percebe o quanto a árvore precisa de seus frutos até que arranquem cestas e mais cestas aos seis anos.


Ela deixa cair uma lágrima enquanto sorri ao por na boca a banana com aveia.


- Demorei tempo demais para apreciar o doce das frutas. Adoro banana com aveia e mel. Está uma delícia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ouvindo conversa alheia

São dois adolescentes sentados no banco da frente, uma menina bonita de cabelo preto e sem corte solto batendo nos ombros e um garoto com ombros curtos e uma nuca ossuda, o cabelo está preso por uma bandana e parece que está deixando crescer.


- Você e a Lúcia estão bem?

- Ela não retorna minhas ligações.

- Vocês têm se falado pelo menos.

- Estamos na mesma turma, se ela não falasse comigo seria estranho.

- E ela não está passando o intervalo com você.

- É...

- Acho que ela está exagerando sabia?

- Não, ela está certa.

- Tudo bem, você ficou com uma menina, mas e daí? Não é o fim do mundo. Você gosta dela isso está óbvio.

- Ela me odeia.

- Não, ela te adora. Está triste, mas sabe que você cometeu um erro.

- O pior de todos.

- Olha deixa de drama. Vamos ir para a casa do Marcos hoje. No caminho eu compro uma garrafa de vinho, assim você fica animado.

- He, he...

- Lembra quando a gente bebeu pra caramba na viagem para a Chapada?

- Lembro.

- Foi bacana mesmo. Nossa! Fiquei muito doida, nós entramos na cachoeira de noite não foi?

- Tava muito gelada aquela água.

- Ainda bem que você estava lá.

- ...

- Você estava tão quentinho.

- Tava?

- Aham.

- Acho que não vou para a asa norte agora não. Vou parar no Conic para encontrar o Alê.

- Quer que eu vá com você?

- Não valeu. Você é uma boa amiga Lana. A melhor.


Beijo na testa


- Tchau.

- Até mais tarde.

- Mais tarde?

- A festa na casa do Marcos.

- Ah... Vou ver se eu vou.

- ...

- Até mais.


Ele desce e então ela liga o MP3.


- Idiota.


Concordo com ela. Concordo com ele. Vou parar de ouvir conversas alheias.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Conversa de bar IV

- Está tudo bem?
- Apenas duas coisas deixa um homem triste cara. Dinheiro e mulher.
- ...
- E eu ganho bem.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Crítica

Mais uma exposição. Enfadonha, cheia de bebidas baratas, com pessoas vestidas para um espetáculo, que está pendurado na parede e cego, para todas as pompas que rodeiam as linhas ditas ao chão.


O próprio artista já está cansado de balançar a cabeça e sorrir para possíveis mecenas modernos e os possíveis compradores que irão colocar em seus consultórios e firmas de advocacia o que um dia ele julgou ser a expressão de seu ser. Hoje, apenas paga as contas e um divórcio.


Ele sente o cheiro de um perfume acompanhado de curvas de um corpo que faz com que abra caminho para o quadro. Ela encara a peça tempo suficiente para mirar a jovem triste que a encara de volta, faz uma cara de asco e joga o vinho contra a tela.


O silêncio toma a sala, acompanhado de uma crescente cacofonia.


Ela sorri para a peça e deixa uma gargalhada sair de sua garganta deixando visíveis seus dentes brancos e com uma macia língua arroxeada e perfumada de manjericão fresco.


- Senhorita, por favor, me acompanhe. – O segurança a segura gentilmente pelo braço.

- Eu vou pagar pela obra.

- Por favor. – Seu aperto se torna mais firme, deixando a pele ao redor de seus dedos se torne mais pálido.

- Ela disse que vai pagar pela peça. Pode deixá-la.


O segurança o encara e então sorrindo deixa a jovem, os dois estão frente a frente com a peça, que escorre vinho deformando o rosto pintado.


- Não havia pensado nessa releitura da obra.

- O homem que criou essa peça é um idiota. Ele está acostumado a causar dor às mulheres.

- Por que está dizendo isso?

- Olhe o olhar dela. Está nítido que muitas vezes fez mulheres chorarem.

- Ela não poderia estar chorando por nenhum outro motivo?


Ela o encara chorando.


- Esse quadro é um espelho! Vou comprá-lo e destruí-lo!


Ela caminha pela sala, com seu aroma e o som dos saltos se afastando pela porta.

Mais uma vez ele olha o quadro que pintou e nota que o borrar do vinho criou um sorriso de desdém à pintura.


- Um espelho.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sentir

- Não me importa se você fica ou não com mil pessoas.
- Então porque estamos discutindo?
- Não estamos discutindo.
- Então posso ler um livro ou assistir tv?
- Só tente fazer isso.
- Beleza... O que podemos fazer então?
- Não sei! Apenas tentar arrumar as coisas.
- Não tem o que arrumar, não tem sentido, estamos seguindo uma trilha aonde iremos estragar tudo no final das contas.
- Só queria descobrir uma forma de não nos machucarmos.
- Um pouco tarde não é?

...

- Queria sentir que sou importante. Queria ter certeza que estamos apostando na medida certa.
- Isso não existe.
- Só não quero dar nome para nada.
- Sou feliz ao lado de qualquer pessoa por alguns momentos.
- Estou indo.
- E feliz, com você, mesmo quando você está longe.
- ...
- Odeio me sentir assim. Odeio sentir saudades de você, de seu cheiro, de seu gosto de seu...
- Eu também.

...

- Vou para casa.
- Dorme aqui hoje?
- Não. Troque os lençois primeiro e talvez eu venha dormir amanhã.
- ...
- Te amo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Plano de fundo

Assistindo ao Jornal Nacional, enquanto preparava seu jantar, ele percebeu que sentia medo da mídia. A notícia falava sobre a crise americana, a maior desde o ataque terrorista em 11 de setembro, por conta da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, após o fracasso das negociações com britânico Barclays.

Não se assustou com a queda de 10% da Petrobrás e da Vale, ele estava assustado com os empréstimos e com as propagandas que seguiram logo após a notícia.

Primeiro a Camila Pitanga, estava dizendo que a Caixa era o Banco que acredita no povo, que mais confia, que financia e que cobra juros baixos e prazos longos. Porra, se a gostosa da Camila estava falando enquanto mexia o seu cabelo e mostrava seu lindo pescoço deveria se sentir seguro, afinal, todos nos sentimos seguros quando vemos esse sinal a nossa frente na mesa de um bar e investimos.

E em seguida vem a enorme propaganda da Vale. Confie, acredite, crescendo com o País, ajudando a economia, auxiliando a ecologia, apostando na nova geração. Que rede é essa? As coisas estavam tão descaradas a esse ponto e ninguém realmente se incomoda com os fios dos Títeres?

Poderia até mesmo ouvir a voz monótona do presidente do Banco Central - "Esse é o momento de tranquilidade. Estamos em uma crise, mas o Brasil nunca esteve tão forte e preparado para ela." - Então devemos deixar de lado todas as críticas de corrupção contra o mandato de nosso presidente? O que a revista Veja irá dizer nesse final de semana? Como a classe média deve agir e continuar pagando suas contas, viagens programadas, faculdade e empréstimos para o sonho da casa própria?

Felizmente o pânico dura pouco. Após a propaganda passam a colocação de Felipe Massa, segundo no Ranking, páreo para a conquista do campeonato mais concorrido e disputado após a era Schumacher. Finalmente ele pode olhar para a filha e ouvir como está cansada do curso de jornalismo e que precisa viajar para se encontrar, como foi o dia de trabalho de sua mulher e suas ambições de promoções e finalmente olhar para seu prato e sentir o sabor da carne.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pensamentos sombrios

Gostaria de ter a certeza de algo pior que esse mundo,
talvez assim, se matar seria um ato covarde.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Leitura

- Me serve mais uma taça?
- Você não disse que estava ficando tonta já?
- Gosto de ficar tonta com você.

Eu sorrio enquanto ele fica tão vermelho como o vinho. Esse menino é tão bonitinho que chega a doer.

- Queria ler uma coisa para você.
- É coisa sua?
- Não é de um poeta português. Antônio Pedro é seu nome.
- Esses escritores do século XIX?
- Na verdade ele é dos anos 30.

Se ando tão triste, não digas

Porque ando triste e cansado

- Caibo num caixão fechado...


Ora pois, se perguntarem,

Não digas nada. Talvez


Imaginem que este jeito

De andar tão triste, por ti,

Foi um defeito

Com que nasci.


Deixo meu vinho de lado e tento segurar meu rosto, olhar para a cozinha, pensar em qualquer coisa.

- Você está bem?
- Droga! Não, não estou nada bem.
- Eu só queria dizer algo bonito para você.

Meus olhos estão vermelhos e deixo marcar minha maquiagem, manchando meu rosto e meu orgulho.

- Prometi a mim mesma que homem nenhum... Nenhum deles me faria chorar de novo.
- Eu...

Beijo com força sua boca, sentindo o sabor de vinho, misturado com o hortelã que estava na salada.

- Merda. Você realmente é lindo de doer.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Conversa de bar III

- Uma posição favorita.

- Tenho que escolher uma?

- Aham, sem medo. Fala aí! Qual é a melhor?

- Punheta.

- ...


Alcança a garrafa serve mais um copo, após servir o amigo de olhar incrédulo, e voltar a beber.


- Você está brincando não é?

- Não.

- Porra, desde quando punheta é sexo?

- Você nunca masturbou nenhuma mina durante a transa?

- ...

- Nunca tocou uma punheta para terminar no rosto, ventre, bunda, costas...

- Beleza... Mas é diferente.

- A diferença é se você está acompanhado ou não. Mas é sexo.

- E você prefere uma punheta a transar com uma mina?

- Prefiro.

- Está de zona...

- Já transou cansado?

- Acho que algumas vezes.

- A maioria dos caras reclamam das minas quando elas não estão na pilha, mas o que nós fazemos quando não estamos na pilha?

- Transamos assim mesmo.

- Exatamente! É nessas horas que eu tenho a mais absoluta certeza que prefiro tocar umazinha.

- Mas daí colocar como a melhor posição de todas. Isso é exagero.

- Sempre gozo quando toco punheta.

- E eu sempre gozo quando trepo.

- Sempre?

- Sempre.

- Nunca deu uma broxada?

- ...

- Nunca terminou antes do que você mesmo queria?

- ...

- Punheta não tem nada disso. Você goza quando quer, como quer e sem ter que se sentir mal por isso.

- Caralho.

- Punheta definitivamente é a melhor invenção da humanidade.

- Tú é uma figura.


Ele bebe de um só gole a cerveja.


- Depois do futebol.