sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sociedade dos Poetas Mortos



Lindo. Impressionante como depois de anos esse filme ainda mexe comigo. Adorei o presente e a companhia também diga-se de passagem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Diário - Página 01

Querido diário,

Hoje acordei com vontade de ter uma máquina digital em minhas mãos. Queria fotografar um pouco de beleza, um pedaço de uma nuca perdida lá em meus lençóis.

Olho

O olho estava incomodando há algum tempo. Coçava para diabos e não parava de arder pela continua esfregação sem fim. Puxava o cílio para cima, deslizava os nós dos dedos na carne macia e vermelha rente ao globo e a agonia não cessava. De tanto mexer acabou por sentir algo quente e macio descer por seus canais lacrimais. Queria enxugar a lágrima e para sua surpresa era um verme que lhe cuspia o olho.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Em um zebrinha

No ônibus hoje (se é que posso chamar de ônibus um zebrinha) estava com minha cara colada ao vidro gelado, ignorando a cara de bunda de uma pessoa por conta de deixar o vidro aberto curtindo um friozinho.

Preso em meus devaneios vi um senhor entrando no ônibus e começando a falar em alto e bom som para que todos escutassem

- Um ônibus com apenas uma porta. Que coisa incrível, eu nunca tinha visto algo como isso. Um ônibus com apenas uma porta. É senhora e senhores, se nos comportarmos esse ano, se formos bonzinhos, ano que vem vamos receber um micro-ônibus com duas portas.

As pessoas estavam simplesmente tentando ignorar o que ele falava e eu fui notando o quanto a crítica era realmente boa. Resolvi me levantar e cumprimentar o homem.

- Boa crítica meu senhor. É verdade, esse ônibus não tinha sido feito para cumprir a função de transitar com tantas pessoas.
- É meu camarada. Qual é o seu nome?
- Eduardo.
- Prazer Eduardo. Meu nome é Willian Guimarães. É exatamente isso meu camarada. Agora que esse ônibus carrega comedor de feijão, trabalhador, o povo, ele ficou apertado. Agora todo mundo percebe que falta uma porta de saída.
- He, he, he.
- Mas eu não me calo não. Tenho 54 anos e não vou me calar nem depois de morto. E sabe o por quê? Porque ninguém cala a revolta meu amigo. Ninguém consegue calar o silêncio aos ouvidos surdos. É... Por que para cada pessoa que me chama de louco, eu preciso falar mais para que outro louco me dê ouvido.

...

- Sou assim mesmo minhas pessoas. Sou um incomodo do trabalho diário, um balançar de cabeças para seu ritmo bovino, mas vocês não podem me calar não. Porque falam que esse é um País de analfabetos, mas isso é mentira! Esse é um País de mudos.
- Caralho... Muito bom. Foi um prazer te conhecer Willian.
- O prazer foi todo meu Eduardo. E me ajuda meu caro! Sou velho mas continuo gritando, aproveita os pulmões jovens que te restam e grite caralho. Bom dia.
- Bom dia.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O menino no sapato - parte 2

Fiquei olhando aquele garoto que estava com um sorriso enorme no rosto enquanto eu olhava de rabo de olho a fresta da porta.

- Isso não é seu nome.
- Claro que é meu nome. Eu mesmo me dei!
- Você não pode escolher seu próprio nome.
- Não? Quem disse que não? De que vale ser chamado por algo que não é seu. Você não criou o seu próprio nome?
- Não...
- Oras... Então escolha o seu nome!
- Não posso criar um nome.
- Mas vocês vivem dando nome para tudo. Qualquer coisa que vocês querem que seja de vocês possui um nome. Assim como aqueles dentuços de pêlos histéricos.
- Cachorros?
- Eles se chamam de Roufes ou Haus. É assim que eles falam ao menos.

Ouvi minha mãe batendo na porta. E então joguei correndo minha blusa por cima do garoto quando ela entrou.

- Berto você não vai tomar seu café?
- Já estou indo mãe.
- E pare de deixar suas roupas jogadas. Assim elas ficam todas puídas.

Quando fechou a porta notei que ele estava muito chateado por ter sido coberto por uma blusa suja do time de futebol. Ele logo começou a se coçar inteiro e esfregar o cabelo com força.

- Como você pode simplesmente me tirar a luz desse modo?!
- Era para minha mãe não te ver.
- Mãe... Mães nunca pode me ver. Elas sempre estão preocupadas com os filhotes para notar qualquer coisa além deles. São como os pais. Preocupados demais com o que acham ser suas responsabilidades. Tão enfadonho.
- Mas eles precisam ser responsáveis.
- Você não ouve muito bem não é?
- ...
- Eles ACHAM SER SUAS RESPONSABILIDADES não fazem a menor idéia do que signifique de verdade.

Ouvi minha mãe me chamando mais uma vez e corri para vestir minhas roupas. Olhei para o lado antes de sair de meu quarto e pude ver sua mãozinha dando um tchau para mim ao entrar no sapato e uma pequena voz saindo abafada.

- Quando voltar lembre de ter escolhido um nome.

... continua