sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sociedade dos Poetas Mortos



Lindo. Impressionante como depois de anos esse filme ainda mexe comigo. Adorei o presente e a companhia também diga-se de passagem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Diário - Página 01

Querido diário,

Hoje acordei com vontade de ter uma máquina digital em minhas mãos. Queria fotografar um pouco de beleza, um pedaço de uma nuca perdida lá em meus lençóis.

Olho

O olho estava incomodando há algum tempo. Coçava para diabos e não parava de arder pela continua esfregação sem fim. Puxava o cílio para cima, deslizava os nós dos dedos na carne macia e vermelha rente ao globo e a agonia não cessava. De tanto mexer acabou por sentir algo quente e macio descer por seus canais lacrimais. Queria enxugar a lágrima e para sua surpresa era um verme que lhe cuspia o olho.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Em um zebrinha

No ônibus hoje (se é que posso chamar de ônibus um zebrinha) estava com minha cara colada ao vidro gelado, ignorando a cara de bunda de uma pessoa por conta de deixar o vidro aberto curtindo um friozinho.

Preso em meus devaneios vi um senhor entrando no ônibus e começando a falar em alto e bom som para que todos escutassem

- Um ônibus com apenas uma porta. Que coisa incrível, eu nunca tinha visto algo como isso. Um ônibus com apenas uma porta. É senhora e senhores, se nos comportarmos esse ano, se formos bonzinhos, ano que vem vamos receber um micro-ônibus com duas portas.

As pessoas estavam simplesmente tentando ignorar o que ele falava e eu fui notando o quanto a crítica era realmente boa. Resolvi me levantar e cumprimentar o homem.

- Boa crítica meu senhor. É verdade, esse ônibus não tinha sido feito para cumprir a função de transitar com tantas pessoas.
- É meu camarada. Qual é o seu nome?
- Eduardo.
- Prazer Eduardo. Meu nome é Willian Guimarães. É exatamente isso meu camarada. Agora que esse ônibus carrega comedor de feijão, trabalhador, o povo, ele ficou apertado. Agora todo mundo percebe que falta uma porta de saída.
- He, he, he.
- Mas eu não me calo não. Tenho 54 anos e não vou me calar nem depois de morto. E sabe o por quê? Porque ninguém cala a revolta meu amigo. Ninguém consegue calar o silêncio aos ouvidos surdos. É... Por que para cada pessoa que me chama de louco, eu preciso falar mais para que outro louco me dê ouvido.

...

- Sou assim mesmo minhas pessoas. Sou um incomodo do trabalho diário, um balançar de cabeças para seu ritmo bovino, mas vocês não podem me calar não. Porque falam que esse é um País de analfabetos, mas isso é mentira! Esse é um País de mudos.
- Caralho... Muito bom. Foi um prazer te conhecer Willian.
- O prazer foi todo meu Eduardo. E me ajuda meu caro! Sou velho mas continuo gritando, aproveita os pulmões jovens que te restam e grite caralho. Bom dia.
- Bom dia.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O menino no sapato - parte 2

Fiquei olhando aquele garoto que estava com um sorriso enorme no rosto enquanto eu olhava de rabo de olho a fresta da porta.

- Isso não é seu nome.
- Claro que é meu nome. Eu mesmo me dei!
- Você não pode escolher seu próprio nome.
- Não? Quem disse que não? De que vale ser chamado por algo que não é seu. Você não criou o seu próprio nome?
- Não...
- Oras... Então escolha o seu nome!
- Não posso criar um nome.
- Mas vocês vivem dando nome para tudo. Qualquer coisa que vocês querem que seja de vocês possui um nome. Assim como aqueles dentuços de pêlos histéricos.
- Cachorros?
- Eles se chamam de Roufes ou Haus. É assim que eles falam ao menos.

Ouvi minha mãe batendo na porta. E então joguei correndo minha blusa por cima do garoto quando ela entrou.

- Berto você não vai tomar seu café?
- Já estou indo mãe.
- E pare de deixar suas roupas jogadas. Assim elas ficam todas puídas.

Quando fechou a porta notei que ele estava muito chateado por ter sido coberto por uma blusa suja do time de futebol. Ele logo começou a se coçar inteiro e esfregar o cabelo com força.

- Como você pode simplesmente me tirar a luz desse modo?!
- Era para minha mãe não te ver.
- Mãe... Mães nunca pode me ver. Elas sempre estão preocupadas com os filhotes para notar qualquer coisa além deles. São como os pais. Preocupados demais com o que acham ser suas responsabilidades. Tão enfadonho.
- Mas eles precisam ser responsáveis.
- Você não ouve muito bem não é?
- ...
- Eles ACHAM SER SUAS RESPONSABILIDADES não fazem a menor idéia do que signifique de verdade.

Ouvi minha mãe me chamando mais uma vez e corri para vestir minhas roupas. Olhei para o lado antes de sair de meu quarto e pude ver sua mãozinha dando um tchau para mim ao entrar no sapato e uma pequena voz saindo abafada.

- Quando voltar lembre de ter escolhido um nome.

... continua

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O menino no sapato

Meu nome é Eriberto e hoje ao contrário de todos os dias eu percebi ao tentar calçar meu sapato que algo estava dentro dele. Algo macio e quente que gritou quando pus meu pé.

- Ai! Não olha onde poem o pé não?

Era um menino dentro do meu sapato. Ele era parecido com todos os outros garotos de minha escola. Tirando o seu tamanho.

- Desculpa. Não tinha visto você aí dentro.
- Desculpa... Você quase me esmaga e tudo que pede é desculpas?
- Você está machucado?
- Minha cabeça está doendo um pouco. Tem um turbante?
- Turbante?

Ele pulou para fora do sapato e andou em círculos com as mãozinhas para trás das costas.

- Um turbante. Como ele não pode saber o que é um turbante? Todo mundo sabe o que é um turbante. É um desperdício de diálogo, sem contar uma falta tremenda de educação, machucar alguém e nem sequer oferecer um turbante a ela.
- Desculpa. É que eu nunca ouvi falar de um turbante.
- Claro que nunca ouviu falar de um turbante. Turbante é algo que fica sobre a sua cabeça, que mantêm suas ideias circulando tempo suficiente para que possa escolher uma boa antes de soltar. Francamente...
- Mas o que isso tem haver com seu machucado?

Ele deu dois pulos e coçou a cabeça bastante nervoso.

- Você achatou minhas ideias! Sem um turbante elas ficaram tão finas que podem sair correndo de meu ouvido por todo o quarto. Agora me traga logo um turbante.

Ele teve que me mostrar como se fazia um turbante. Acabei pegando uma gaze e enrolei em sua cabeça. Colocamos um alfinete pequeno na frente para prender. Ele olhou no espelho e pareceu satisfeito.

- Tá. Não é exatamente um rubi mas pode servir por enquanto.
- O que você estava fazendo em meu sapato?
- Ele estava começando a ficar apertado em você e bem sei que garotos não levam a sério suas vestimentas. Sempre comprando coisas novas só por não caberem mais nelas.
- Mas todo mundo cresce.
- Todo mundo não. Só aqueles que gostam de desperdiçar as coisas. Eu nunca cresci e assim tudo que eu uso me serve para sempre.
- Você só tem essa roupa?

Então o menino deu um voleio e se apresentou como um ator de teatro.

- E para que eu precisaria de mais roupas? As pessoas mudam suas roupas porque precisam parecer aqueles bonecos atrás dos vidros. Você gosta de parecer um boneco?
- Não.
- Olhe para mim. Todos que me vêem sabem que uso calça vermelha, uma linda blusa verde com missangas, cordões de couro no pulso e essas sandálias de couro de rato. Sou minhas roupas!
- Você é estranho.

Ele sentou no chão e cruzou as pernas uma sobre a outra como um biscoito.

- Então devo me apresentar. Meu nome é Cyria Multiplisorridevanenoturno.

continua...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

sopıʇuǝs snǝɯ

oʇɐʇ ǝp oãçou ɐɥuıɯ ɹɐıןɐʌɐǝɹ zɐɟ ǝɯ êɔoʌ

O Mistério do Samba



Essa cena termina com um olhar voltado para o passado. Onde essas mulheres foram? O que estavam tocando em suas memórias? Que documentário lindo.

Assista sem restrição.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte final)



Eram duas da tarde. A garrafa de conhaque barato estava quase no fim e meus olhos estavam vermelhos, tanto pelo álcool, como pela noite em claro. Esperei dar dez da matina para ligar para a dona. Quando terminei de virar o copo ela bateu na porta.

- O senhor disse que tinha respostas para mim.

Taquei as fotos em cima da mesa. Lá ela poderia ver o garoto se agarrando a outras bichinhas, o ambiente onde vários outros estavam se pegando e ela folheou com uma certa naturalidade, menos chocada do que eu imaginava.

- Já sabia não é?
- Bem... Na verdade.
- Para de drama. Novela eu parei de assistir desde que a Maitê ganhou rugas. Por que me mandou para um caso tão óbvio assim?
- Eu...
- Queria saber se o moleque era uma fruta? Ele é! Queria saber se curte um bigodinho de leite? Ele curte! Esse morde fronha nasceu ao avesso madame. É um viado!

Ela fez uma expressão de chocada e levou as mãos ao rosto após me enfiar a mão na cara. Peguei ela pelo cotovelo.

- O que você queria? Qual a diferença se esse merdinha ganha a grana ou não? Tú está com o pão ganho. Deitar com o ricaço te deu a herança e aposto que é o bastante para financiar as frescuras de vocês dois.
- Você não entende! Eu tinha que ter certeza! Eu tinha que saber!

Ela caiu em prantos. Lágrimas rolando sujando a maquiagem cara, dando um aspecto assustador e mostrando sua idade por debaixo das rugas. Ali tudo ficou claro, a ficha finalmente caiu. Acendi a porcaria do cigarro e deixei a nicotinha ajudar o raciocínio.

- Era ele não era? O amor da sua vida era um viadinho com o rabicó apontado para a lua.

Sua expressão de ódio e tristeza era todo o sim que precisava.

- É madame. Quanto mais perto do avião mais frouxo. Um homem que perde a vida trabalhando para deixar uma herança e não leva o único filho homem a um puteiro, jamais deixou algo do que se orgulhar.
- Eu... Eu simplesmente...
- As fotos e passagens ficaram em mais duzentinhos. Se quiser um psicólogo é no terceiro andar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte 2)



Eram duas da manhã. Eu estava fumando meu Derby com minha samba canção e olhando para a rua. Os carros passavam apressados pela W3 e então senti as mãos pintadas de vermelho sobre o meu ombro.

- Meu amor, você pode dormir por aqui.
- Cirlene, não vim aqui para dormir. Estou em um caso importante.
- Quer que eu busque um trago?
- Uma branquinha, nada de Dreher.

A boneca saiu desfilando com aquele rabo que apenas travecos tem. Gastei 80 pilas para esvasiar minhas bolas e eu sabia que poderia arrancar um pouco mais do que essas duas esporradas.
Quando ela voltou com a cachaça, eu já estava de calças e taquei a foto em cima da mesa. Fez uma cara de desentendida o que me deixa sempre de mal humor.

- Vamos lá boneca. O que você sabe sobre o garoto? Me disseram que conhece vocês.
- Não é meu tipo Carlos, gosto de homens. Esse mancebo cheirando a leite não tem o que eu preciso.

O velho golpe do manjão. Ainda bem que tinha acabado de gozar, senão cairia nesse papinho.

- Não estou aqui para te dar prazer beibe. Conta tudo que sabe.

O tal garoto frequentava a roda. Gostava de jogar conversa fora, preocupado com preservativos, exames de saúdes, agressividades com as vadias. Ouvi meia hora de papo furado e nada que me provasse se ele curtia ou não mulheres. Mas consegui um endereço, parece que tinha uma boate no Conic, que lá poderia confirmar minhas suspeitas.

...

Cheguei ao tal Galeria, descendo as escadas paguei os cinco reais que cobravam para ver um grupo de garotos dançando de camisetas regatas, blusas coloridas e calças coladas. Esfreguei meu rosto e fui direto para o que parecia ser um bar.

- Me dá uma cerva.
- Claro amor.

Sentei e fiquei de olho naquela molecada. Um bando de bichinhas pobres se esfregando uma na outra. Meninas gordinhas beijando umas as outras e em alguns momentos uma troca e pegação sem fim. Acho que por um momento ouvi tocando Xuxa, resolvi pegar outra cerveja.

Já estava desistindo quando vi o garoto da foto em minha mão entrando com um grupo de amigos. Eram mais três adolescentes com ele. Todos magricelas e com rosto pintado. Preparei minha câmera e apontei para a pista de dança.

Depois de duas músicas eles estavam se agarrando como todos os demais. Era simplesmente a pista que eu precisava. Tirei várias fotos, o flash nem fez diferença em meio as luzes da pista. Depois de um tempo o garoto veio até o bar pedir algo para beber.

- Preparando a garganta ô afeminado?
- Como é que é?!

Peguei o moleque pelo braço e arrastei ele até um canto.

- Escuta aqui ô boiolão! Você tem merda na cabeça ou o quê?
- Ai me solta! Você tá me machucando cara.
- Machucando é o caralho! Porra! Teu pai acaba de morrer e tú cospe no túmulo dele?
- Do que você está falando? Você conheceu o meu pai?
- Não e nem quero conhecer um merda que fez um filho frouxo como tú. O cara tá te deixando uma barbada e você vai deixar tudo a perder para ficar cheirando bago de homem?
- É minha vida! Eu faço com ela o que eu quiser!
- Sabia que seu pai não vai deixar nem um centavo para você por conta dessa palhaçada?
- Eu nunca quis nada dele!

Deitei um tapa na orelha do moleque e sai daquele antro. Tinha ainda que ligar para a viúva e mostrar a porcaria das provas.

Conclui na próxima...

Nosso tempo

Somos criaturas covardes, estamos presos constantemente em duas instâncias que não deveriam nos atingir.

Temos medo pelo futuro. O pagar de contas, investir em alguém, do fracasso, hesitações, não ser bom o bastante, conseguir concluir seu curso a tempo, estar apto ao mercado de trabalho, ser demitido, crises que podem surgir, envelhecer e morrer.

Temos também medo do passado. O que não fizemos, falhar com seus pais, não estar a altura do que foi ensinado, escolhas erradas, pessoas que podem apontar suas falhas, erros, crenças, traumas, amores perdidos, paixões não existentes, livros não lidos, educação deturpada e nossas memórias.

Dificilmente estamos com nossos olhos fixos no presente. E essa falta de foco, essa permanência de olhar para trás ou sonhar com o amanhã é perder o único tempo que temos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

QI de gênio

Essa semana acabei lendo sobre o jovem Oscar Wrigley, o jovem gênio de 2 anos e cinco meses com o QI igual ao de Eistein. Fiquei chocado com a notícia. Não tinha a menor ideia que ainda se fazia testes de QI. Mas passado o choque pensei na evidência dessa notícia.

Quantos Oscar Wrigley nascem no interior do Piauí? Será que alguma mãe no nordeste da China, em um recanto da cidade de Julin, sabe que possui um Oscar Wrigley bebendo água contaminada? Ou talvez em meio ao cuidado do pastoreio em Daikondi um Oscar Wrigley esteja sendo embalado pelo tecido de sua mãe?

Segundo a BBC de Londres, nosso felizardo gênio está na categoria de apenas 2% da população mundial. Isso estima aproximadamente 132 mil pessoas em um mundo de 6,6 bilhões.

A probabilidade é algo extraordinário. Agradeço a casualidade por esse gênio nascer em uma boa família e aparecer nos jornais do mundo. Do contrário ele não teria a alimentação necessária para desenvolver seu cérebro o suficiente para decorar 600 palavras. Não, ele estaria aos cinco anos sofrendo de inanição em uma terra estéril, ou tendo sua genialidade resumida e traçar couro em jumentos selvagens.

Quem pode me convencer que ele será mais feliz em terminar sua faculdade aos 12 anos de idade? Quem pode me dizer alguma palavra de consolo que cale a multidão dos 131.999 que nesse momento, talvez por serem espertos demais, estejam se misturando em meio ao restante de nós?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Os 10 Mandamentos

Estava quase indo dormir mas por algum motivo me peguei pensando nos 10 mandamentos, base da moralidade a hierarquia de pecados Judaica-Cristã. Seja quem foi o idiota que escreveu essas dez frases certamente não poderia ser deus, eu pelo menos me recuso a acreditar que alguém esperto o bastante para criar a mitose celular não seria burro para não entender nada da mente humana.

Quando qualquer pessoa pensa na frase: NÃO PENSE EM UMA MAÇÃ, obviamente acaba pensando nela. Talvez por isso a maldita sina do paraíso para os pobres primeiros projetos de humanos falidos.

Mas vamos aos mandamentos, esse que me fez levantar a uma da manhã para escrever antes que eu esquecesse. Se eu fosse o criador da Terra, do Universo e de todas as coisas orgânicas e inorgânicas não iria passar para um monte de pessoas iletradas ordens tão contrárias aos meus desejos.

Oras... eram apenas matutos, lavradores, artesãos, antigos escravos peregrinando pelo deserto. Eles iriam cumprir de Bel prazer esses mandamentos abaixo:

1 - Jamais Amarei Nenhuma Criação Minha Além de Vós

2 - Minha Imagem Está Em Tudo Que Te Cerca.

3 - Honrarei Seu Nome E Nunca Irei Agir Contra Vós.

4 - Repouse Ao Sábado, Aproveitem, Vós Mereceis.

5 - Ame Sua Prole, Ame Suas Crias Como Eu Vós Amo.

6 - Preserve A Vida.

7 - A Mulher Do Próximo Cobiçada E Conquistada Dificilmente Será Fiel A Ti Por Muito Tempo.

8 - ... (Aqui deixo minha ignorança em nome dos mandamentos. pensei em uma sociedade anárquica, mas esses judeus eram miseráveis demais em roubos para ter que criarem uma lei divina só para isso)

9 - Mentir Só Irá Causar Sua Humilhação Ao Ser Desmentido.

10 - Construa Seus Sonhos Não Os Dos Terceiros.

Viu só? 10 mandamentos tranquilos, suaves e bacanas de seguir. Se for parar para pensar sigo a maioria deles, a maioria das boas pessoas seguem. Mas como diria aquela frase popular: "Para que facilitar se pode complicar?"

Boa noite e bons sonhos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte 1)


Meu nome é Antônio Carlos Madureira e trabalho como detetive particular no terceiro andar do Venâncio 2000. A sala é suja e ainda tem marcas do incêndio que ocorreu anos atrás. O antigo inquilino não quis reformar e com o que eu ganho prefiro olhar para as manchas e pensar, que como um aquário, me faz relaxar.

O telefone tocou. Eram 14h20 e estava acabando de engolir o terceiro pastel com refrigerante, o que me fez tossir na linha e o cliente desligar antes de falar qualquer merda.

-Alô?
-Boa tarde.
-Ah, meu nome é Helena. Quem me indicou o senhor foi...
-Não precisa falar o nome. Qual é o problema? Acha que seu marido é infiel?
-Não. Na verdade é com o meu filho.
-A senhora gostaria de vir aqui e conversar melhor a respeito?

Resolvi dar uma geral no ambiente. A voz era charmosa e o bina dizia que era um prefixo do Lago Norte. Esse tipo de gente gasta dinheiro com todo tipo de besteira, logo o caso era garantido.

Entrou uma senhora distinta. Daquelas que foi linda para cacete quando era adolescente e um arraso ao chegar nos 30. Agora tinha olheiras e o rosco marcado, com o que eu chutava ser uma limpeza de pele ressente. Entrou olhando em volta como se não reconhecesse exatamente uma agência.

-Boa tarde.
-Boa tarde.
-A senhora gostaria de sentar? Quer um copo de água?
-Não obrigada.
-Bom, o que aconteceu com o seu filho?
-Na verdade, não é exatamente com o meu filho. Ele é meu enteado.
-Sei.
-O meu marido morreu semana passada e deixou uma herança para mim e para o garoto. Mas existe uma certa...
-Já sei. Quer saber como pegar a parte dele ou mudar o contrato para cuidar do jovem e administrar o dinheiro.
-Não! Por Deus, não.

Isso tava ficando complicado demais, muito boazinha para ser verdade. Estava encucado com o caso antes de pegar.

-O que é então?
-É que no testamento existe uma... como posso dizer? Uma restrição.
-E qual seria?
-Meu marido deixou claro que só deixaria qualquer centavo para o meu enteado, caso ele não fosse gay.
-Que massada!

O velho era esperto. Queria ter certeza que sua prole deixasse seu nome em honra. Agora os quinhentos era provar se o rapaz era ou não chegado em morder uma fronha.

-E o que levou Itálicoo seu marido a desconfiar do rapaz?
-Meu marido era muito machista. Não admitia esse grupo de amigos pintados como artistas, que se depilam e que gostam de teatro e essas coisas.
-Sei... Mas existe alguma prova? Algum envolvimento? Uma carta de amor talvez?
-Não, nada como isso. Mas ele anda com pessoas.
-Que tipo de pessoas?
-Você sabe. Ah, travestis.
-Travestis?
-É.
-Travesti não prova nada minha senhora. É até natural.
-Natural?
-Sim. Todo homem que se preze come, comeu ou vai comer uma boneca. É a mesma coisa que comer uma puta, só se paga mais barato pelo cuzinho e sem celulite.
-Meu Deus!
-Mas não se preocupe. Vou investigar mesmo assim. Tem uma foto do rapaz? Onde ele estuda? Nome completo?
-Tenho sim. Aqui.

Enquanto ela falava que o jovem na foto de sombrancelhas feitas, rosto depilado e maquiagem nos olhos se chamava de Hernandes Gurghel, que estava no primeiro ano do Leonardo da Vinci eu dava uma secada nas pernas da coroa e soltei o preço.

-Vai ficar em seis onças. E obviamente o custo de celular mais passagens.
-Seis onças?
-Ou três peixinhos o que achar melhor.

Ela saiu do escritório. Tinha um caso e 300 pilas na mão em notas novas.

Continua...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tempo ruim

Queria apenas chegar em casa e tirar meu sapato, ele estava apertado e uma parte do solado estava gasta, sempre que tirava ele do meu pé notava minha meia rasgada e uma bolha onde antes era minha pele.

A maldita vizinha do andar de cima estava reclamando sobre o cheiro de lixo antes mesmo de abrir minha porta. Disse que eu não sabia o significado da palavra convivência e respeito. Respondi cordialmente com um meio sorriso e um escarro marrom erverdeado na parede de minha porta.

Já estava cansado do cheiro de ovo podre na pia. Um dia pensei em fazer um macarrão com ovo e ele acabou escorrendo para dentro da pia, o número de pratos sujos e a água com gordura me impediram de buscar o ovo. Mas hoje estava particularmente cheirando mal.

Abri a janela e apontei o ventilador para a pia. Abri a garrafa de conhaque enquanto limpava meu nariz tirando uma casca dura e acompanhada de sangue. Tinha que fazer alguma coisa para comer e o gás tinha acabado. Peguei o que tinha sobrado de comida chinesa e taquei o extrato de tomate por cima.

Sabia que não tinha nada para assistir na televisão, estava cansado dos filmes pornôs que tinha comprado na feira e estava começando a me sentir bêbado o bastante para abrir minha gaveta e sair para a rua.

Abro uma lata de cerveja morna enquanto folheio um álbum de fotos. Aqui tem um número e uma foto de uma menina que não vejo a mais de 10 anos. Seguro o telefone em meu peito duas vezes antes de começar a discar.

-Alô?
...
-Alô? Quem fala?
-É o Arnaldo.
...
-Eu sei que você pediu para eu nunca mais ligar...
-Então por que ligou?
-Quero falar com a Juliana.
-Ela está na escola. Faz curso de espanhol durante a tarde.
-Espanhol é? Porque ela não está falando inglês ou algo assim?
-Ela já fala.
-Já fala... Que bom que ela saiu esperta ao contrário de nós dois.
-Agradeço a Deus todos os dias por isso.
-Como vocês estão?
-Bem. Muito melhor do que viver ao lado de um bêbado, que batia em nós duas.
-Você sabe muito bem que nunca encostei um dedo nela.
-Graças a mim.
-Ela nunca perguntou sobre mim?
-Algumas vezes perguntou. Mas hoje já é uma moça não pergunta mais.
-Queria mandar um presente de aniversário.
-Sabe quando ela faz aniversário?
...
-Tchau Arnaldo. E na próxima vez que ligar, esteja sóbrio pelo amor de Deus. São apenas uma da tarde.

O telefone solta um sinal de ocupado. Ocupado com meus dias, meus problemas e minhas escolhas para afastar esposa, amigos e minha filha. Deixo isso de lado, abro o jornal nos classificados, última página:

“Morena BB, completinha para você. Atendo só de calcinha. 707n. Telefone...”

Ainda tenho R$ 120,00 na minha carteira e falar com minha ex mulher, continua me deixando de pau duro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Olívia

Olívia me pediu um texto um dia, um texto sobre quem é essa pessoa para mim e quem ela pode ser para quem leia.

Olívia é extremamente ambiciosa e consegue adquirir bastante sonhos que parecem irreais para alguns em sua mesma posição.

Olívia é a primeira da sua família a entrar em uma faculdade pública, a primeira a se importar em ler mais do que revistas ou jornais.

Olívia estudou o bastante para passar em dois concursos e por conta de um, hoje trabalha e não se importa em ter que ir a unb de noite e voltar para casa cansada para dormir de madrugada.

Olívia é muito passional. Ela é dedicada em relacionamentos e não se importa em doar o que seja dela para quem ama.

Olívia tem pouca estima. É uma pessoa carente que devota demais suas emoções, como se precisasse de amor como as pessoas precisam de vida.

Olívia tem conversas maravilhosas, decora poesias, curte arte e muitas vezes consegue sobrecarregar nossos sentidos com tantas informações, que polui o que antes era simplesmente lindo por não se dosar.

Olívia foi minha paquera de uma noite, minha namorada, minha parceira de apartamento, minha ex, minha amante e nunca foi minha amiga.

Olívia pediu um texto ao ler que outra pessoa pediu e recebeu. Ela vive fantasmas que não existem e alguns deles que foram criados por mim.

Olívia teve seu emocional destruído por seus medos e por meu ego.

Olívia não deveria jamais se preocupar em um namoro que jamais vai voltar a existir. Ele teve seus momentos, foram bons, foram ruins e se foram.

Olívia sabe que mexe comigo. Sabe, como muitas pessoas que passaram em minha vida, que sou fraco quando se trata de relação a mulheres.

Olívia me mostrou muitas coisas e é realmente uma pessoa que eu apoio e cada dia que passa me orgulha mais. Ela tem uma força que eu apenas posso invejar em minha inércia do momento.

Mas Olívia ainda é muito menina, ela só amou uma vez. E isso de não se permitir que um amor termine e outro venha é pedir para deixar de viver.

Não tenho fé. Mas eu realmente oro para que um dia ela entenda isso.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Minha cidade



confesso que balançou um pouco aqui no peito.

Hipercubo

Uma imagem no espelho congela o instante entre o piscar de olhos que não mais a enxerga. Essa instância é a incerteza que dispara o meu ritmo cardíaco e cria um suor em minha nuca, uma ilusão de medo em meus ombros após assistir um filme de terror sozinho e notar o silêncio gerado em um ambiente sem a luz da televisão ligada.

Estender a mão em frente ao espelho é receber uma cordialidade negada por todos de fora desse recinto dentro de outro, eternamente indo e voltando e tentando encarar em busca de uma identidade tão cara que precisa afirmar o que é real e não reflexo.

Tocar intimamente alguém é notar em sua linhas de sentidos um pouco do choque de retorno de quem é tocado. O calor, o arrepio dos pelos, o sabor do sal deitado em seu derreter de sentimentos, transbordar de dor deitando sobre sua face e o gozo líquido na ponta de sua lingua dividido entre o céu de sua boca e dentes, misturado em um mar de humores entre um músculo que gera sons, fala, e que divide o gozo como uma conversa. Uma conversa de criação de vida sem gerar vida alguma.

Esse Tesseraco de vidas é um retorno da proteína inicial, um detalhe de resgatar ao meio líquido de onde partimos e que com tanto receio a vivemos. Esquecemos ao mirar outro nos olhos que eles são gelatinosos por nos mostrar um reflexo menos nítido da composição da única conversa que vale comentários.

Somos prisioneiros de nossas limitações. De nossos medos. Os mesmos medos que poderia apenas admitir como individual, porque qualquer sintonia com o medo alheio é admitir sociedade e abrir mão dela e de sua própria existência dentro dela é a plena liberdade para a compreensão do ser que é visto e do que é você.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Porão do Rock 2009

O melhor de todos seria apenas uma nota de rodapé para explicar o que foi ir a esse show. Fazia tempo que ia simplesmente por inércia ao Porão e dessa vez, eu jurei que seria mais uma dessas.
Cheguei cedo, vagando pela cidade em uma caminhada do final da asa norte até a Esplanada, vendo uma galera rindo nos carros a caminho, subindo no ônibus gritando e várias adolescentes bem melhor vestidas do que minha geração.

Fui tomando minha cerva no caminho, sabia que seria caro beber por lá e com certeza a grana iria acabar rápido com alguns sedentos sem grana que sempre esbarramos e chamamos de amigos. Sim podemos ser egoístas as vezes.

Cheguei ouvindo Detrito, estava olhando um mar de Sub20's gritando e pulando, fingindo fumar maconha, tragando cigarro e virando latinhas. Divertido mas com o tempo entediante e então Plebe Rude subiu ao palco.

Ali comecei a ficar fisgado, alguém me disse que Cabeloduro estava do outro lado, mas que se dane. Estava muito mais empolgado com uma banda que não tinha visto me acotovelando no Garagem.

Passa um tempo, encontro galera, tomamos umas, falamos umas merdas e é a hora de Paralamas. Silêncio por alguns segundos e então todos cantando em uníssono. Hebert comanda o público como se gerações não tivessem nenhuma diferença. Marcou por sua empolgação, por como mexe com as pessoas ainda hoje e principalmente por deixar uma criança em lágrimas chorando no colo de seu pai. Praticamente uma esperança para pensar em ter filhos hoje em dia. A maior banda de brasília? Imaginei por um pequeno segundo que sim, quando surgiu a banda surpresa.

Quando vi o Gonza entrando com toda a banda da Legião Urbana eu engasguei. Era demais. Simplesmente lindo demais para sequer cantar. Me sintonizei com o menino chorando junto ao pai. Chorei, gritei com o que sobrou de minha voz, cantei e saltei tanto que ao terminar não tinha pernas, voz ou qualquer coisa em mim que não estivesse formigando. Cantor após cantor entrando e dando sua voz para uma banda que certamente se tornou um coletivo. A banda que todos cantam, que todos querem cantar e que moldou relacionamentos, momentos, personalidade e uma característica de brasília que atravessa fronteiras.

Definitivamente um Porão de Rock com a cara de Brasília e sem receios, digo que o melhor que já fui. Só lamento pelas minhas pernas e cansaço de não aguentar até o fim e ouvir MCA. Mas foram memórias demais para um show e a fadiga emocional e física me cobraram seu quinhão.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Exercício de Lógica

Abra os olhos, levante da cama, vá ao banheiro, lave esse rosto, caminhe preguiçosamente até seu chuveiro, agradeça pela água quente e o cheiro de mofo de uma toalha que ainda sirva para se secar, cheire um par de meias, vire ao avesso sua cueca de ontem, torça para a calça não andar sozinha antes de vestí-la, procure uma camiseta amarrotada, calce seu tênis, prepare um café bem forte, saia pela porta, lembre-se de trancá-la, chame o elevador, saia de seu edifício, caminhe até a parada de ônibus...

OLHE PARA A RUA SEU IMBECIL!

...na próxima vez ponha o óculos ao sair de casa.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Detalhe

Basta apenas um momento. Um pequeno detalhe no modo como sorriu ou fitou teu olhar sem graça.

Apenas isso para buscar músicas que ouviram juntos, algumas fotos que disse que parecia tanto com o modo como andava, lembrar o fato de que não durou mais do que uma noite.

O bastante para criar uma marca de rodapé em suas convicções.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Agonia

Já passava das duas da manhã e ainda não estava bêbada o bastante para o que pretendia. Odiava essa sensação de estar sozinha quando era tão desejada, odiava o olhar de desprezo ao se olhar no espelho por muito tempo.

Quantas vezes se enganou? Quantas vezes estava exausta de bancar a difícil quando queria apenas ser bem fudida. Quantas linhas foram gastas com insinuações e momentos cortados, as vezes proposital demais, enquanto se dobrava de tesão em seu quarto.

O desejo fazia seu ventre pulsar, esconder sua mão entre as pernas, mas tudo sabiamente controlado. Não poderia começar o que apenas o sexo poderia lhe dar. Queria o desejo do toque e da pressão sobre sua pele, nada que poderia resolver sozinha. Nada que seria apenas o catalizador de sua agonia, um ainda maior do que a conversa de horas atrás.

A garrafa estava no fim. Notava a língua grossa e uma sensação de queimação no estômago. Já estava mais lenta e um pouco mais sensível a própria casa, pele, aromas e roupas deixadas para trás.

Jogando-se na cama, foi passando mãos, face e pêlo por cada pequeno detalhe que guardasse cheiro. Deixou um soluço enorme ser cortado ao sentir seu toque, contra sua vontade, entrando dentro de si. Tão simples, tão fácil, tão abrupto que cortou seu ar.

Esse jogo continuou até voltar seu olhar para a mulher de cabelos colado ao rosto suado. Um segundo de paz que fez os olhos se tornarem tão vermelhos quanto a face, destruindo-a em lágrimas por ser incapaz de conter seus desejos além de suas palavras.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cruzadas Palavras

ACORDAR

........U

........R

........A

........NOITE

........T

......PENSANDO

..........A........P

..........S........O

....................R

....................T

....................U

....................N

....................I.....................F

....................DESPERDIÇADAS

....................A................. ..Z

....................D

..................PEQUENAS

....................S.....P

...........................I

...........................F

...........................A............S

...........................N............E

...........................I......QUERO

...........................A......U

...........................SOBRE

...................................M

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Megan Fox





- Você sonhou com quem?
- Com a Megan Fox.
- Aquela ridícula do filme de robôs?
- Que robôs?

Ela saiu de casa tão rápido que decidi voltar a dormir.

minha homenagem contra o dia do boicote a Megan Fox




segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tempo

Um menino de rua, caminhando em seus passos apressados e roupas puídas, parou em frente ao meu carro.

- Senhor poderia me dispor o seu tempo?
- Claro, pois não?

Ele movimentou suas mãos pelo ar em uma espécie de círculos perfeitos e então sorrindo me agradeceu e partiu.

Estou a uma semana olhando para o espelho buscando rugas, fios brancos, dentes amarelos. Não noto nada de diferente.

Se não fosse a covardia, estaria procurando minhas memórias.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Prometeu


"Encobre o teu céu ó Zeus com nebuloso véu e, semelhante ao jovem que gosta de recolher cardos retira-te para os altos do carvalho ereto mas deixa que eu desfrute a terra, que é minha, tanto quanto esta cabana que habito e que não é obra tua e também minha lareira que, quando arde, sua labareda me doura. Tú me invejas!

Eu honrar a ti? Por quê? Livras-te a carga do abatido? Enxugaste por acaso a lágrima do triste?

Por acaso imaginaste, num delírio, que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo por alguns dos meus sonhos se haverem frustado?

Pois não: Aqui me tens e homens farei segundo minha própria imagem: Homens que logo serão meus iguais que irão padecer e chorar, gozar e sofrer e, mesmo que forem párias, não se renderão a ti como eu fiz"

Goethe

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Panfletando

Invisibilidade é uma talento natural e impressionantemente constante. Aqueles rituais aparantemente complexos e arcanos dos Alquimistas, Ocultistas e Wiccas estão errados sobre suas poções, runas e orações. O único instrumento que é necessário para desaparecer aos olhos é um monte de papéis em mãos.

No clima seco de coloração avermelhada de Brasília a poeira sobe adentrando, cabelo, unhas, cílios e até mesmo o respirar se torna mais sólido do que você está acostumado.

- Vou te dar uma dica malandro, olhe nos olhos e diga - “Bom dia senhor. Bom evento”. - Assim eles pegam os panfletos.

Os carros estacionados estavam ondulando perto das duas horas da tarde e eu rindo das cores se mesclando enquanto recebia um gole de refrigerante do Carlos.

- Tú é doido de vir sem boné. Maior soleira nas idéias.

O interior dos carros das pessoas dão mais pistas sobre elas do que seu lixo. Existe tantas informações que por um momento pensei que estava montando peças que não existiam, mas quando você vê um celular quebrado, um batom deixado derretendo no painel e um casal voltando apressados sem olhar um para o outro, estava certo que eles realmente tinham discutido.

Existia também os carros abertos. Foram pelo menos três e quando fui avisar a produção do evento existia uma barreira enorme entre o homem do dia-a-dia e o mesmo com uma mochila e panfletos nas mãos.

- Obrigado rapaz. Aqui um trocado para o refrigerante.

Cinco reais nas mãos por avisar que seu carro estava aberto. Paguei uma cerveja para o pessoal dos planfletos. Ficamos conversando debaixo de uma árvore, sobre futebol, mulher e playboys. Então percebi a diferença de um dia para um trabalho diário quando Carlos virou para mim e gritou:

- Ô Eduardo! Sexta tem movimento lá no ParkShopping!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Paradigma

Essa é uma casa montada em sonhos, um conceito, uma ideia antes da reforma do retirar do acento da palavra idéia. Caminhos tortos em linhas retas que teimam seguir ordenadas por estar fora do papel.

- Por que está falando alto?
- Porque não importa o tom, não pode me ouvir em linhas.
- Escuto em caixas altas.
- ALTAS?! ALTAS caixas INCOMODAM seus OUVIDOS?
- Disse caixa alta, não altas caixas.
- Ah, como você é certinha.

Regras são importantes, são importantes até para entender o que é escrito.

- Isso foi uma fala ou apenas um narrador ditando uma fala?
- Isso o quê?
- Esse é seu problema. Você só enxerga o óbvio não é?
- Do que você está falando?
- Já clicou na palavra maçã hoje?
- Isso não é uma maçã.
- Assim como você não é uma garota de verdade é?

As palavras enganam, enamoram e buscam torres tão altas que somente os tolos se arriscam enxergar além delas.

- Arrisque mais e pule comigo.
- Eu odeio riscos.
- Você odeia viver! E viver ao meu lado te enche ainda mais de medos.
- Esse conceito é puramente metalingüístico. E metalinguagem é cansativa de quebrar, destrinchar, dechavar e entender.
- Paixões também são e nem por isso deixamos de lado em tentar.

Os olhos se reúnem tão baixos e finos que a lágrima teima não cair.

- Quer dizer que está apaixonado por mim?
- Não gatinha. Estou apaixonado pela idéia de estar apaixonado por você.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Conversa de bar V

- Qual é seu nome mesmo?
- Eduardo.
- Então Eduardo, sabe o que eu acho menos importante em uma foda?
- Nem idéia.
- Um cara que se preocupe com o orgasmo de uma mina. Isso é o que mais me irrita.
- Mas pensei que quase ninguém se preocupasse.
- Há há há. Quem dera! Isso é um saco.
- Mais um pouco de cerva?
- Hã?
- Cerveja. Quer mais?
- Claro.
- Bom e aê?
- Cara eu posso manter minha mão ativa enquanto ele me come. Logo essa neurose é ridícula.
- Há há há!
- Sério! Siririca não é deprimente em uma foda. É apenas uma forma de cada um se preocupar com o que está fazendo. Sem neuroses.
- Acho que uma penca de caras adoraria te conhecer.
- Prazer.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ela gostava de Placebo

As vezes quando estou sozinho ouvindo Allergic, me lembro bastante do que ela dizia sobre ver a música. Gostava dessas ondas de saborear o silêncio, sentir cheiros e ver música.

Menina doida de meias coloridas e de vestidos com cores de cortinas antigas. Brigamos vezes sem conta por minhas roupas simples.

- Como você pode usar a mesma calça três dias seguidos?
- Mas estão limpas.
- Ai... Não é sobre sujeira! É sobre manter a mesma cor sempre. Cadê a calça laranja que eu te dei?
- Eu pareço um lixeiro com ela.
- Meu docinho. Você é um lixeiro.

Odiava quando eu usava óculos. Dizia sempre que a olhar em foco era um pouco de perder o melhor dela.

- Quero tomar um porre de vinho hoje.
- Vinho não é bom para tomar porres, você vai ficar de ressaca o dia inteiro.
- Vou ficar de ressaca o dia inteiro... Vou ficar de ressaca o dia inteiro... Eu só fico de ressaca quando não bebo.

A faixa My Sweet Prince está tocando, enquanto estou olhando as coisas que ela deixou na cozinha. Um livro que ela fez questão de comprar e só lia umas partes, arrastava ele para todos os lados. Não lembro de ver ela saindo da terceira página.

- Tem haxixe?
- Um pouco. Misturo com tabaco?
- Por favor.
- Vai querer que eu prepare um brigadeiro para depois?
- Quero!

Algumas noites chorava baixinho, me deixava apenas ficar por perto. Parecia que mexer em seu cabelo curtos e escuros era o suficiente. Ela nunca me dizia o motivo, mas sempre me dava um beijo antes de dormir em meu colo.

- Estou indo tá?
- Tem certeza disso?
- Lógico que tenho.
- Não vou correr atrás de você. Sabe disso não sabe?
- Obrigada.

Estou segurando o cachecol colorido que deixou, enquanto termino de ouvir Burger Queen. Coloco em volta do meu pescoço, está frio lá fora e seria uma ofensa ficar chorando em casa, ao invés de aprender algo com meus erros.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jessica Rabbit




Como veio a minha memória do nada, achei obrigatório incluir aqui.

Etapas

- Você vai fazer alguma coisa hoje?
- Ainda não sei por quê?
- Acordei pensando em você.
- Ah, então deve ter sido um sonho bom.
- Na verdade meio tumultuado. Dormi mal para caralho.
- Me ligou para tentar dormir um pouco melhor hoje?

...

- Gosto dele desse jeito. Quando está excitado demais até para conseguir gozar.
- Mas quando o Marcos fica excitado demais ele termina rápido.
- Depende do dia. Tem algumas vezes que ele fica inchado. Dolorido demais. Você percebe que até quer gozar, as pernas tremem, mas tudo que ele consegue é mais e mais suor e aquele pulsar sem sim.
- Droga... Será que o Marcos vai para a faculdade hoje?
- Há há há! Liga para ele.

...

- Encontrou as meninas hoje?
- Só a Bianca.
- Como ela está?
- Ah, o de sempre. Um monte de trampo e reclamando da falta de atenção do Marcos.
- Eles namoram há quanto tempo?
- Uns... São o que? Quase três anos?
- Gatinha... Deixa ele, ainda estou dolorido.
- Mas está se animando assim mesmo.
- Uma coisa não corta a outra.
- Um beijinho de boa noite então.

...

- Vocês nunca vão começar a namorar?
- Nunca conversamos sobre isso.
- Ele vai continuar te enrolando enquanto você deixar.
- O que vocês fizeram ontem?
- Quem?
- Você e o Marcos.
- Nós saímos, fomos ver um filme.
- Qual?
- Transformers 2.
- O sexo depois foi bom pelo menos?
- Há há há... Foi sim sua escrota. Foi ótimo!
- Gostou do filme?
- Nem prestei atenção.
- Viu? Por que eu vou deixar de pular as partes ruins?

...

- Queria te encontrar hoje.
- Hoje eu ia sair com os meninos para tomar umas.
- Acha que vai ficar muito bêbado? Tipo, mais tarde?
- Te ligo.

...

- O que você acha de ficarmos juntos?
- Adoro.
- Não. Estou falando de namorarmos. O que acha?
- Você já assistiu Transformers?
- Hã? Já por quê?
- Então eu quero.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Intuição

Eles estavam ficando há quase um ano, era alguns momentos, suas saídas e a certeza que estavam melhor hoje do nunca estiveram algum dia.

As conversas eram divertidas, saudades sinceras e fodas sensacionais. Havia um pouco de cumplicidade, no olhar de filmes, momentos, fazer comida para ela e até mesmo ouvir sua respiração enquanto estava dormindo.

O que muda o caminho de duas pessoas? O que faz que o interesse dure alguns meses e morra em algumas semanas?

Não teria motivos para buscar respostas para isso. Não existiu nenhuma cobrança em relação ao dinamismo temporal e não haveria de existir agora.

Ela saiu como uma viagem final de haxixe. Deixando a sensação de uma mente lutando contra o acordar para a realidade.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos namorados



- O que você vai fazer hoje?
- Nada.
- Nenhuma balada?
- As festas hoje são caras e os restaurantes estarão lotados, vou evitar a fadiga e ir para casa.
- Nossa que triste.

...

- Triste?
- É.
- Ontem eu ir para casa era triste?
- Ai, desculpa é que...
- É apenas uma data, não é nada demais. Um símbolo para as pessoas se agarrarem, uma permissão de ser feliz, uma dia para perdão. Por que eu iria estar triste por não ter que criar algo, só porque me dizem que hoje é importante mostrar afeto?
- ...
- Espero que tenha uma excelente noite, que nada dê errado, que não esteja mestruada, que ele não beba demais e broxe. Eu não preciso de nenhuma pressão para ter um bom dia. E na próxima vez que me fizer alguma pergunta, que seja para se importar, não para tentar se sentir melhor.
- ...
- Idiota.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Confinada

Havia um espaço dentro de mim, uma área livre que era voltada para algo distinto dessa dor, corte e vergonha. Ela morreu junto com a liberdade de pensar em qualquer lugar longe dessas paredes e umidade que me cerca.

O cheiro de urina e fezes a minha volta não me incomoda. O cheiro forte de suor impregnado no que sobrou das roupas que rasgaram me incomoda mais. Foram quantos soldados? Tornaram-se apenas um amontoado de carnes, contra meu corpo dormente após o terceiro.

Sinto meu lábio inchado, percebo que está dolorido ao levantar meu rosto deixando parte dele colado ao cimento mal colocado, às pressas, como se tivessem uma necessidade extrema de finalizar um espaço para deixar os indesejáveis.

Por que nos punem dessa forma? O que faz esses homens senhores da verdade, da política, do dizer e do destruir corpos que buscam mostrar, aos demais, que todos somos livre?

...

A porta abre e vejo o vulto de dois homens me avisando que já descansaram o bastante. Que hoje vão adorar me ajudar a cagar durante a semana.

Engulo mais uma vez a mulher dentro de mim. Sou um espírito de luta, sou o desejo de mudanças, não sou uma mulher. Sou o simbolismo de todas que estão sendo violentadas e torturadas pelas mentiras. Mentiras essas que se tornam tão reais nesta cela.

Deus... Me ajude a morrer hoje.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Infarto

Eram 16:27 de uma terça-feira quando Arnaldo teve um infarto fulminante.

Os médicos disseram que uma obstrução da artéria coronária foi o motivo do óbito.

A mulher acusou o trabalho estressante que jamais deixava ele descansar.

A amante em prantos acusava a si, por cobrar o papel que não poderia ocupar.

O filho tinha certeza que foi o beijo que não pode dar de despedida para o pai que corria apressado.

Arnaldo estava apenas cansado da vida. E então pediu ao seu peito para sentir, de uma só vez, o amor que sentia por todos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Meus momentos musicais

Tem algo de narcótico em se ouvir música. A forma que ela trata nossos sentidos e embala ou recria momentos é tão brilhante quanto assustador. Tenho uma impressão medonha que algumas músicas existem para que eu me lembre do acelerar de minha respiração instante antes de um beijo.

Obviamente criamos pequenas coletâneas a cada envolvimento, mas algumas músicas parecem ser aquela pessoa e teimam em sempre trazer a tona, por um instante, o que você julgou esquecido.

Pode ser um relacionamento que durou anos e nasceu com uma música sendo cantada em uma cabana durante um flerte:

Outro que durou apenas um regado de música, arte, livros, conversas, discussões doces e nocivas:

Um pequeno flerte de dias que se prendeu em um sorriso:

Uma tentativa de deixar a rotina negada por crenças:

Uma linnha estranha entre amizade, desejo, encontros e discussões. Com sua vida útil limitada por preconceitos, temperamentos e incompreensão.

Hoje fico mais tranquilo, sei que o desespero de ouvir uma música e lembrar de alguém é sinal que aquelas pessoas deixaram algo. Outras passaram sem sequer uma estrofe digna de nota.

E as vezes, com sorte, temos a oportunidade de ouvir velhas músicas ou novas contando histórias estacionadas que voltam a caminhar.

Esqueçam o medo do som.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O que ouço por aí

Passando pelo setor comercial à noite:

- Ele é pequeno e gozo rápido.

Que homem seria mais honesto que aquele implorando um desconto de uma prostituta as dez horas da noite?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vernissage

Nessa terça-feira a Hill House no Casa Park estava com figuras expostas em murais. Vi o rascunho de meus amigos, seus trabalhos finalizados, alguns roteiros, poesias ilustradas e traços de alguém que já me obrigava a esticar o olho quando era apenas um moleque de 12 anos recém saído do Rio de Janeiro.

Foi a primeira vez que fui a uma Vernissage sem a intenção de beber em primeiro lugar e prestar atenção ao que se encontra a minha volta em segundo. Exposição é exposição, verni normalmente é um bando de gente conversando mil asneiras e roupas descoladas.

Gabriel Mesquita estava com os desenhos de seu caderno, preso na parede. Existia rascunho de roteiros (que me remeteu absurdamente aos rascunhos e roteiros de Hugo Pratt por uns momentos) e notava que pelo seu olhar que a qualquer instante ele simplesmente iria arrancar dali e levar tudo de volta para casa.

Gabriel de Góes definitivamente nasceu para isso. Nunca vi ninguém tão à vontade e tão confiante sobre seu trabalho e pessoa. Passava simplesmente pelos grupos incentivando amigos, conversando sobre roteiros, trabalhos, propostas e planos da mesma forma que pede um cigarro em um buteco.

Lucas Gehre é o mais complicado de expressar qualquer detalhe. Odeio pagar pau de amigos, mas alguns simplesmente não têm como esconder por muito tempo. Já leu um poema entre os traços de um quadrinho? Note o trabalho dele e você vai começar a ter uma noção do que estou falando. Como eu mesmo disse após algumas cervas. Esse cara é o Laerte do “Los Três Amigos”.

Tive um momento ridículo de emoção pelo mais simples trabalho divulgado sobre um vidro, não era de forma alguma nenhum dos desenhos que eu já tinha visto em rascunhos (um fato que até acusado de spoiler estou sendo por conta disso) era apenas três nomes de pessoas que eu conheço, que chamo de amigo e tomo umas juntos. Gostaria de ser menos piegas, mas a única palavra que me vem à mente é orgulho.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Judas Iscariotes

Esse personagem sempre me encantou.

Aprendemos a usar o termo como traidor, aquele que vendeu por 30 moedas de prata (que decerto não seriam realmente prata) o Rei dos Reis.

Judas não foi apóstolo por crença, ele foi indicado por Jesus de Nazaré. Seu papel era ser o contador, aquele que deveria zelar pelas posses dos apóstolos e futuramente o homem que o iria trair.

Sempre selecionado como o último entre os apóstolos a ser mencionado na bíblia, não possui um aspecto favorável e alma gentil, era um homem econômico que questionava gastos supérfluos de homens que deixavam de trabalhar e partiam em busca de fiéis.

Como poderia ser deixado de lado esses simples pensamentos aos que julgam Judas Iscariotes? Como julgar seu rancor contra Betânia ao gastar óleos aromáticos sobre a fronte de um homem? Como julgar o mais fiel dos apóstolos?

Simão o homem que carrega o selo da igreja, o primeiro Papa é apenas um fraco que traiu seu mestre, seu líder, seu salvador e messias. A igreja inicia sua construção sobre os ossos de um pescador frágil, burro e covarde a quem chamam de Pedro, um bloco de granito rachado.

Não pensam sobre o homem que mais amou seu messias, que adorava o homem, que percebeu que deveria cumprir seu papel como poucos conseguiriam. Judas fez mais pelo filho de carpinteiro do que qualquer outro. Ele seguiu com sua fé e garra o dever que deveria cumprir. Transformar Jesus em Cristo.

Pensem sobre sua fé, pensem sobre seus motivos e ouçam com atenção esse musical maravilhoso.


Heaven on their minds

My mind is clearer now.
At last all too well
I can see where we all soon will be.
If you strip away The myth from the man,
You will see where we all soon will be. Jesus!
You've started to believe
The things they say of you.
You really do believe
This talk of God is true.
And all the good you've done
Will soon get swept away.
You've begun to matter more
Than the things you say.

Listen Jesus I don't like what I see.
All I ask is that you listen to me.
And remember, I've been your right hand man all along.
You have set them all on fire.
They think they've found the new Messiah.
And they'll hurt you when they find they're wrong.

I remember when this whole thing began.
No talk of God then, we called you a man.
And believe me, my admiration for you hasn't died.
But every word you say today
Gets twisted 'round some other way.
And they'll hurt you if they think you've lied.
Nazareth, your famous son should have stayed a great unknown
Like his father carving wood He'd have made good.
Tables, chairs, and oaken chests would have suited Jesus best.
He'd have caused nobody harm; no one alarm.

Listen, Jesus, do you care for your race?
Don't you see we must keep in our place?
We are occupied; have you forgotten how put down we are?

I am frightened by the crowd.
For we are getting much too loud.
And they'll crush us if we go too far.
If they go too far....

Listen, Jesus, to the warning I give.
Please remember that I want us to live.
But it's sad to see our chances weakening with every hour.
All your followers are blind.
Too much heaven on their minds.
It was beautiful, but now it's sour.
Yes it's all gone sour.

Listen, Jesus, to the warning I give.
Please remember that I want us to live.
C'mon, c'mon
He won't listen to me ...
C'mon, c'mon
He won't listen to me ...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Fim de campeonato

Fim do campeonato carioca. O Flamengo fez sofrer Botafoguenses e Flamenguistas indo à defesa por pênaltis antecipando o Tricampeonato. Já estava meio alto, passei a tarde assistindo com os amigos e entre o fumar de um baseado e o beliscar de uma lasanha, estava roendo as unhas que doíam de curtas no momento.

Fui desligar a televisão, era domingo e agüentar Faustão definitivamente não estava nos planos. Os amigos se foram e então decidi fazer uma gelatina na esperança de apreciar o glutanismo noturno quando comecei a ouvir os gritos.

Uma menina do prédio em frente gritava ao celular, estava na varanda e a acústica do final da asa norte permitia ouvir toda a discussão. O namorado não tinha voltado, disse que iria em algum lugar e no momento se encontrava no meio da Esplanada enquanto a menina estava trancada no apartamento.

Deixou claro que não era palhaça. Ditou prazo de cinco minutos com a certeza que caso se atrasasse qualquer um segundo a mais, iria terminar com o namoro. Depois mudou para quebrar a casa, que ele não a conhecia, fez e aconteceu. Fez o Diabo.

Comecei a pensar em meu apartamento. Caso quebrassem ele inteiro seria um problema e iria ficar muito triste, comecei a me sensibilizar com o camarada do apartamento em frente. Comecei a pensar em quais seriam os motivos para ele não chegar a tempo e deixar a iconoclasta dentro de seu lar.

Será que ele era Flamenguista e estava comemorando com os amigos? Mas se era, porque não assistiu ao jogo em casa? Teria saído no intervalo e parou para ver em qualquer outro lugar? Teria conhecido em um bar uma menina de pernas grossas e voz suave que decidiu continuar bebendo com ele na Esplanada, talvez um sexo apressado no carro ou apenas um guloso?

E se fosse Botafoguense? Além de perder o campeonato voltaria para casa para ouvir ainda mais desaforos? Esperei com fé que estivesse bêbado em um estado não agressivo, mas confesso que fiquei pensando em ouvir qualquer barulho com o 190 de prontidão no celular. A polícia receberia a cobrar?

Sei que no final das contas ouvi mais umas discussões quando o cara chegou 37 minutos após o prazo estabelecido pela namorada. Ela dizia que não era palhaça, que aquele relacionamento havia acabado, que ele era um escroto, sem noção, responsabilidade e integridade. Foi gritando para a rua dizendo acabou. Acabou!

Minutos depois estavam urrando pela janela, trepando para que todos ouvissem que estavam em paz. É... Vale a pena perdoar um homem ao fim de um campeonato.

terça-feira, 28 de abril de 2009

CashBack



Faça um favor a você mesmo e assista.

Mr. Hyde

Li ontem palavras de um cara que obviamente criticaria pelo o que disse a uma mulher. Um idiota que usava pessoas e as classificava com seus interesses no momento: seja o sexo casual, conversas soltas, discussões e até mesmo confidências.

Então por um segundo me senti culpado e no próximo me perguntei o porquê disso. O motivo, mais uma vez, foi pior do que a ação que o gerou. Um ego estúpido de ser o pior homem do mundo para uma mulher.

O que isso iria diminuir o fato de ter sido o melhor para outra? O que isso mudaria ter sido banal para uma terceira?

Se importar com o que deixa para trás é como glacê em um bolo de casamento. Doce demais para sentir algum sabor e ruim demais para o coração.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Compras

- Vai querer Barilla ou levo qualquer outro?
- ...
- Oi?
- Leva, pode levar o Barilla.
- Que número?
- É molho ao Sugo?
- Você que vai preparar.
- Leva o sete.
- Chamou o Olavo e a Cíntia?
- Não. Pensei que você iria ligar para eles.
- Eu estava fazendo a lista.
- Que lista?
- De compras. Que lista?!
- Então por que está me perguntando qual é a porcaria de macarrão que vamos comprar?

terça-feira, 7 de abril de 2009

olhando pela janela




Tenho odiado fins ultimamente
Vi um casal terminado hoje e chorei
Deveria chorar mais pelos meus

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Livre depressão

Corte fundo, deixe algo quente descer pintando o seu braço, estendendo o seu corpo além de seus pés, deixando-se diluir e finalmente estar livre de tudo que representa seus sentidos.

Esses que são tão errados quanto a linda mentira de paz e descanso negado por permitir apagar a luz que pertence a si mesmo.

Que os egoísta que você chama de amigos te blasfemem e sofram por ti. Eles não entenderiam do peso que está se livrando, da dor que jamais conseguiu contar a eles.

Não pense em deixar cartas de despedidas. Seria um óbvio contato para um auxílio que não faz mais diferença.

Corte fundo e deixe o calor apagar, aos poucos, junto com a sua dor.

22:22

Alguém me disse uma vez que ao notar todos os números idênticos no relógio significa que alguém está pensando em ti.

Quem estaria ocupando seu tempo com minha presença em seus pensamentos?

Usaria esse instante para me ofender, me agraciar, sorrir ao lembrar de meu rosto ou terminando de gozar?

São 22:23. Quem quer que estivesse pensando em mim não me ligou.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Princesas

Dera este texto estar comentando sobre o belo filme espanhol de mesmo nome. Estou apenas comentando uma coincidência de contos infantis divulgados pela Disney depois de uma conversa divertida.

O que temos em comum entre a Cinderela, Branca de Neve e Jasmim? Todas são princesas, todas possuem uma enorme riqueza e vida de luxo até passarem por algum drama.

Uma foi exilada, outra entrou em coma e a última ficou deprimida em seu castelo no meio da Arábia. Sim mas isso não é a única coisa que elas têm em comum. Elas são resgatadas de sua triste posição por conta de um príncipe encantado.

Um cara matou uma bruxa e com um beijo conquistou a Branca de Neve, outro lutou contra espinhos, dragão e com um beijo despertou Cinderela e a última teve um passeio para fora do muro de seu castelo em um tapete mágico e conheceu o mundo.

Uma analogia interessante não é?

Não importa o quanto as mulheres estejam em papel de destaque, bem sucedidas, cabeças bem resolvidas e ciente de sua sexualidade. Elas precisam de seus príncipes para ser consideradas felizes.

Leia revistas como Cláudia, Marie Claire, Vogue e outras e você vai ver o mesmo conto de fadas sendo repetidos vez após vez.

Qualquer mulher que queira ser solteira, viver sozinha, pegar milhares de caras ou simplesmente manter um relacionamento aberto sem nenhuma cobrança é automaticamente considera uma estranha, uma vadia, uma coitada e em alguns tristes casos uma falsa.

Por isso eu acredito que a mais bem sucedida mulher de contos de fadas é a Bela. Sim, a camponesa que adorava livros e tinha uma vida simples ao lado de seu pai inventor.

Ela ao contrário das demais princesas não estava preocupada em ser resgatada, queria apenas o mundo de seus livros, um conceito romântico de um mundo que ela via em prosa. Ela não foi obrigada a passar por uma situação degradante, ela optou ser presa por amor ao pai, para livrá-lo da Fera.

Assim a menina que lia, que buscava encantos em seus sonhos e de amor incondicional ao seu pai foi libertada pela Fera. Ele sabia que não poderia prender uma mulher que sempre foi livre. E assim, a teve de volta a seus braços.

Sim, ela se apaixonou e escolheu estar ao lado de seu príncipe. Ela não foi escolhida.

Voem mulheres. Busquem seus sonhos e parem de viver fantasias.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sensações

É solitário diante da presença de quem não se quer por perto. Quem dera se lembrar de algum momento que não estava angustiada diante do que julgava ser suas realizações e sonhos.

Estaria tão separada de seus caminhos? De suas escolhas? Ou sequer lembrava-se quem era antes ter escolhido o parceiro ideal para sua caminhada diante do que todos chamam destino?

A certeza era esse tremer de pernas e respiração ofegante diante das perguntas incessantes dos amigos e todo o novo grupo que teve que aprender a sorrir e tratar como iguais, por fazerem parte da vida de quem conheceu para viver sempre ao seu lado?

Poderia apenas viver com quem ama com a certeza ao sorrir e chorar ao olhar para os seus olhos. Deixar de lado esse medo tolo de estar encaixando alguém em sua vida por não ter uma própria.

As pessoas sorriem quando estão juntas. Por que não poderia sorrir como todos? Por que simplesmente chora todas as noites como uma idiota por ter dito simplesmente sim?