segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Retrospectiva

Duas paixões, uma despedida, em forma, alguns problemas de saúde, risadas, samba, de volta ao plano, desenvolvimentos pessoais, recuo do cabelo, um pouco mais de dinheiro, algumas dívidas, drogas para momentos alegres e tristes, uma lágrima, novas cantoras, experiências, fios brancos, troca de tons, orgasmos intensos e fracos, encarando meu pai como amigo, beijando minha mãe, sentindo saudades do Rio, absorvendo arte em várias formas, poucos filmes bons vistos, reunião com amigos, boas conversas, mulheres dizendo que me amam, mulheres dizendo que me odeiam, dormindo na rua, olhando pessoas pela rua, rugas, admirando paisagens, suspiros longos, gargalhadas, livros parados na metade, 165 textos publicados, músicas que sempre lembram alguém, a certeza que alguns sorrisos sempre me encantam e que o passar dos anos é necessário.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um homem sem fé

Minha mulher estava estava debaixo de um saco plástico preto e surrado. Sua perna estava com marcas e o sangue pisado estava preso em uma mecha de seu cabelo, estranho como conseguimos diferenciar sangue coagulado em um cabelo negro a noite, os policiais me diziam que ela provavelmente havia sido estuprada.

A menina caída a alguns metros a frente era minha filha, digo que era não pelo fato de estar morta e sim pelo rosto disforme que foi visto por mim quando levantaram uma página de jornal que rasgou por colar em seu sangue.

...

Estou olhando um homem pregado a uma cruz durante três horas.

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Na mesa de um restaurante vejo pessoas conversando, sorrindo, um casal apaixonado se beijam e uma senhora diz adeus a sua filha.

- Vá com Deus minha filha.

Eu disse isso a minha mulher e filha quando me despedi delas na sexta-feira. Olhei o rosto das duas no domingo. Elas estavam sozinhas quando acontecera ou estavam com Deus?

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- Meu filho, sua dor é grande, mas Ele tem seus planos. Todos nós partimos de alguma forma. Elas estão na graça de Deus.
- Estupradas, espancadas, fatiadas e mortas. Esses são seus planos para duas pessoas boas?
- Quem age desta forma são os homens. Eles pecam, não Deus.
- E Deus pode perdoá-los?
- Deus perdoa a todos que abrirem seu coração.

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Um tiro na joelho e vários cortes pelo corpo do sacerdote. Creio que ele demorou uns 40 minutos para morrer. Estava gritando, chorando, implorando e blasfemando.

40 minutos para um homem de Deus morrer e mesmo assim Deus não estava ao seu lado. Deus não intercedeu por ele, não intercedeu pela minha mulher e não intercederá por mim.

Aponto a arma para minha cabeça.

- Quero ver o que tem a me dizer, seu filho de uma puta.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Medidas

Meninas reunidas em uma mesa de bar enquanto o sambinha ao vivo toca animado. Uma delas estava gargalhando até um rapaz passar por elas e com um sorriso sem graça cumprimentar as duas na mesa e parar um instante, deixando claro um ar incomodo ao focar uma em especial.

- Tudo bem Fernanda?
- Tudo.
- Difícil te encontrar viu?
- É? Ando nos mesmos lugares de sempre.
- Pode ser... Bom, nos vemos por aê. Inté.
- Inté.

...

- Vocês terminaram há quanto tempo mesmo?
- Quase um mês.
- Você está bem Fê?
- Ótima.
- Vou pedir mais uma cerveja.
- Sabe o que me irrita? Éramos amigos antes. Porra, sempre estávamos fazendo tudo juntos.
- Normal Fé.
- Normal um cú Beatriz!
- ...
- Sou amiga de um cara massa. Curto ele horrores e parece que só porque eu resolvo chupar o pau dele, ele não consegue mais me cumprimentar como uma pessoa ao terminarmos.
- Eu te avisei. O Jorge não sabe se envolver com ninguém. Você mais do que qualquer uma deveria saber disso.
- Cara, não quero transar com ele, não estou pensando em voltar para ele nem nada do tipo. Apenas não quero ser tratada da mesma forma que ele trata essas retardadas que ele pega.
- Há, há, há. Mas você foi Fé. Esquece isso.
- Como é que é?!
- Querida acorda! Lembra quando ficamos ouvindo as histórias das meninas do Jorge? Fulana manda mal nisso, é grudenta demais, preciso de espaço e o caralho... Fê, fiquei ouvindo isso sobre ti durante toda as últimas semanas de namoro de vocês.
- ...
- Jorge é lindo, um fofo com as amigas. Mas basta entrar em uma mina para se tornar um idiota completo. Vai por mim Fernanda, eu jamais abriria mão das conversas que posso ter com ele por 19 cm de pau.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Brasília me envergonha

Fui ao meu primeiro show da Maria Rita ontem à noite. A turnê da nova queridinha da MPB é focada no samba em uma voz maravilhosa e um molejo de quadris que fizeram a ala feminina gritar GOSTOSA deixando qualquer homem tímido para tentar estar um tom acima aos elogios.


Era uma homenagem as vozes de São Paulo. Abrindo com os Demônios da Garoa, que conseguiu me fisgar de vez com a simplicidade e carisma de palco, o louco de pedra do Jair Rodrigues (que me levou as lágrimas com Romaria) e a esperada da noite abrindo às 23 horas Maria Rita, que me transformou de ouvinte a fã sem nenhuma dificuldade.


Um festival de bom som, qualidade, humor e a certeza de que essas pessoas nasceram para a música, vivem dela e não envelhecem como a maioria de nós infelizmente virá a envelhecer.


Quando digo a maioria de nós, digo o público que assistia sentado (alguns dormindo) em desrespeito a um som que foi criado para salões abertos e sapatos que deslizem pelo chão. Ao suor que desce em uma nuca morena e no abraçar colado daqueles que sabem que algumas músicas foram criadas para eles e que se dane quem esteja em volta.


Um artista pedir para a platéia se levantar é uma ofensa. É a prova que o público pagante (vide a primeira geração brasiliense) deveria deixar a nostalgia de lado e fazer que seus corpos acordem doloridos na terça-feira, que acordem sem voz, mas que dancem porra! Afinal, isso é samba.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Bailarina

Renata gostava de dançar sozinha em seu quarto apenas de blusa e calcinha. Girava pelo cômodo em uma dança frenética e animada, mexendo com velocidade o cabelo e com malemolência os quadris ao ritmo do som animado e dançante as duas da manhã.

Perdera a conta de quantas vezes os vizinhos batiam abaixo de seus pés. Achava graça na verdade, era como um parceiro solicitando um desafio ao som de seu solado, que magistralmente pousavam como resposta.

Quando ia as festas os meninos sempre se aproximavam, perguntavam se poderiam dançar com ela, alguns dançavam em sua volta e desistiam quando percebiam que estavam dançando sozinhos. Isso incomodava a eles, mas para a bailarina solitária era como todo o restante a sua volta, apenas paisagem.

Ela e o som eram amantes. Era dele que ela buscava o calor que as suas amigas buscavam nos corpos. Era dançando que ela beijava, transpirava e fazia amor. Era o orgasmo sem egoísmo, sempre ao seu modo e sempre intenso.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dia de samba ou dia do samba?

Estou me emocionando fácil por tudo que bate, vibra, movimenta quadris de moças e criar suor hoje. Acordei ouvindo sambinhas. Passei o dia ao som de Noel e entrei a tarde com Moreira, Clara Nunes, Paulinho, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Chico Buarque, Bezerra, Cartola e hoje no desânimo que me atingia pelo morrer do samba... vem em vozes novas de Maria Rita, Mart’Nália e Marcelo Camelo (ponto para você Mah).

Adoraria ser um mestre do bom som como meus amigos. Tenho para mim dois grandes guias que não somente gostam de samba, mas tem em seu dia-a-dia, sua pessoa e modos tudo que ele compõe. Deve ser por isso que gosto tanto dos dois e vivo aprendendo um pouco a cada encontro.

De Gabriel meu irmãozinho de Panamá, carrego com orgulho os passos do “tranca”, no bebericar da cachaça, o cortejo maroto para as moças e o som matreiro de Moreira da Silva e o poeta da Vila marcado para sempre no nome Noel.

De Maíra Brito... Ah, essa mulher é o samba de uma forma que apenas as mulheres são. É o sorriso, molejo, graça e sagacidade em respostas. É quem me passa Vanessa da Mata, Mart’Nália, Cartola e até mesmo me convenceu a parar de olhar torto para o Camelo.

O samba é meus amigos mais próximos, é rir, dançar, beber cerveja em bares, nas umbigadas com namoradas e sentar na mesa do Tartaruga com os amigos de minha mãe, bebendo cerveja e dançando até ir dormir com o ritmo latejando em minhas coxas.

É um dia em homenagem ao samba e principalmente para uma menina ruiva que dividiu sua vida comigo por três anos e me mostrou que minha cidade estava dentro de mim, mesmo me escondendo dela em flanelas e pôster de bandas.