quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Hunter S. Thompson

"A imprensa é uma gangue de covardes impiedosos. Jornalismo não é uma profissão, não é nem mesmo um ofício. É uma saída barata para vagabundos e desajustados - uma porta falsa que leva à parte dos fundos da vida, um buraquinho imundo e cheio de mijo, fechado com tábuas pelo inspetor de segurança, mas fundo o bastante para comportar um bêbado deitado que fica olhando para a calçada se masturbando como um chimpanzé numa jaula de zoológico."

Hunter S. Thompson

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Conversa solta

- Você deveria se instruir mais.
- Não entendi.
- Levar mais a sério sua vida. Sabe? Se formar.
- Ah... re re. Entendi. Um curso superior é automaticamente instrução?
- Claro que é.
- E quanto ao que leio? O que passo meus olhos? O que conheço, ouço, vejo, vivo?
- Essas coisas também contam.
- Também... Sabe qual é o maior problema nessa linha de discussão? É o simples fato de conhecer algumas pessoas formadas mais idiotas do que eu e algumas não formadas mais inteligentes do que você. Qual seriam os argumentos em defesa disso? Talvez uma visão míope não esclarecida por falta de uma perspectiva acadêmica?
- ...
- Mas na real você está certa. Conteúdo algum aumenta meu contracheque.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

errata - autor

por motivo de força maior, bom senso eu diria, a última crônica/conto/erro/mal gosto/tragicómico texto envolvendo vampiros, que seria uma ideia vaga para algo que talvez virasse uma paródia de tão mal gosto quanto o tema, não será concluída.

agradeço a compreensão e peço desculpa para qualquer leitor que tenha passado os olhos em talvez uma linha dessa cretinice.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Horror - parte 1

O homem alto em pé ao lado do bar deixava o seu olhar para a pista de dança do Gates. Hoje era uma daquelas noites agitadas onde várias pessoas se agitavam ao som de Rain Down e em particular uma menina de cabelo em um corte que dizia ter sido um moicano há uns três meses atrás.

Ela tinha deixado de dançar sozinha há algum tempo. Tentava continuar olhando para a pista ou talvez seus pés mas por duas ou incontáveis vezes o olhar estava preso no homem magro de bermudas e regata que a encarava como se ela dançasse sozinha.

Ela passou por perto dele, o suficiente para que ele notasse ela suada encostando de leve o seu ombro com o dele enquanto esperava ser atendida. A longneck de Stella estava estupidamente gelada quando ela brindou com o desconhecido sorrindo.

- Tá quente demais aqui para ficar sem um drinque.
- Não bebo.
- Sério? Essa saúde toda é para manter a forma ou só não aprendeu com quem beber ainda?

O sorriso do homem mostrou dentes impecavelmente brancos. Tão lisos que ela ficou pensando em como seria passar a língua por eles. Estava excitada e mordeu os lábios sem querer.

- Vamos para a pista?

O homem a segurou pelo pulso. Ele tinha uma pele macia e era firme o bastante para não suar ao tocá-la como todos os meninos que já tinha ficado. Ela abriu os olhos um instante antes de beijá-lo e ele tinha a língua mais vermelha que já tinha visto. O beijo a deixou desorientada e arrepiada por inteira. Ela estava ouvindo de longe alguma música que não conseguia mais identificar.

- Quer sair daqui?

Ela iria para qualquer lugar com esse homem. Pertencia a ele. E ele sabia disso, por que esse jogo de perguntas?

...

Ela não se lembrava de como tinha chegado nesse apartamento, nem onde estavam suas roupas. Ela estava com frio e sentia seu ombro dormente até o pulso como a sensação de dormir por cima do próprio braço por horas. Tentou se levantar mas não tinha ânimo algum e quando tentava olhar em volta tudo que seus olhos focavam era um lençol fino e molhado.

- Droga... Eu me mijei? Alô? Ei...

Ela colocou as mãos no lençol e sentiu ele empapado e grudento, quando olhou com calma notou que ele estava sujo de sangue. Estava com muito sono e tentou ficar acordada e olhar com firmeza para o lençol. Sangue era muito sangue.

- Céus... Meu Deus... Meu Deus...

A porta abriu e ela viu saindo do banheiro o homem da noite anterior, molhado como quem acabasse de sair do banho e ainda assustadoramente atraente. Tinha os olhos fixo ao sangue nos lençóis e então agachou ao lado da menina.

- Dormiu bem Thaís?
- Eu... Preciso de ajuda. Por favor... Por favor... Não vou falar nada para ninguém. Por favor!

Ele levantou a mão como quem pedisse silêncio e de repente pareceu meio triste como se lembrasse de algo distante e absurdamente doloroso.

- Você deve conhecer todos os filmes, livros e séries que fazem sobre nós hoje em dia não é mesmo? Nunca estivemos tão populares.

Thaís olhou para seu pulso e então percebeu que ele tinha sofrido diversos cortes, notou que a seu lado existia duas facas e alguns cordões de borracha soltas pela cama.

- Ah sim... Não temos as famosas presas que vocês tanto amam ver nas telas. Por que iríamos ter? De que vale essa associação com ereção para corpos mortos?

Ela iria começar a gritar mas ele a calou rapidamente e com força e então foi se aproximando devagar e com um carinho que ela não imaginou ser possível.

- Mas não se preocupe você não vai morrer Thaís. Como disse estamos na moda e precisamos de um pequeno momento juntos para te mostrar um mundo novo. Vou te manter calada porque infelizmente vai doer, e muito, por um instante.

Ele afundou os dentes em seu pescoço travando como uma prensa e ato contínuo arrancou um naco de carne, veias e sangue. Se Thaís agradeceu por algo foi ter desmaiado em segundos.

continua...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Detetive ao som de pagode - Final

Resolvi marcar o encontro na parte superior da Rodoviária. Eram quase três da manhã e é impressionante como o centro da capital do país parece quase morta em uma quinta-feira. O carro prata entra no estacionamento e vejo meu contratante ao lado de um muro que só posso dizer que é um homem por conta de seu olhar.

- Onde está a menina?
- Segura e longe de você senhor Deputado.
- Você me disse que tinha algo para mim.
- Tenho uma pergunta. O senhor sabe o por que Brasília é uma cidade tão seca?
- Hã?
- Para todos os políticos poderem viver de mãos molhadas.

...

Cinco horas atrás eu finalmente consegui encontrar Meirilucy da Silva Morim. A menina sabia tanto sobre esconderijos quanto eu sobre ganhar dinheiro. Fazia dias que estava mudando de pensão em pensão entre o plano piloto e o núcleo bandeirantes e finalmente no 11° quartinho barato eu bati na porta certa.

- Sabe menina - eu disse enquanto ela abria a porta. – Você deveria ganhar tempo saindo do estado e não rondando por Brasília e entorno. Antes de sair correndo não estou aqui para te entregar, sim eu fui contratado para achar a pobre filha de um deputado... mas algo me diz que você não é a filha do crápula, ou estou enganado?

Ela caiu em meus braços chorando e apertando todo aquele colágeno contra mim. Adoraria dizer o quanto fui integro e honrado e que decidi ajudá-la por uma questão moral. Digamos apenas que meus honorários aceitam escambos vez ou outra.

...

O gorila que certamente pertencia a alguma recanto do inferno antes de decidir esmagar homens para viver colocou sua mão dentro do paletó, incrível que consigam fazer ternos desse tamanho, e deixou a arma a vista.

- Creio que estamos tendo apenas um mal entendido aqui. A questão foi o valor? Tenho mais três mil dentro de um envelope aqui comigo. Só quero ter certeza que encontrou o que eu pedi para você.
- O senhor me pediu para encontrar a sua filha. E para minha surpresa Mel Morim não possui nenhum pai, seja deputado, pedreiro ou bicheiro. Também não encontrei nenhum deputado recém-eleito com o sobrenome Morim que tenha recém se mudado para Brasília e como o senhor não riu da piada acertei sobre não ser deputado certo?

O homem soltou uma risadinha cretina como se tivesse algum volume dentro de suas calças. Convenhamos, com um monstro daquele ao seu lado ele não precisava de bago nenhum, tinha dois de sobra.

...

Após a melhor foda de minha vida, mesmo não ouvindo hino algum tocando de fundo, fiquei deitado pensando a respeito do que a menina tinha me contado. Fugindo de um homem violento e possessivo, que tinha tesão em bater em jovens prostitutas e as vezes até mandar seu capanga participar do joguinho.

- Ele é um monstro. Nunca vai me deixar fugir. Ele vai me matar.
- Provável, bem provável.

...

- Tenho o seguinte acordo a fazer com o senhor. A menina nunca mais pisa nessa cidade, nunca tocaria no seu nome com ninguém e esqueceria qualquer coisa que tenha escutado por acaso entre os lençóis como uma dama. E se todos estiverem de acordo o senhor pode guardar os três mil que iria me dar e fingir que nunca entrou em meu escritório.
- O que te faz pensar que eu não vou mandar o Silas aqui – O animal tinha um nome, Silas. – te meter duas balas na barriga e te obrigar a nos levar até ela enquanto você sangra?
- O fato de eu ter toda essa conversa sendo gravada nessa pequena caneta em meu paletó.

Os dois ficam me encarando por um momento e então eu ouço o som surdo de dois disparos. Sinto como se de repente começasse a chover, minha perna fica mole e sinto meu estomago em uma queimação da pior azia que eu já tive. Sangue. O filho da puta atirou. Maldito blefe de filme estrangeiro!

Caído no chão vejo aquele brutamontes se aproximar de mim junto com o magricela filho de uma puta sem bagos que me contratou.

- Muito bem seu bosta! Eu não vou esperar muito de você além de balbuciar palavra por palavra aonde a maldita vadia está. Fale!
- Vai se fuder...

O punho do gorila segura o que pode ser minhas tripas, espero que esteja suja de merda.

- Vamos cara. Você é um derrotado que ninguém se importa. Se me disser onde a vagabunda está eu te levo ao médico, te dou uma grana para viver de cachaça barata até o fim de sua vida e se tudo der errado te dou no mínimo um enterro decente.
- ...
- O que você tem a ganhar defendendo aquela mina? Ela não é ninguém! Olhe para você. O que você já terminou em sua vida? Colégio? Faculdade? Uma boa carreira?
- Dois casamentos.

Sinto o animal apertando com mais força e agora a merda, urina e lágrimas não ficam mais dentro de mim.

- Eu falo! Eu falo! Eu falo! Filhos de uma puta chupadores de suas próprias picas! Eu falo!

Então ele se aproxima o bastante para eu enfiar uma bala na orelha do colosso que aparentemente também era feito de carne. O imbecil olha para o corpo caído que era a única coragem que tinha e cai de joelhos junto comigo.

- Eu... Eu não preciso saber de nada. De nada! Vamos, você está perdendo sangue... Meu Deus olha seu terno. Vamos... Eu... Nós podemos deixar...

Dou um tiro certeiro no olho e então caio de lado segurando o que sobrou de minhas tripas. Adoraria dizer que esse era o plano, adoraria ter atirado antes, adoraria não ser miópe e adoraria não ter um fraco por rostinhos bonitos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Detetive ao som de pagode - 2 parte



Acordo com uma dor de cabeça digna de quem apanhou de um trator. Olho a minha volta e tudo que vejo, em meio a um borrão, é algo que identifico com muito esforço ser uma mesa quebrada no lado esquerdo. Tento me levantar e sinto meus rins doendo como se implorasse para que eu continue deitado. Superando a dor eu encaro o espelho a minha frente e acendo um cigarro.


- Maldita ressaca e maldito adiantamento de dois barãos.


...


Tomo uma ducha gelada e viro mais um copo de uísque, desta vez um que preste, junto com dois Engovs. Coloco meu terno, saio de meu escritório e vou para Conic ver o Rodrigo. Desde um último caso envolvendo uma traição pela internet tenho trabalhado com esse mancebo de 20 anos. Ele é dono de uma LanHouse próxima de uma maldita loja de skatistas e por proximidade gosta de se vestir como um deles sem nunca ter pisado em um skate.


Entro na Lan com dois cafés expressos e um saquinho com um enroladinho de queijo e presunto.


- Caramba coroa. Tava na zona ontem?
- Foi... Encontrei sua mãe por lá. Ela mandou perguntar quando você vai visitar o seu pai.
- Meu pai morreu há dois anos Madureira.
- Acho que ela tá com pressa que vocês se encontrem.


No tempo que entrego o café e desembrulho o salgado o garoto já virou o café como se fosse cachaça. Depois fixa o olho na tela e fala sem nem olhar para mim.


- O que você está precisando? Tem o nome da adúltera da vez?
- Meirilucy da Silva Morim.
- Puta nome fudido.
- É duvido que ela use esse nome também. Mas vamos arriscar esse primeiro.


Passa mais ou menos uns 40 minutos enquanto ele começa com seus papos de sempre.


- Cara a cidade é suja e suja todo o restante com ela sabe? Olha os pombos, cães e mendigos. É como se esses animais em estado natural fossem lindos... Quem estraga eles é a cidade cara. Ela que é suja!

- Achou alguma coisa?
- Tem uma tal de Mel Morim. Mas não está exatamente em um exemplo de família.


A tela fica piscando em um tom vermelho escuro. E entre diversos nomes e lingeries eu vejo o nome Mel Morim logo abaixo a uma incrível bunda hermeticamente socada dentro de uma calcinha preta.


- Belas Daqui?!
- É um site de acompanhantes para ricaços. Nenhuma das minas daqui custam menos de 800 contos por programa.
- 800 contos?! 800 contos por uma buceta?
- Oras Madureira! É uma princesinha, quase uma modelo. Vai dizer que não pagaria isso para traçar uma deusa dessas se tivesse grana sobrando?
- Uma buceta teria que me fuder cantando o hino do botafogo para eu pensar em pagar isso.
- ...
- Diz aí qual é o telefone de contato e onde a encontro.


Nenhum sucesso pelo telefone. A menina já não atende e tudo o que eu tenho são algumas possíveis amigas. Horas de telefonemas desperdiçado. Nenhuma das putas diz onde ela está ou se sabem algo sobre ela.


Caminho emburrado pela cidade... algo está errado. A ficha simplesmente não cai. Onde está a maldita menina? Por que escolheu essa merda de profissão tendo um pai com tanto dinheiro...


- Porra Madureira! Tú é uma anta!


continua...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Detetive ao som de pagode - 1 parte.

Uma vez, nem me lembro exatamente quando, li ou provavelmente ouvi que quando estamos próximos de morrer revemos toda a nossa vida. Acho que isso é a maior balela que alguem já inventou. Tudo que estou vendo é uma poça de sangue grudenta e o cheiro de urina com merda em minhas calças. Se alguma coisa em meu passado está vindo a minha mente é: por que diabos eu aceitei a porcaria de um caso que me enfiou duas balas na barriga?

Meu nome é Antônio Carlos Madureira. Tenho um escritório no terceiro andar do Vênacio 2000 e cobro 300 contos para tirar fotos de maridos infieis, fotografar enteados bichinhas e as vezes, com sorte, encontrar alguma criança que fugiu de casa e entregar para os pais. Foi nessa merda que me enfiei quando deixei aquele magrelo fudido entrar em meu escritório.

O homem era um saco de ossos de dar pena. Usava blusas finas, o que deixava sua aparência ainda mais frágil, parecia que com um aperto de mãos o pobre miserável iria desmontar. Mas era bem vestido e se algo em minha ofício me deixa focado são sapatos caros. E ele tinha pisantes bons o suficiente para ouvir sua história.

- Senhor Madureira, eu não sei exatamente se o senhor me conhece.
- Não conheço e nem preciso conhecer o senhor. Vai soltando a rabiola que cobro por hora.

O homem ficou estático por alguns segundos e depois me contou sua triste história. Era um deputado que veio para brasília antes de sua família. Estava montando tudo para saber onde os filhos poderiam estudar e em qual super quadra funcional iria morar após a posse. Dúvidas sobre proximidade escolar, farmácia, hospitais e essas coisas.

- Estranho os hospitais serem em cada extremo nessa cidade.
- Mais estranho são os que ficam no centro. Mas não se preocupe que por esses o senhor nem vai passar por perto.

Então após duas doses de uísque barato, que ele não recusou para minha admiração, ele começou a contar o motivo da visita.

- Tenho uma filha de 16 anos, ela vai fazer 17 daqui a dois meses. Ela ainda estava com a mãe enquanto eu organizava as coisas por aqui e… bom, a última…

O homem começou a chorar copiosamente em minha frente. Já vi muitos homens chorando em meu trabalho, a maioria quando mostro as fotos de pornografia soft caseira de suas respeitáveis senhoras com amantes, mas confesso que um pai chorando pela filha desaparecida era de doer o peito.

- Tem uma foto da guria?

Ele me estendeu com as mãos trêmulos uma imagem de uma ninfeta que era um escândalo. Queria realmente me solidarizar com o pobre a minha frente mas a ereção eminente me proibia tal camaradagem.

- Meu amigo… essa menina é problema. Deixa eu ver se entendi, ela desapareceu em sua cidade certo? Por que está buscando auxílio de um detetive particular aqui? Já falou com as autoridades de sua cidade?
- Procurei. A última notícia que eles tem dela é que Mel, após discutir com a mãe, veio correndo me encontrar. Se enfiou em um ônibus a caminho de brasília e até agora… Eu…

Mais uma montanha de lágrimas que eu ignorei enquanto guardava a foto dentro do bolso sem cerimônias. Era apenas uma questão de procurar alguém que sabia usar aqueles malditos computadores e redes sociais e buscar a menina entre seus amigos. Caso encerrado.

- Certo, tome outro trago. Não se preocupe. Qual é o nome completo da menina?
-
Meirilucy da Silva Morim.

Uma pena que a informação dizia que a menina vinha para brasília. Com um nome escroto desses e com uma aparência de atriz, imaginaria que ela se amotinou da família.

- Fica tranquilo vou dar uma pesquisada e entro em contato. São trezentinhos, por dia, mais os custos adicionais para qualquer eventualidade que possa ocorrer.
-
Sem problema.

O homem soltou 2 barão em cima de minha mesa. Amo políticos.

continua...