terça-feira, 24 de junho de 2008

Conceitos

Liguei a porcaria da televisão ontem à noite, as opções eram um filme americano sobre um Gigolô, canais crentes, alguma besteira no SBT e uma menina de 20 aninhos que estava sendo crucificada por uma roda-viva de atores, periguetes e uma apresentadora em cima do muro.

Todo o drama, me fixou na porcaria da entrevista com a fulaninha atriz pornô. Acho que o rostinho bonito a La Branca de Neve (boa sacada da loira do pelotão de fuzilamento) me prendeu para não mudar de canal.

Parece que a tal Juliana ou Julia, estava fazendo aulas de teatro para poder ter uma chance na carreira de atriz ou para experiência pessoal. Mas tudo que ouvi dos jurados foi uma saraivada de dedos apontados em nome da classe ator.

“Você quer deixar de ser uma atriz pornô para ser uma atriz de verdade?”

Atriz de verdade... Puta que me pariu. Isso vindo de um rede de televisão.

E daí que a menina faz pornôs? É pelo menos uma guria bonita trepando com uns caras para um mercado, que graça a Jah, melhorou bastante em estética ao menos.

Quer tentar seguir a carreira de atriz, fora do pornô? Querida, te desejo toda a sorte do mundo.

Deveríamos sim investir em sexo bem filmado e bem feito. Vide 9 Canções, Calígula ou qualquer outro bem filmado filme do Tinto Brás ou de qualquer diretor que tenha colhões para filmar sexo, com ele realmente é. Agressivo, sujo, apaixonado, romântico e um misto de todos os estilos e gêneros.

Não quero uma amante com nojinho de porra na boca, ou que só trepe quando sai do banho. Quero o ato pelo ato.

Pelo amor de todos os seus Deuses. Parem de conceituar e trepem! E trepem bem!

p.s: A propósito. Visitem o blog da Tati, tem sido boa fonte de inspirações! Inclusive indicações para fotografias e filmes sem caretices.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Fora da área de acesso

Já eram umas 11 da noite, quando mais uma vez, o celular insistia em tocar enquanto procurava apenas se embriagar em uma sexta-feira.

- Não vai atender ao celular?
- Não é ninguém importante.

Assim acaba um antigo enlace entre duas pessoas, no não entender de seu espaço com o desespero de quem errou tantas vezes e agora busca uma solução que caiba. Qualquer solução não seria dizer a verdade, apenas o voltar a mesquinharia de um romance falido serviria de consolo para essa pessoa que não pesa mais sobre seus pensamentos ou peito.

- Você deveria desligar o celular.
- E se for uma ligação importante?
- Eu estou aqui agora.

Concordando com o sorriso ele desliga o telefone. Apenas um olhar sincero e essa mão que corre pelo seu cabelo e corpo é todo o desejo que precisa.

O telefone apenas informa que o usuário não se encontra disponível ou está fora da área de acesso.

Sem acesso.

Exatamente isso.

domingo, 22 de junho de 2008

Paisagem

Aquela manhã linda se abre e entre o acordar, não existe a vontade necessária de se sair de casa. Um dia alegre para um punhado de pessoas andarem com a família e gastarem seus débitos automáticos ou créditos por momentos marcados eternamente em máquinas digitais ou ambiciosamente em suas memórias mais doces.

Aqui do outro lado, apenas olhando a paisagem, se encontra uma pessoa amarga com o gosto de cinzero, lábios frios e bebida tornando-se bile a cada soluçar involuntário. Ele adoraria apenas se trancar e fugir de si mesmo, do mesmo modo que conseguiu dispensar a sua companhia de ontem apenas indicando a porta.

O celular toca, o telefone toca e o computador mostra que algumas mensagens de e-mails e conversas em Gtalks e Msns estão esperando um sinal de vida. Mas não há vida dentro deste casulo, apenas uma cabeça latejando e um corpo se dobrando para vomitar a cada tentativa de ingerir mais uma dose.

...

No terceiro dia batem na porta. Sem resposta alguém chama um chaveiro e então o casulo se abre trazendo um bom aroma que parece quase tátil ao mau odor desta casa.

Um corpo se encontra caído ao lado de alguns comprimidos e duas garrafas vazias deitadas ao chão.

Nenhuma carta, nada a ser dito. Apenas uma boa paisagem de um homem infeliz.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Rancor

São umas três da manhã quando o telefone toca sem parar na sala. Ele apenas tenta esquecer o som e voltar a dormir, certamente esperando que desistam, e obviamente não é o que acontece. A jovem ao seu lado, murmura em seu ouvido para que ele atenda e então o empurra da cama com os joelhos ossudos e sua testa contra a omoplata.

- Alô.
- Miguel?
- O que foi? Por acaso sabe que horas são?
- Miguel. Papai morreu.

Ele desliga o telefone e então caminha pela casa. Olha para a menina deitada em sua cama e então começa a vestir sua calça, uma blusa de botões amarrotada e faz o nó de sua gravata de qualquer jeito.

- Onde está indo querido?
- Tenho que sair. Se eu não voltar, apenas encoste a porta quando sair.
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada. Tem comida na geladeira.

No carro, ele liga o som. Vai ouvindo Electricityscape, enquanto passa pela cidade na madrugada. Desce pelo eixo monumental a caminho da Asa Sul, o aviso de que faltam apenas algumas centenas de dias para o aniversário de 50 anos de Brasília o faz sentir um frio sem propósito.
As luzes dos sinais, poucos carros e alguns anúncios refletem um brilho estranho no vidro do carro, e ele percebe que não buscou seus óculos. Por isso. É por isso que seus olhos estão tão embaçados.
Resolve parar no posto para tomar um café. O celular fica vibrando em seu bolso enquanto ele paga no seu cartão um café duplo e uma carteira de Luke Strike.

- Alô.
- Uma menina atendeu o telefone da sua casa. Onde você está?
- Parei em um posto de gasolina.
- Você está vindo para cá?
- Estou na rua, não estou?
- Quem atendeu o telefone?

Ele entra no carro e acendo o seu cigarro. Dirige até a rodoviária e vê uma prostituta gorda e velha parada perto ao sinal quando resolve parar para acender outro cigarro e olhar de longe a catedral.

- Afim de um boquete querido?
- Meu pai morreu.
- Sinto muito.

O carro parte virando para a L2, ele passa por lindas árvores e percebe a solidão de casas aonde apenas o térreo se mantêm iluminado, talvez uma ou duas casas mantêm uma breve luminosidade azul, televisão ou internet. Os companheiros de um dia de semana de brasilienses.
Ele avisa ao porteiro que precisa ir ao apartamento 501.

- Desculpa Miguel. Seu pai disse que não era para deixar você subir.
- Ele morreu. Ele acabou de morrer.

...

A porta abre e uma mulher de 27 anos com o rosto vermelho e molhado atende a porta. Ela tenta dizer alguma coisa, mas só consegue se escorar na beirada.

- Ele está no quarto?

Ela acena que sim.

- Toma um cigarro.

Ele passa pelo corredor e nota que todos os três filhos estão na estante, à mulher que atendeu a porta, aquele que está fazendo intercambio e este que se apóia buscando coragem de seguir adiante nessa casa que não tem mais suas fotos.
O quarto tem o cheiro de seus charutos horríveis, uma estante cheia de livros e um homem robusto deitado de olhos fechados.
Ele passa as mãos sobre sua barba grisalha, nota o olhar forte mesmo em seus olhos fechados. O mesmo olhar que o expulsou desta casa anos atrás.

- Você não é meu filho!

Ele beija o rosto do homem e deixa a carteira de identidade sobre o seu peito.

- Mas você é meu pai. Velho filho da puta.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Cantada

Ele apenas passou pelo corredor. Estava trajando preto, trazia lindos olhos claros, uma barba castanha clara bem baixa e o olhar que congelou por um minuto inteiro trazendo o rubro ao rosto de quem se concentrava na leitura.

Toda a vez que olhava para o livro podia sentir o enorme imã sentado atrás de si. Essa luta contra si mesma era o motivo do sorriso interno, da certeza que ainda estava sendo desejada, não importando os problemas.

Esse olhar ainda se estende por mais alguns segundos ao se levantar. Dura ainda mais no olhar para trás, no notar o interesse de quem parte deixando um sorriso bobo e o pensamento de ter perguntado pelo menos as horas, ou qualquer outra coisa para ouvir ao menos sua voz.

- Qual é seu nome?

Essa frase veio junto com o olhar que desceu e correu para lhe encontrar no meio do caminho ao serviço.

- Podemos nos encontrar mais tarde?

Sim. Definitivamente ainda estava na pista.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Anônima

- Seu último conto era verdadeiro ou apenas uma ficção?
- Faz alguma diferença?
- É que eu nunca tenho certeza. Só sei que você nunca mais escreveu sobre mim.

...

- Escreveria sobre mim?

Escrever sobre você é perigoso. Quando eu estou falando existe a pequena possibilidade de que em algum momento você esqueça o que eu digo. Que talvez o tempo distorça seus pensamentos, ou talvez os meus. Assim, talvez, não deixe provas que estou apaixonado por você.
Ir a uma festa junina, ser tirado para dançar quadrilha com uma suculenta e jovem adolescente, acaba ficando um pouco pequeno perto do seu sorriso me olhando dançar.
Estou preferindo mil vezes o entediar dos demais em nossa mesa em meio a beijos, o seu sussurro em meu ouvido dizendo o que sente por mim e seu quebrar de pescoço que me faz querer correr com você de qualquer lugar público.

- Escreveria sobre mim?
- Poderia escrever sobre como adoro te fazer gozar em minha boca?
- Você só pensa em sexo?

Não, eu penso em com está sendo perfeito esse reencontro, como você me trás paz e como adoro a sensação de pavor ao saber que estou em tuas mãos: Anônima.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Passarela

São 32 modelos, divididos entre sete homens e 25 mulheres cansados e apavorados. Bom nem todos, para ser sincero um deles está calmo, enquanto espera o fim da maquiagem, vestido apenas de uma calça de couro verde-escura e uma pulseira cara em seu pulso esquerdo.

Os olhos dele pousam em uma modelo, que deve estar entre seus 15 ou 17 anos, deixando-a sem graça mesmo antes de chegar perto dela.

- Quem vai arrumar seu cabelo?
- Tatiane Ferraz.
- Vai estar em boas mãos. Fique tranqüila.
- Eu estou.

Obviamente era uma mentira.

- Quer dar um tiro?
- Não obrigada. Eu não...
- Por enquanto.

Ele passa as mãos entre a nuca e as costas, sentindo o estremecer entre seus dedos.

- Nos vemos depois na festa tudo bem?
- Eu tenho que sair logo depois. Tenho que encontrar o meu namorado.

Ele sorri e aperta de leve seu seio esquerdo enquanto a beija.

- Aham. Te encontro mais tarde.

A modelo é chamada para a pista. Seus passos são firmes e um rosto de menina expressa o olhar frio de uma mulher para seus clientes e os flashes.

Ela ainda sente as mãos grandes em seu seio, sente a língua dormente entre os dentes e uma leve euforia da cocaína confundida com a paixão.

“Que se dane. Sou uma estrela.”

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Lágrimas

Me disseram uma vez que era maldito por fazer uma mulher chorar. Ouvi a mesma coisa de quem a desejava e não a tinha. Esse que ela chamava de amigo e que sempre a fez feliz e jamais derramou nenhuma de suas lágrimas, mas que sempre as secou.


Escutei engolindo minha própria ira e minha dor junto. Não pelas lágrimas que ele secou, e sim pela memória que me atacou por cada uma que fiz rolar em sua face que amo tanto.

Em um sorriso seco e que já cheirava a vitória, ele me disse com orgulho que jamais iria fazer ela chorar ao lado dele. Que jamais iria fazer que ela se sentisse machucada como eu a fiz sentir.

Mesmo com meus olhos tremendo, metade de ira pela cobiça de outro homem ao que me era mais caro e metadde pela dor do que tinha criado eu pude sorrir. Sorrir até que se tornasse uma gargalhada sem fim que a todos atraía, enquanto ele me encarava como a quem encara um louco.

"Do que você está rindo seu idiota?"

"De você. Se ela jamais chorar por ti, está mais do que claro que jamais te amará."

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Encaixotando Gisele

- Lembra-se daquele casaco que ela comprou na viagem para Campos do Jordão?
- Um com bolinhas não era?
- Esse mesmo. Eu me lembro que ela gostava tanto dele e nunca mais pode usar, fazia calor demais em Brasília para usá-lo. E agora ficou tão frio.
- Quer que eu pegue mais um vinho? Esse acabou.
- Aham, quero sim.

Os dois estavam com uma caixa aberta no meio da sala e guardando todas as pequenas peças que compunham Gisele: os livros, peças de roupas e os pequenos objetos. Ainda não tinha coragem de buscar o pequeno álbum de fotos deixados em cima da mesa da sala.

- Abro o Gato Negro ou Concha y Toro?
- Gato Negro, o Merlot.
- Aqui meu velho.
- Saúde.

(...)


- O que você quer fazer com as fotos?
- Não sei.
- Acho que você deveria guardar as fotos.
- Tenho uma penca delas no meu computador. Gisele que sempre gostou de revelar as fotos, ela dizia que olhar fotos no computador era como ler um livro nele. Um crime.
- Mais um motivo para guardá-las então.
- Não quero guardar nada.

Mais um álbum desce até ao fundo da caixa, ele o acomoda entre alguns livros que ela sempre lia e relia e alguns CDs. Ainda incomoda, machuca demais e ele ainda não encontrou o casaco.

- Onde está a porcaria do casaco de bolinhas?
- César.
- Não quero encontrar esse casaco quando já estiver fechado a caixa. Eu tinha que guardar tudo antes de guardar, eu não quero deixar nada espalhado...

Ele só abraça o amigo, deixando de lado as taças de vinho enquanto César chorava entre as frases.

- Eu não pude fazer nada. Estava ali... Sentado ao seu lado... Só podia esperar, vê-la definhando. Droga cara. Eu não pude fazer nada.
- Você fez mais por ela do que qualquer outro.
- Ela prometeu ficar do meu lado, disse que iria melhorar.
- Ela te amava velho. Todo mundo a amava muito.
- Não é justo Rodrigo. Porra... Ela só tinha 25 anos. Nós estávamos bem. Não é justo.
- Eu sei.

O câncer havia tirado o toque de pele, a mordidinha na língua quando ela sorria, o rosto triste quando se sentia perdida e principalmente o acomodar de sua cabeça em seu peito no meio da noite e o dizer baixinho:

“Vai continuar me amando amanhã?”

sem foda de despedida

- Saia, da porra, da minha casa!

Aquela era uma discussão absurdamente antiga. Sim ele a traíra mais uma vez, novamente com pessoas próximas a ela, mais uma vez uma amiga que não resistiu aos olhos castanhos e a barba por fazer que só era tirada uma vez a cada duas semanas.

- Não vou sair até que me ouça.
- Seu escroto. Não quero ouvir merda nenhuma que tenha que me dizer.
- Ela estava dando em cima de mim a um tempão.
- E por isso você poderia trepar com ela? Vai se fuder seu escroto!

As duas últimas traições tinham sido perdoadas, essa também seria. Não pensou que ela ficaria tão chateada assim. Para piorar ela tinha uma expressão engraçada quando estava irritada. Seu nariz ficava vermelho, a veia do seu pescoço saltava e brilhava enquanto seu queixo tremia. Ele não conseguia evitar rir.

- Do que você está rindo porra?!
- Vem aqui, pára com isso.
- Me solta!
- Ela nunca foi sua amiga de verdade. A Eliane é uma escrota amor, nunca mereceu ser sua amiga.
- Não me chama de amor. Você não sabe o que isso significa.
- Você tem amor suficiente por nós dois.

O abraço trazia um pouco de calma, memórias presa no tato de afeto, companheirismo, tesão e saudades. Mas trazia também mentiras não era? A deslealdade que a mantinha louca, que fazia se sentir uma merda toda vez que o perdoava e pior ainda quando ele a fazia gozar.

Ela o afasta e sorri.

- Sabe? Você tem razão.
- Claro gatinha ela...
- Tenho amor suficiente para nós dois. Não preciso de você.
- ...
- Você é um garoto brincando de homem. Sabe muito sobre meu corpo e jamais me entendeu de verdade não é? Não preciso de um alicerce para me sentir segura. Muito menos um que me afunda cada vez que preciso subir.
- Fabiana.
- Saia, ou fique. Estou indo e espero que quando volte não te veja mais aqui.

O apartamento fecha a porta atrás de si. A mão solta a maçaneta tão segura quanto dispensa o cigarro na carteira. Ela apenas precisa de um café e a certeza que finalmente se livrou do medo de estar sozinha.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Entrelinhas

Apressada, ela passa pela porta com uma mochila e uma agenda agarrada em seu peito. Olhando para os lados e descendo a escada correndo pára no balcão com os olhos brilhando em frente ao atendente.

- O que tem de novo?
- Você veio na semana passada Aline. O que você está procurando?
- Quero algo novo, alguma coisa com novidade, eu trouxe minha mochila.
- Aqui é um sebo. O que você busca como novo?
- Qualquer coisa.

Ele sorri e apenas indica a mesa aonde dispõem os livros que acabaram de receber. Em suas maiorias romances.

A menina passa a mão estagiada pelas capas, buscando algo que nem o atendente e talvez nem ela mesmo saiba o que é.

- Se precisar de mim vou estar no balcão.

Abre um por um, carrega entre as páginas marcadas, borradas uma assinatura pequena de cada pessoa que leu e viveu esses livros. Na verdade, cada dia que se passava estava menos preocupada com as histórias. Ela vivia a história de quem lia.

“Em algum mar talvez nos encontremos novamente. Enquanto esperamos novos ventos, lembre que longas estradas tendem a retornar.”

“Papi, lembro de sua voz ao pé da cama enquanto narrava lindas histórias. Todas eram sobre lugares lindo e distantes. Como o mundo lindo de Alice, Shahrazad e de pequenos Príncipes. Leia enquanto estiver aqui, mas quero que fique bem para ler junto de mim em casa.”

“Em algum momento eu errei em buscar o poeta em versos, quando estavam todos em teus lábios. Com amor, Paola.”

“A vantagem dos clássicos é que eles sempre podem ser reeditados. Boa leitura.”

- Vou levar esses quatro hoje.

Aqui ela contaria suas crônicas, nas marcas impressas, em um contar de história sem fim.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Nu

Faz calor pra cacete na sala, já sinto pequenas gotas de suor brotando em minha testa e algumas escorrendo pelo meu peito e costas.

O vinho e o haxixe me deixaram animado para a experiência, a mesma que está me fazendo olhar para a cortina de contas para não encarar a lente a minha frente.

- Bebe mais uma taça. Vou buscar mais tecido.

Tirar a roupa para uma mulher é uma livre associação ao sexo. Não consigo pensar na injustiça de estar nu sozinho.

- Peraí! Não se mexe. Fica com a taça exatamente aí.

- Estou começando a me arrepender disso.

Click

- Por quê?

- Porque você olhou diretamente para o meu pau (Click) quando tirei a roupa.

- Para aonde mais eu olharia?

Click

- Mas você riu.

- Estava rindo porque nunca tinha pensado em você nu. A gente se conhece há anos e é a primeira vez que vi seu pau.

Click

- E ainda por cima mole.

Ela solta uma gargalhada gostosa e longa.

- Qual é o problema de vocês machos? Acha que toda mulher só pensa que um cara vale a pena de pau duro?

- Não. Eu que acho que só sirvo de pau duro.

- Para mim, você está perfeito assim.

- Você está flertando comigo, ou é apenas uma maneira de me fazer sentir a vontade?

- Só para você se sentir a vontade.

- Então por que você parou de tirar as fotos?

- ...

Click

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Terapia

Alguma coisa de menina perdida e assustada ao entrar nessa sala, a maioria das pessoas que buscam pscicólogos são infelizes, suicidas e aqueles que não tem amigos de verdade para poder contar seus problemas. Amigos ou amantes. E era por conta de um antigo amante que ela estava entrando nessa sala.

- Bom dia.
- Bom dia.

A sala é bonita, lembra um pouco as salas de terapias de filmes antigos, uma estante cheia de livros, parede pintada de um lilás suave, uma orquídea em um vaso transparente (que ela imagina que não combina com o visual retro) e duas poltrona reclináveis.

- Pensei que teria um divã.
- Você pode encostar se quiser, a cadeira reclina para trás.
- Você não deveria ter um rosto do Freud por aqui?
- Prefiro essa imitação de Mantisse.
- Eu também.

Ela se senta e tenta encostar o corpo na poltrona, mas não se sente à vontade. Então se inclina para frente e mantêm as mãos nos encostos e depois as enlaça. Olha nervosa para o homem sentado a sua frente e nota que sua barba possui duas listras brancas, como um tigre. Mantêm os olhos presos ali, mexe nervosa o cabelo e então olha para a orquídea no vaso.

- Essa flor sempre me pareceu muito com uma vulva.
- Todas que você já viu?
- Sim. Essa ou qualquer outra me lembra muito uma buce... Vulva. Me lembra uma vulva.
- ...
- Já estou sendo analisada só por dizer isso não é? Droga... isso quer dizer que sou lésbica ou algo do tipo? Eu não sou. Quer dizer... Já me senti atraída por algumas mulheres, na verdade acho mulheres bonitas. As mulheres são mais sinceras nesses termos. Os homens podem achar outros homens bonitos, mas nunca dizem isso. Na verdade os homens nunca dizem nada do que pensam.
- Algum deles em especial?
- Não. Todos são mentirosos notórios. Uns grandes filhos da puta. O que acaba sendo uma ironia eu estar marcando uma consulta com um deles não é? Há, há, há... Olha, talvez eu tenha aceitado ter feito essa consulta pelo fato de você só querer me escutar ao invés de trepar comigo.
- Mas mesmo assim você veio a minha sala e desistiu duas vezes antes de entrar.
- Sim. E mesmo assim você cobrou pela consulta. Acho isso importante. Na verdade acho que você é o único homem sincero que eu conheci. Os outros não têm coragem de estar comigo, eles pousam em minha vida e logo depois vão embora, sempre estão sufocados, pressionados, assustados. Eles têm medo de estar ao meu lado.
- Por que você acha isso?
- Não sei! Eles que precisam de psicólogos. Não eu. Mas mesmo assim estou pagando essa consulta cara aonde você apenas lança perguntas para mim. É isso que vocês aprendem em uma faculdade? Quatro anos de faculdade para lançar perguntas e cobrar 220 reais por hora?
- Não. Após quatro anos de faculdade estou sentado a sua frente, tentando entender suas reações em relação às perguntas e montar o tratamento adequado a você. Na verdade a grande responsável pelo tratamento é você mesma. Quanto ao pagamento das sessões, era a forma de obrigar que entrasse na sala ao invés de partir mais uma vez.
- ...

- Por que você acha que têm medo de estar com você mesma?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Meninas

Ela bate o cigarro entre os dedos sujando de leve o carpete da casa de sua amante, que para ela merece para quebrar essa esterilidade presa no perfeccionismo de Marisa, uma casa deveria ser ao menos um pouco suja, um pouco marcada, algo que diga que passou por aqui, como as unhas dela em suas costas meses atrás.

- Vamos para a boate? Eu já estou pronta e você ainda... Porra Ana, você está sujando a merda do meu tapete.

- É? Desculpa, não encontrei nenhum cinzeiro.

- Por que eu não fumo. Você pode fumar lá fora por favor?

- Já terminei.

Um sorrisinho de canto e um beijo é a desculpa para que elas não briguem. O modo como Ana segura a base da nuca durante o beijo, sempre fez que Marisa cumprisse o que ela queira fazer.

- Vamos?

Boate agitada, meninas lindas, fumaça, bebida, bala e muita dança. Isso é a desarmonia que estava precisando, ficar bêbada e se sentir livre, louca um pouco perdida de si. Sair da rotina que mesmo Marisa estava fazendo questão que ela entrasse.

Mais um gole de cerveja desce junto com uma bala. Vira uma dose de tequila e volta para pista, para a dança, para o olhar de um homem que dança com ela, antes mesmo que chegue perto.

Quanto tempo dura esse olhar? Essa necessidade arredia de chamar com os olhos e afastar com os gestos? Que se fodam todos. Ana precisa dançar, precisa do contato. Que seja esse cara, ele parece melhor do que qualquer outro e certamente muito melhor do que a mulher de olhos entediados que boceja antes mesmo das duas da manhã.

- O que você está fazendo?

- Dançando.

- Você está se esfregando naquele cara. Para que isso? Você sabe que não vai dar em nada.

- Só estou dançando.

- Vamos embora daqui.

Ele não entende nada. Apenas estava dançando com uma menina bonita e quando parecia que poderia beijá-la a sua amiga atrapalhou tudo.

- Oi. Com licença, mas estava dançando com ela.

- Ela é minha namorada cara. Cai fora!

- Sério? Desculpa então. Moças, boa noite.

Ele volta a dançar distante, enquanto Marisa a arrasta para fora do salão. Antes de sair da boate e entrar no carro, ela percebe que os dois estão dançando juntos mesmo distantes.

- Nunca mais quero saber de você usando essas merdas viu? Dando em cima de uma cara... Qual é seu problema?

- Você porra! Você com a porra de seus problemas! Não me enche!

Ana vai para casa, pensando no relacionamento de dois anos com Marisa, pensa em quando tinha apenas 17 anos e adorava tocar sua pele, sentir o seu cheiro e gozar em sua boca. As mesmas memórias que as tornaram preguiçosas demais para tentarem sair da monotonia e da falta de zelo entre duas amantes.

Ela murmura em seu quarto um nome qualquer que combine com o rosto de seu bailarino, e depois de três meses goza ao sabor da mudança.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Meninos

São umas cinco e pouco da manhã quando Henrique chega assustado em casa. Ele tranca a porta de casa e encosta contra a parede da cozinha e deixa seu corpo escorrer até o chão. Não queria estar chorando, não queria estar sentindo esse medo estranho e irracional. E o telefone, vibra sem cansar diversas vezes. Para e volta a vibrar mais uma vez e pára novamente. Era uma mensagem.

“Por favor, Henrique atenda o celular.”

Atender para quê? Não precisa de nenhuma palavra que sirva mais ainda de memórias para o som alto, a dança, a bebida que subiu alto e rápido demais. Há quanto tempo conhecia Edmond? Uns sete meses mais ou menos. Um amigo divertido, uma ótima companhia para conversas e porres.

Nessa noite haviam ido juntos para o Espaço Galeria, muita gente, muitas meninas bonitas, boa música e muito álcool. Aqui muitos caras e meninas se beijam, e ele sabia antes de descer do carro que era uma boate gay.

- Você está à vontade aqui? Não te incomoda?
- Não. Até parece Ed. É um bom lugar para curtir como qualquer outro. E cheio de meninas bonitas dançando.
- Que bom! Vou buscar uma bebida para nós.
- Beleza!

Era demais ver essas pessoas dançando, essa liberdade e felicidade estampada nos rostos, dois caras chegaram perto de Henrique e chamaram ele para dançar, estavam flertando com ele, e sorrindo ele dispensou os dois. Sem grosseria, sem preconceitos, apenas um fora e achando engraçado fazer o tipo desses caras.

- Sabia que você iria chamar atenção.
- Não tinha nem idéia disso. Como vocês escolhem os caras? Será que todo hetero é bonito?
- Não tem nada haver com hetero. Tem haver com o fato de você ser bonito.
- Vai começar a me cantar também?
- Sou seu amigo demais para isso.
- Quero dançar.

A pista é animada, quente, colorida e cheia de pessoas em sua volta. Uma dose após a outra e a necessidade de estar bem consigo mesmo o mantém com um sorriso animado e um olhar focado a Edmond, durante a dança.

Ele se permite se aproximar, o abraça e então deixa-se ser beijado. Um instante que dura uma hora, um dia... Um deleite cortado pelo surpresa e estar sóbrio de repente. Henrique afasta Edmond de si e toca seus lábios com medo, sentindo a ponta de seus dedos e olhando espantado para o homem bonito a sua frente. Então ele foge.

- Henrique!
- Me deixa!

Eles se encontram do lado de fora, Edmond segura em seu pulso e mesmo agora ele ainda sente o calor passando de seus dedos para seu pulso e fazendo seu coração disparar.

- O que foi Henrique? Não vai embora por favor.
- Droga, vai te fuder! Por que você fez isso?
- Você me beijou. Não fui eu.
- Eu estou bêbado.
- Mais do que isso. Você está me olhando como eu estou. Qual é o problema?
- O problema é que você é um viado porra! Um viado que fica embebedando seus próprios amigos para beijar eles.

Então ele encosta Henrique contra a parede de fora da boate. Aproxima o seu rosto e apenas abre de leve seus lábios. Dizendo bem baixo.

- Me beija.
- ...
- Não vou me aproximar mais do que isso. Não quero seus lábios se não forem de encontro aos meus. Me beija.

Mais uma vez ele o beija. Com vontade, misturado ao medo e com lágrimas. Bastantes lágrimas enquanto percebe que no corpo a sua frente existe uma segurança que negava a si mesmo. Ele sente esse rosto contra o seu, o cabelo macio e limpo aonde passa os seus dedos, a mão que circula sua cintura aproximando do peito que mantêm um batimento tranqüilo em contraste com o acelerado do seu.

E então ele se afasta... apenas toca o rosto de Edmond e se afasta chorando.

- Não posso. Minha vida já é complicada demais.
- Henrique...
- Não posso.

...

Chorando ele desliga o telefone em sua cozinha, apenas com o sabor de seus lábios e um cheiro que não consegue tirar de sua mente.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Cabelo solto no samba

Hoje tem samba mais tarde. Cansado dessa semana longa e cheia de clientes pedindo material para ontem, mas já estou batendo os pés debaixo da mesa antes mesmo das 18 horas.

- Vai ir não vai?

- Lógico que sim. Só vou passar em casa antes para tomar um banho.

- Chegar cheiroso no samba. Vai de sapato malandro?

- E de chapéu.

- Até mais.

Casa cheia, meninas lindas e cerveja gelada. Entrar no salão em uma noite fria de julho é melhor que qualquer cobertor ou cama para esse cansaço sem fim. Quero minhas mãos na cintura da morena dançando a minha frente, quero o sorriso entre os passos, o levantar do rosto que oferece um pescoço brilhando a meia-luz.

- Caralho. Paulo vamos sair daqui.

- O quê? Por quê?

- Por nada cara me segue.

- O que foi? Tava querendo chegar...

Uma menina linda chama atenção em meio à pista, ela preenche todo o ambiente em seu vestido curto e curvas que são delineada pelas mãos de quem dança com ela. Seu cabelo bate nas costas em um castanho sem fim e a cada giro seu sorriso parece apenas voltado para mim.

- Vamos sair daqui cara.

- Ela está linda Marcos. Mais bonita de quando estávamos juntos.

- Tem garotas muito mais bonitas aqui. Acho que aquela morena queria dançar contigo. Não tira os olhos de você a um tempão. Bora lá? A amiga dela é uma gatinha também.

- Quero não cara. Vou tomar uma cerveja.

- Vamos lá então. Quero uma também.

Marcos atravessa o balcão e falando alguma besteira sobre uma garota na fila, ele parece muito preocupado em parecer despreocupado. Mas o meus olhos estão congelados na pista de dança. Meus pés dançam em harmonia com os dela, mesmo dançando com outro.

- Saúde.

- Saúde.

- Vamos lá cara. Já faz mais de três anos.

- É...

- Olha, se você quiser sair para outro lugar. Fiquei sabendo que o Calaf está bombando hoje também. Cheio de bocetinhas novas. Heim? O que acha?

- Acho que ainda a amo.

- ...

- Vou indo cara. Valeu pelo convite.

Passo pela pista e meu olhar se prende no dela por alguns instantes. Ela sorri e me chama para a pista, eu aponto para o relógio e no meio de um sorriso amarelo me encaminho para a saída.

Esse foi o sorriso e o quebrar de cintura que me mostrou um mundo melhor. Não posso ser egoísta de desejar ele apenas para mim. Mostre a esses homens o que é amor de verdade menina. Nos vemos em outra vida.