domingo, 12 de agosto de 2012

Guayasamin



Era a segunda vez que Rita me tirava de casa em um domingo contra a minha vontade. Confesso que resistiria com mais afinco se não fosse o tom de sua voz me chamando ou o modo como ela se vestia sempre que nos encontrávamos. Tinha algo naquelas roupas que me fazia acreditar que ela tinha se vestido para mim.

- Olha, eu tenho certeza que você irá adorar. Confia em mim.

Ruas vazias, crianças correndo ouvindo broncas, uma claridade absurda e uma companhia de botinhas altas com um vestido de verão andando em minha frente acompanhada de um sorriso incrível.

- Ele é um dos maiores artistas Equatorianos, não tem como você não gostar.
- O que ele faz?
- Cala as pessoas.

Bato o olho em dois quadros expostos e já percebo que me arrependi de sair de casa, mais um imitador de Portinari. Em pensar que poderia estar assistindo a reprise do jogo de vôlei. Melhor investir em algo depois daqui, assim tenho a certeza que minha companhia de domingo será frutífera.

- Abriu um bar com temática japonesa na asa sul. Não sei se você gosta muito.
- Eles servem sushi?

Vejo um enorme quadro que me faz pensar o quanto está frio aqui dentro, são enormes mãos calando qualquer tipo de idéia sobre cantadas. São lágrimas descendo por um rosto feito em pedra, tanta dor e aspereza que jamais deve ter pertencido a algo vivo. Então sinto uma mão em meu ombro.

- Ele é incrível, não é?
- É sim.

Passeio por algumas galerias lendo o grito de seus rostos. Essa dor congelada e a angustia que rompe qualquer elasticidade que houve um dia nos músculos que serviram a essas idéias chamadas de homens. Essa nódoa que é estar vivo sem entender o propósito, esse peso de uma cobrança além de nossos suportes é a indelicadeza posta as claras em nossas próprias sombras.

- Sabia que você iria gostar.
- Obrigado.
- Sabe? Acho que vou dispensar o sushi.
- Você já leu “O Cobrador” de Rubem Fonseca?

Ela me oferece um sorriso ainda mais irrecusável que seu convite, eu espero surpreende-la ao mesmo nível.