sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte final)



Eram duas da tarde. A garrafa de conhaque barato estava quase no fim e meus olhos estavam vermelhos, tanto pelo álcool, como pela noite em claro. Esperei dar dez da matina para ligar para a dona. Quando terminei de virar o copo ela bateu na porta.

- O senhor disse que tinha respostas para mim.

Taquei as fotos em cima da mesa. Lá ela poderia ver o garoto se agarrando a outras bichinhas, o ambiente onde vários outros estavam se pegando e ela folheou com uma certa naturalidade, menos chocada do que eu imaginava.

- Já sabia não é?
- Bem... Na verdade.
- Para de drama. Novela eu parei de assistir desde que a Maitê ganhou rugas. Por que me mandou para um caso tão óbvio assim?
- Eu...
- Queria saber se o moleque era uma fruta? Ele é! Queria saber se curte um bigodinho de leite? Ele curte! Esse morde fronha nasceu ao avesso madame. É um viado!

Ela fez uma expressão de chocada e levou as mãos ao rosto após me enfiar a mão na cara. Peguei ela pelo cotovelo.

- O que você queria? Qual a diferença se esse merdinha ganha a grana ou não? Tú está com o pão ganho. Deitar com o ricaço te deu a herança e aposto que é o bastante para financiar as frescuras de vocês dois.
- Você não entende! Eu tinha que ter certeza! Eu tinha que saber!

Ela caiu em prantos. Lágrimas rolando sujando a maquiagem cara, dando um aspecto assustador e mostrando sua idade por debaixo das rugas. Ali tudo ficou claro, a ficha finalmente caiu. Acendi a porcaria do cigarro e deixei a nicotinha ajudar o raciocínio.

- Era ele não era? O amor da sua vida era um viadinho com o rabicó apontado para a lua.

Sua expressão de ódio e tristeza era todo o sim que precisava.

- É madame. Quanto mais perto do avião mais frouxo. Um homem que perde a vida trabalhando para deixar uma herança e não leva o único filho homem a um puteiro, jamais deixou algo do que se orgulhar.
- Eu... Eu simplesmente...
- As fotos e passagens ficaram em mais duzentinhos. Se quiser um psicólogo é no terceiro andar.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte 2)



Eram duas da manhã. Eu estava fumando meu Derby com minha samba canção e olhando para a rua. Os carros passavam apressados pela W3 e então senti as mãos pintadas de vermelho sobre o meu ombro.

- Meu amor, você pode dormir por aqui.
- Cirlene, não vim aqui para dormir. Estou em um caso importante.
- Quer que eu busque um trago?
- Uma branquinha, nada de Dreher.

A boneca saiu desfilando com aquele rabo que apenas travecos tem. Gastei 80 pilas para esvasiar minhas bolas e eu sabia que poderia arrancar um pouco mais do que essas duas esporradas.
Quando ela voltou com a cachaça, eu já estava de calças e taquei a foto em cima da mesa. Fez uma cara de desentendida o que me deixa sempre de mal humor.

- Vamos lá boneca. O que você sabe sobre o garoto? Me disseram que conhece vocês.
- Não é meu tipo Carlos, gosto de homens. Esse mancebo cheirando a leite não tem o que eu preciso.

O velho golpe do manjão. Ainda bem que tinha acabado de gozar, senão cairia nesse papinho.

- Não estou aqui para te dar prazer beibe. Conta tudo que sabe.

O tal garoto frequentava a roda. Gostava de jogar conversa fora, preocupado com preservativos, exames de saúdes, agressividades com as vadias. Ouvi meia hora de papo furado e nada que me provasse se ele curtia ou não mulheres. Mas consegui um endereço, parece que tinha uma boate no Conic, que lá poderia confirmar minhas suspeitas.

...

Cheguei ao tal Galeria, descendo as escadas paguei os cinco reais que cobravam para ver um grupo de garotos dançando de camisetas regatas, blusas coloridas e calças coladas. Esfreguei meu rosto e fui direto para o que parecia ser um bar.

- Me dá uma cerva.
- Claro amor.

Sentei e fiquei de olho naquela molecada. Um bando de bichinhas pobres se esfregando uma na outra. Meninas gordinhas beijando umas as outras e em alguns momentos uma troca e pegação sem fim. Acho que por um momento ouvi tocando Xuxa, resolvi pegar outra cerveja.

Já estava desistindo quando vi o garoto da foto em minha mão entrando com um grupo de amigos. Eram mais três adolescentes com ele. Todos magricelas e com rosto pintado. Preparei minha câmera e apontei para a pista de dança.

Depois de duas músicas eles estavam se agarrando como todos os demais. Era simplesmente a pista que eu precisava. Tirei várias fotos, o flash nem fez diferença em meio as luzes da pista. Depois de um tempo o garoto veio até o bar pedir algo para beber.

- Preparando a garganta ô afeminado?
- Como é que é?!

Peguei o moleque pelo braço e arrastei ele até um canto.

- Escuta aqui ô boiolão! Você tem merda na cabeça ou o quê?
- Ai me solta! Você tá me machucando cara.
- Machucando é o caralho! Porra! Teu pai acaba de morrer e tú cospe no túmulo dele?
- Do que você está falando? Você conheceu o meu pai?
- Não e nem quero conhecer um merda que fez um filho frouxo como tú. O cara tá te deixando uma barbada e você vai deixar tudo a perder para ficar cheirando bago de homem?
- É minha vida! Eu faço com ela o que eu quiser!
- Sabia que seu pai não vai deixar nem um centavo para você por conta dessa palhaçada?
- Eu nunca quis nada dele!

Deitei um tapa na orelha do moleque e sai daquele antro. Tinha ainda que ligar para a viúva e mostrar a porcaria das provas.

Conclui na próxima...

Nosso tempo

Somos criaturas covardes, estamos presos constantemente em duas instâncias que não deveriam nos atingir.

Temos medo pelo futuro. O pagar de contas, investir em alguém, do fracasso, hesitações, não ser bom o bastante, conseguir concluir seu curso a tempo, estar apto ao mercado de trabalho, ser demitido, crises que podem surgir, envelhecer e morrer.

Temos também medo do passado. O que não fizemos, falhar com seus pais, não estar a altura do que foi ensinado, escolhas erradas, pessoas que podem apontar suas falhas, erros, crenças, traumas, amores perdidos, paixões não existentes, livros não lidos, educação deturpada e nossas memórias.

Dificilmente estamos com nossos olhos fixos no presente. E essa falta de foco, essa permanência de olhar para trás ou sonhar com o amanhã é perder o único tempo que temos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

QI de gênio

Essa semana acabei lendo sobre o jovem Oscar Wrigley, o jovem gênio de 2 anos e cinco meses com o QI igual ao de Eistein. Fiquei chocado com a notícia. Não tinha a menor ideia que ainda se fazia testes de QI. Mas passado o choque pensei na evidência dessa notícia.

Quantos Oscar Wrigley nascem no interior do Piauí? Será que alguma mãe no nordeste da China, em um recanto da cidade de Julin, sabe que possui um Oscar Wrigley bebendo água contaminada? Ou talvez em meio ao cuidado do pastoreio em Daikondi um Oscar Wrigley esteja sendo embalado pelo tecido de sua mãe?

Segundo a BBC de Londres, nosso felizardo gênio está na categoria de apenas 2% da população mundial. Isso estima aproximadamente 132 mil pessoas em um mundo de 6,6 bilhões.

A probabilidade é algo extraordinário. Agradeço a casualidade por esse gênio nascer em uma boa família e aparecer nos jornais do mundo. Do contrário ele não teria a alimentação necessária para desenvolver seu cérebro o suficiente para decorar 600 palavras. Não, ele estaria aos cinco anos sofrendo de inanição em uma terra estéril, ou tendo sua genialidade resumida e traçar couro em jumentos selvagens.

Quem pode me convencer que ele será mais feliz em terminar sua faculdade aos 12 anos de idade? Quem pode me dizer alguma palavra de consolo que cale a multidão dos 131.999 que nesse momento, talvez por serem espertos demais, estejam se misturando em meio ao restante de nós?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Os 10 Mandamentos

Estava quase indo dormir mas por algum motivo me peguei pensando nos 10 mandamentos, base da moralidade a hierarquia de pecados Judaica-Cristã. Seja quem foi o idiota que escreveu essas dez frases certamente não poderia ser deus, eu pelo menos me recuso a acreditar que alguém esperto o bastante para criar a mitose celular não seria burro para não entender nada da mente humana.

Quando qualquer pessoa pensa na frase: NÃO PENSE EM UMA MAÇÃ, obviamente acaba pensando nela. Talvez por isso a maldita sina do paraíso para os pobres primeiros projetos de humanos falidos.

Mas vamos aos mandamentos, esse que me fez levantar a uma da manhã para escrever antes que eu esquecesse. Se eu fosse o criador da Terra, do Universo e de todas as coisas orgânicas e inorgânicas não iria passar para um monte de pessoas iletradas ordens tão contrárias aos meus desejos.

Oras... eram apenas matutos, lavradores, artesãos, antigos escravos peregrinando pelo deserto. Eles iriam cumprir de Bel prazer esses mandamentos abaixo:

1 - Jamais Amarei Nenhuma Criação Minha Além de Vós

2 - Minha Imagem Está Em Tudo Que Te Cerca.

3 - Honrarei Seu Nome E Nunca Irei Agir Contra Vós.

4 - Repouse Ao Sábado, Aproveitem, Vós Mereceis.

5 - Ame Sua Prole, Ame Suas Crias Como Eu Vós Amo.

6 - Preserve A Vida.

7 - A Mulher Do Próximo Cobiçada E Conquistada Dificilmente Será Fiel A Ti Por Muito Tempo.

8 - ... (Aqui deixo minha ignorança em nome dos mandamentos. pensei em uma sociedade anárquica, mas esses judeus eram miseráveis demais em roubos para ter que criarem uma lei divina só para isso)

9 - Mentir Só Irá Causar Sua Humilhação Ao Ser Desmentido.

10 - Construa Seus Sonhos Não Os Dos Terceiros.

Viu só? 10 mandamentos tranquilos, suaves e bacanas de seguir. Se for parar para pensar sigo a maioria deles, a maioria das boas pessoas seguem. Mas como diria aquela frase popular: "Para que facilitar se pode complicar?"

Boa noite e bons sonhos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Detetive ao som de Pagode (parte 1)


Meu nome é Antônio Carlos Madureira e trabalho como detetive particular no terceiro andar do Venâncio 2000. A sala é suja e ainda tem marcas do incêndio que ocorreu anos atrás. O antigo inquilino não quis reformar e com o que eu ganho prefiro olhar para as manchas e pensar, que como um aquário, me faz relaxar.

O telefone tocou. Eram 14h20 e estava acabando de engolir o terceiro pastel com refrigerante, o que me fez tossir na linha e o cliente desligar antes de falar qualquer merda.

-Alô?
-Boa tarde.
-Ah, meu nome é Helena. Quem me indicou o senhor foi...
-Não precisa falar o nome. Qual é o problema? Acha que seu marido é infiel?
-Não. Na verdade é com o meu filho.
-A senhora gostaria de vir aqui e conversar melhor a respeito?

Resolvi dar uma geral no ambiente. A voz era charmosa e o bina dizia que era um prefixo do Lago Norte. Esse tipo de gente gasta dinheiro com todo tipo de besteira, logo o caso era garantido.

Entrou uma senhora distinta. Daquelas que foi linda para cacete quando era adolescente e um arraso ao chegar nos 30. Agora tinha olheiras e o rosco marcado, com o que eu chutava ser uma limpeza de pele ressente. Entrou olhando em volta como se não reconhecesse exatamente uma agência.

-Boa tarde.
-Boa tarde.
-A senhora gostaria de sentar? Quer um copo de água?
-Não obrigada.
-Bom, o que aconteceu com o seu filho?
-Na verdade, não é exatamente com o meu filho. Ele é meu enteado.
-Sei.
-O meu marido morreu semana passada e deixou uma herança para mim e para o garoto. Mas existe uma certa...
-Já sei. Quer saber como pegar a parte dele ou mudar o contrato para cuidar do jovem e administrar o dinheiro.
-Não! Por Deus, não.

Isso tava ficando complicado demais, muito boazinha para ser verdade. Estava encucado com o caso antes de pegar.

-O que é então?
-É que no testamento existe uma... como posso dizer? Uma restrição.
-E qual seria?
-Meu marido deixou claro que só deixaria qualquer centavo para o meu enteado, caso ele não fosse gay.
-Que massada!

O velho era esperto. Queria ter certeza que sua prole deixasse seu nome em honra. Agora os quinhentos era provar se o rapaz era ou não chegado em morder uma fronha.

-E o que levou Itálicoo seu marido a desconfiar do rapaz?
-Meu marido era muito machista. Não admitia esse grupo de amigos pintados como artistas, que se depilam e que gostam de teatro e essas coisas.
-Sei... Mas existe alguma prova? Algum envolvimento? Uma carta de amor talvez?
-Não, nada como isso. Mas ele anda com pessoas.
-Que tipo de pessoas?
-Você sabe. Ah, travestis.
-Travestis?
-É.
-Travesti não prova nada minha senhora. É até natural.
-Natural?
-Sim. Todo homem que se preze come, comeu ou vai comer uma boneca. É a mesma coisa que comer uma puta, só se paga mais barato pelo cuzinho e sem celulite.
-Meu Deus!
-Mas não se preocupe. Vou investigar mesmo assim. Tem uma foto do rapaz? Onde ele estuda? Nome completo?
-Tenho sim. Aqui.

Enquanto ela falava que o jovem na foto de sombrancelhas feitas, rosto depilado e maquiagem nos olhos se chamava de Hernandes Gurghel, que estava no primeiro ano do Leonardo da Vinci eu dava uma secada nas pernas da coroa e soltei o preço.

-Vai ficar em seis onças. E obviamente o custo de celular mais passagens.
-Seis onças?
-Ou três peixinhos o que achar melhor.

Ela saiu do escritório. Tinha um caso e 300 pilas na mão em notas novas.

Continua...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tempo ruim

Queria apenas chegar em casa e tirar meu sapato, ele estava apertado e uma parte do solado estava gasta, sempre que tirava ele do meu pé notava minha meia rasgada e uma bolha onde antes era minha pele.

A maldita vizinha do andar de cima estava reclamando sobre o cheiro de lixo antes mesmo de abrir minha porta. Disse que eu não sabia o significado da palavra convivência e respeito. Respondi cordialmente com um meio sorriso e um escarro marrom erverdeado na parede de minha porta.

Já estava cansado do cheiro de ovo podre na pia. Um dia pensei em fazer um macarrão com ovo e ele acabou escorrendo para dentro da pia, o número de pratos sujos e a água com gordura me impediram de buscar o ovo. Mas hoje estava particularmente cheirando mal.

Abri a janela e apontei o ventilador para a pia. Abri a garrafa de conhaque enquanto limpava meu nariz tirando uma casca dura e acompanhada de sangue. Tinha que fazer alguma coisa para comer e o gás tinha acabado. Peguei o que tinha sobrado de comida chinesa e taquei o extrato de tomate por cima.

Sabia que não tinha nada para assistir na televisão, estava cansado dos filmes pornôs que tinha comprado na feira e estava começando a me sentir bêbado o bastante para abrir minha gaveta e sair para a rua.

Abro uma lata de cerveja morna enquanto folheio um álbum de fotos. Aqui tem um número e uma foto de uma menina que não vejo a mais de 10 anos. Seguro o telefone em meu peito duas vezes antes de começar a discar.

-Alô?
...
-Alô? Quem fala?
-É o Arnaldo.
...
-Eu sei que você pediu para eu nunca mais ligar...
-Então por que ligou?
-Quero falar com a Juliana.
-Ela está na escola. Faz curso de espanhol durante a tarde.
-Espanhol é? Porque ela não está falando inglês ou algo assim?
-Ela já fala.
-Já fala... Que bom que ela saiu esperta ao contrário de nós dois.
-Agradeço a Deus todos os dias por isso.
-Como vocês estão?
-Bem. Muito melhor do que viver ao lado de um bêbado, que batia em nós duas.
-Você sabe muito bem que nunca encostei um dedo nela.
-Graças a mim.
-Ela nunca perguntou sobre mim?
-Algumas vezes perguntou. Mas hoje já é uma moça não pergunta mais.
-Queria mandar um presente de aniversário.
-Sabe quando ela faz aniversário?
...
-Tchau Arnaldo. E na próxima vez que ligar, esteja sóbrio pelo amor de Deus. São apenas uma da tarde.

O telefone solta um sinal de ocupado. Ocupado com meus dias, meus problemas e minhas escolhas para afastar esposa, amigos e minha filha. Deixo isso de lado, abro o jornal nos classificados, última página:

“Morena BB, completinha para você. Atendo só de calcinha. 707n. Telefone...”

Ainda tenho R$ 120,00 na minha carteira e falar com minha ex mulher, continua me deixando de pau duro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Olívia

Olívia me pediu um texto um dia, um texto sobre quem é essa pessoa para mim e quem ela pode ser para quem leia.

Olívia é extremamente ambiciosa e consegue adquirir bastante sonhos que parecem irreais para alguns em sua mesma posição.

Olívia é a primeira da sua família a entrar em uma faculdade pública, a primeira a se importar em ler mais do que revistas ou jornais.

Olívia estudou o bastante para passar em dois concursos e por conta de um, hoje trabalha e não se importa em ter que ir a unb de noite e voltar para casa cansada para dormir de madrugada.

Olívia é muito passional. Ela é dedicada em relacionamentos e não se importa em doar o que seja dela para quem ama.

Olívia tem pouca estima. É uma pessoa carente que devota demais suas emoções, como se precisasse de amor como as pessoas precisam de vida.

Olívia tem conversas maravilhosas, decora poesias, curte arte e muitas vezes consegue sobrecarregar nossos sentidos com tantas informações, que polui o que antes era simplesmente lindo por não se dosar.

Olívia foi minha paquera de uma noite, minha namorada, minha parceira de apartamento, minha ex, minha amante e nunca foi minha amiga.

Olívia pediu um texto ao ler que outra pessoa pediu e recebeu. Ela vive fantasmas que não existem e alguns deles que foram criados por mim.

Olívia teve seu emocional destruído por seus medos e por meu ego.

Olívia não deveria jamais se preocupar em um namoro que jamais vai voltar a existir. Ele teve seus momentos, foram bons, foram ruins e se foram.

Olívia sabe que mexe comigo. Sabe, como muitas pessoas que passaram em minha vida, que sou fraco quando se trata de relação a mulheres.

Olívia me mostrou muitas coisas e é realmente uma pessoa que eu apoio e cada dia que passa me orgulha mais. Ela tem uma força que eu apenas posso invejar em minha inércia do momento.

Mas Olívia ainda é muito menina, ela só amou uma vez. E isso de não se permitir que um amor termine e outro venha é pedir para deixar de viver.

Não tenho fé. Mas eu realmente oro para que um dia ela entenda isso.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Minha cidade



confesso que balançou um pouco aqui no peito.

Hipercubo

Uma imagem no espelho congela o instante entre o piscar de olhos que não mais a enxerga. Essa instância é a incerteza que dispara o meu ritmo cardíaco e cria um suor em minha nuca, uma ilusão de medo em meus ombros após assistir um filme de terror sozinho e notar o silêncio gerado em um ambiente sem a luz da televisão ligada.

Estender a mão em frente ao espelho é receber uma cordialidade negada por todos de fora desse recinto dentro de outro, eternamente indo e voltando e tentando encarar em busca de uma identidade tão cara que precisa afirmar o que é real e não reflexo.

Tocar intimamente alguém é notar em sua linhas de sentidos um pouco do choque de retorno de quem é tocado. O calor, o arrepio dos pelos, o sabor do sal deitado em seu derreter de sentimentos, transbordar de dor deitando sobre sua face e o gozo líquido na ponta de sua lingua dividido entre o céu de sua boca e dentes, misturado em um mar de humores entre um músculo que gera sons, fala, e que divide o gozo como uma conversa. Uma conversa de criação de vida sem gerar vida alguma.

Esse Tesseraco de vidas é um retorno da proteína inicial, um detalhe de resgatar ao meio líquido de onde partimos e que com tanto receio a vivemos. Esquecemos ao mirar outro nos olhos que eles são gelatinosos por nos mostrar um reflexo menos nítido da composição da única conversa que vale comentários.

Somos prisioneiros de nossas limitações. De nossos medos. Os mesmos medos que poderia apenas admitir como individual, porque qualquer sintonia com o medo alheio é admitir sociedade e abrir mão dela e de sua própria existência dentro dela é a plena liberdade para a compreensão do ser que é visto e do que é você.