quinta-feira, 28 de maio de 2009

Infarto

Eram 16:27 de uma terça-feira quando Arnaldo teve um infarto fulminante.

Os médicos disseram que uma obstrução da artéria coronária foi o motivo do óbito.

A mulher acusou o trabalho estressante que jamais deixava ele descansar.

A amante em prantos acusava a si, por cobrar o papel que não poderia ocupar.

O filho tinha certeza que foi o beijo que não pode dar de despedida para o pai que corria apressado.

Arnaldo estava apenas cansado da vida. E então pediu ao seu peito para sentir, de uma só vez, o amor que sentia por todos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Meus momentos musicais

Tem algo de narcótico em se ouvir música. A forma que ela trata nossos sentidos e embala ou recria momentos é tão brilhante quanto assustador. Tenho uma impressão medonha que algumas músicas existem para que eu me lembre do acelerar de minha respiração instante antes de um beijo.

Obviamente criamos pequenas coletâneas a cada envolvimento, mas algumas músicas parecem ser aquela pessoa e teimam em sempre trazer a tona, por um instante, o que você julgou esquecido.

Pode ser um relacionamento que durou anos e nasceu com uma música sendo cantada em uma cabana durante um flerte:

Outro que durou apenas um regado de música, arte, livros, conversas, discussões doces e nocivas:

Um pequeno flerte de dias que se prendeu em um sorriso:

Uma tentativa de deixar a rotina negada por crenças:

Uma linnha estranha entre amizade, desejo, encontros e discussões. Com sua vida útil limitada por preconceitos, temperamentos e incompreensão.

Hoje fico mais tranquilo, sei que o desespero de ouvir uma música e lembrar de alguém é sinal que aquelas pessoas deixaram algo. Outras passaram sem sequer uma estrofe digna de nota.

E as vezes, com sorte, temos a oportunidade de ouvir velhas músicas ou novas contando histórias estacionadas que voltam a caminhar.

Esqueçam o medo do som.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O que ouço por aí

Passando pelo setor comercial à noite:

- Ele é pequeno e gozo rápido.

Que homem seria mais honesto que aquele implorando um desconto de uma prostituta as dez horas da noite?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vernissage

Nessa terça-feira a Hill House no Casa Park estava com figuras expostas em murais. Vi o rascunho de meus amigos, seus trabalhos finalizados, alguns roteiros, poesias ilustradas e traços de alguém que já me obrigava a esticar o olho quando era apenas um moleque de 12 anos recém saído do Rio de Janeiro.

Foi a primeira vez que fui a uma Vernissage sem a intenção de beber em primeiro lugar e prestar atenção ao que se encontra a minha volta em segundo. Exposição é exposição, verni normalmente é um bando de gente conversando mil asneiras e roupas descoladas.

Gabriel Mesquita estava com os desenhos de seu caderno, preso na parede. Existia rascunho de roteiros (que me remeteu absurdamente aos rascunhos e roteiros de Hugo Pratt por uns momentos) e notava que pelo seu olhar que a qualquer instante ele simplesmente iria arrancar dali e levar tudo de volta para casa.

Gabriel de Góes definitivamente nasceu para isso. Nunca vi ninguém tão à vontade e tão confiante sobre seu trabalho e pessoa. Passava simplesmente pelos grupos incentivando amigos, conversando sobre roteiros, trabalhos, propostas e planos da mesma forma que pede um cigarro em um buteco.

Lucas Gehre é o mais complicado de expressar qualquer detalhe. Odeio pagar pau de amigos, mas alguns simplesmente não têm como esconder por muito tempo. Já leu um poema entre os traços de um quadrinho? Note o trabalho dele e você vai começar a ter uma noção do que estou falando. Como eu mesmo disse após algumas cervas. Esse cara é o Laerte do “Los Três Amigos”.

Tive um momento ridículo de emoção pelo mais simples trabalho divulgado sobre um vidro, não era de forma alguma nenhum dos desenhos que eu já tinha visto em rascunhos (um fato que até acusado de spoiler estou sendo por conta disso) era apenas três nomes de pessoas que eu conheço, que chamo de amigo e tomo umas juntos. Gostaria de ser menos piegas, mas a única palavra que me vem à mente é orgulho.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Judas Iscariotes

Esse personagem sempre me encantou.

Aprendemos a usar o termo como traidor, aquele que vendeu por 30 moedas de prata (que decerto não seriam realmente prata) o Rei dos Reis.

Judas não foi apóstolo por crença, ele foi indicado por Jesus de Nazaré. Seu papel era ser o contador, aquele que deveria zelar pelas posses dos apóstolos e futuramente o homem que o iria trair.

Sempre selecionado como o último entre os apóstolos a ser mencionado na bíblia, não possui um aspecto favorável e alma gentil, era um homem econômico que questionava gastos supérfluos de homens que deixavam de trabalhar e partiam em busca de fiéis.

Como poderia ser deixado de lado esses simples pensamentos aos que julgam Judas Iscariotes? Como julgar seu rancor contra Betânia ao gastar óleos aromáticos sobre a fronte de um homem? Como julgar o mais fiel dos apóstolos?

Simão o homem que carrega o selo da igreja, o primeiro Papa é apenas um fraco que traiu seu mestre, seu líder, seu salvador e messias. A igreja inicia sua construção sobre os ossos de um pescador frágil, burro e covarde a quem chamam de Pedro, um bloco de granito rachado.

Não pensam sobre o homem que mais amou seu messias, que adorava o homem, que percebeu que deveria cumprir seu papel como poucos conseguiriam. Judas fez mais pelo filho de carpinteiro do que qualquer outro. Ele seguiu com sua fé e garra o dever que deveria cumprir. Transformar Jesus em Cristo.

Pensem sobre sua fé, pensem sobre seus motivos e ouçam com atenção esse musical maravilhoso.


Heaven on their minds

My mind is clearer now.
At last all too well
I can see where we all soon will be.
If you strip away The myth from the man,
You will see where we all soon will be. Jesus!
You've started to believe
The things they say of you.
You really do believe
This talk of God is true.
And all the good you've done
Will soon get swept away.
You've begun to matter more
Than the things you say.

Listen Jesus I don't like what I see.
All I ask is that you listen to me.
And remember, I've been your right hand man all along.
You have set them all on fire.
They think they've found the new Messiah.
And they'll hurt you when they find they're wrong.

I remember when this whole thing began.
No talk of God then, we called you a man.
And believe me, my admiration for you hasn't died.
But every word you say today
Gets twisted 'round some other way.
And they'll hurt you if they think you've lied.
Nazareth, your famous son should have stayed a great unknown
Like his father carving wood He'd have made good.
Tables, chairs, and oaken chests would have suited Jesus best.
He'd have caused nobody harm; no one alarm.

Listen, Jesus, do you care for your race?
Don't you see we must keep in our place?
We are occupied; have you forgotten how put down we are?

I am frightened by the crowd.
For we are getting much too loud.
And they'll crush us if we go too far.
If they go too far....

Listen, Jesus, to the warning I give.
Please remember that I want us to live.
But it's sad to see our chances weakening with every hour.
All your followers are blind.
Too much heaven on their minds.
It was beautiful, but now it's sour.
Yes it's all gone sour.

Listen, Jesus, to the warning I give.
Please remember that I want us to live.
C'mon, c'mon
He won't listen to me ...
C'mon, c'mon
He won't listen to me ...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Fim de campeonato

Fim do campeonato carioca. O Flamengo fez sofrer Botafoguenses e Flamenguistas indo à defesa por pênaltis antecipando o Tricampeonato. Já estava meio alto, passei a tarde assistindo com os amigos e entre o fumar de um baseado e o beliscar de uma lasanha, estava roendo as unhas que doíam de curtas no momento.

Fui desligar a televisão, era domingo e agüentar Faustão definitivamente não estava nos planos. Os amigos se foram e então decidi fazer uma gelatina na esperança de apreciar o glutanismo noturno quando comecei a ouvir os gritos.

Uma menina do prédio em frente gritava ao celular, estava na varanda e a acústica do final da asa norte permitia ouvir toda a discussão. O namorado não tinha voltado, disse que iria em algum lugar e no momento se encontrava no meio da Esplanada enquanto a menina estava trancada no apartamento.

Deixou claro que não era palhaça. Ditou prazo de cinco minutos com a certeza que caso se atrasasse qualquer um segundo a mais, iria terminar com o namoro. Depois mudou para quebrar a casa, que ele não a conhecia, fez e aconteceu. Fez o Diabo.

Comecei a pensar em meu apartamento. Caso quebrassem ele inteiro seria um problema e iria ficar muito triste, comecei a me sensibilizar com o camarada do apartamento em frente. Comecei a pensar em quais seriam os motivos para ele não chegar a tempo e deixar a iconoclasta dentro de seu lar.

Será que ele era Flamenguista e estava comemorando com os amigos? Mas se era, porque não assistiu ao jogo em casa? Teria saído no intervalo e parou para ver em qualquer outro lugar? Teria conhecido em um bar uma menina de pernas grossas e voz suave que decidiu continuar bebendo com ele na Esplanada, talvez um sexo apressado no carro ou apenas um guloso?

E se fosse Botafoguense? Além de perder o campeonato voltaria para casa para ouvir ainda mais desaforos? Esperei com fé que estivesse bêbado em um estado não agressivo, mas confesso que fiquei pensando em ouvir qualquer barulho com o 190 de prontidão no celular. A polícia receberia a cobrar?

Sei que no final das contas ouvi mais umas discussões quando o cara chegou 37 minutos após o prazo estabelecido pela namorada. Ela dizia que não era palhaça, que aquele relacionamento havia acabado, que ele era um escroto, sem noção, responsabilidade e integridade. Foi gritando para a rua dizendo acabou. Acabou!

Minutos depois estavam urrando pela janela, trepando para que todos ouvissem que estavam em paz. É... Vale a pena perdoar um homem ao fim de um campeonato.