quarta-feira, 28 de abril de 2010

Zelo

- Arnaldo não veio hoje?
- Ainda não.
- Ele ligou? Disse que horas viria?
- Não estou sabendo de nada.

...

- Acabaram de ligar. Parece que o Arnaldo morreu.
- Morreu?

Um momento de silêncio toma o escritório.

- Alguém tem a senha de acesso dele?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sem volta

- E essa cara?
- Pensando na Bia... Sei que não deveria nem sequer pensar nela mas gosto tanto dessa garota. As vezes tudo que eu queria era apenas... Sei lá pedir desculpas, tentar de novo.
- Você sabe que ela não vai voltar atrás não é?
- Vários caras comentem erros Paula! Eu não fui o primeiro homem a trair.
- Não tem nada haver com traição. O problema não é você ficar com outra pessoa, a maioria das pessoas tendem a perdoar traições.
- Então!
- Você não pode perder o olhar de uma mulher. O olhar Bruno... E você perdeu.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Jogo Feito

Quando conseguiu abrir os olhos tudo o que ouviu de longe foi o som repetitivo do eletrocardiograma e uma espécie de balão subindo e descendo. O rosto estava insensível e o olho esquerdo fechado em uma bandagem, deixando o direito piscando em busca de pessoas.

Uma enfermeira apareceu sorrindo e dizendo que estava tudo bem, que estava segura agora. Tentou levantar o braço em direção ao rosto mas a agulha e o tubo deixaram o peito da mão pesada e dolorida. Seu braço tinha hematomas tão fundos e enormes que tinham uma tonalidade própria. A dor que ainda sentia era insuportável.

- Se estiver sentindo muita dor podemos aumentar a dosagem. Gostaria querida? Apenas aperte a minha mão duas vezes se for sim. Certo, vou aumentar.

Depois foi o tempo de dormir, acordar e receber visita de um jovem médico. Ele começou contando que as lesões foram severas mas que estavam cuidando dela. Ela estava tocando o ventre sentindo um incomodo duro dentro de si e então ouviu o médico contando sobre o procedimento.

- O ataque foi muito ofensivo... ligar suas trompas... cauterização... estamos combatendo a infecção.

Ali ela entendeu. Veio a sua memória a invasão de sua carne, o arranhar de peles, gritos e como a queimaram por dentro. Lembrou do rosto do homem suado a sua frente e ainda teve a frieza de guardar seu sêmen em um pote antes de desmaiar. Consuelo iria se vingar desse homem.

Passou dois meses até sair do hospital, ainda estava seca por dentro. Cheia de gases e remendos. O rosto nem de longe lembrava a mulher que foi um dia. Era apenas um couro repuxado e em alto relevo. Mas a ira era pessoal, era tudo o que lhe restara.

As vizinhas ainda queria ajudar a colocar ela em casa. Mandou todas a merda. Ninguém quis ajudar enquanto gritava em plenos pulmões. Todas tinham medo de Consuelo, só vinham até sua casa quando queriam seus homens de volta em um trabalho.

Ela abriu o pote sem olhar muito para a casa, principalmente para o chão ainda com sangue pisado. Parte do sangue do seu útero que não serviria para mais nada. O sêmen ainda estava lá. Seco e misturado com sangue.

Ascendeu as velas, preparou um corte junto as agulhas, linhas algodão e diluiu o que sobrou do sêmen seco a cachaça barata que comprou antes de subir. Bebeu bastante dela para que a ouvissem enquanto costurava.

- Faz ele pagar pelo que fez. Esse homem merece o que tiver de pior para ele nesse mundo. Ele abusa de crianças desde de cedo e deixa mulheres vazias por onde entra. Faz ele pagar. Ele tira o nascer de crianças do mundo. Faz ele pagar.

Duas semanas se passaram quando Ailton foi preso. Os policiais não gostam de estupradores, bateram nele até o rosto virar uma papa de sangue preso como queimadura na pele. Quase perdeu a visão do olho esquerdo naquela noite.

Na prisão gostam muito de estupradores. Ele é toda a terapia e descontar de raiva, tesão e impunidade que eles precisam. Batem como um cachorro, quebram seus dentes no primeiro dia e seu estomago vira um receber de jorros masculinos até que tudo que ele vomite seja porra, na segunda semana está na clínica do presídio ouvindo do médico.

- Eu nem deveria costurar o seu rabo homem. Assim vai continuar entrando bem mais fácil.

Ele suporta por apenas um mês. Chorando perde perdão a virgem e se amarra justo a grade, o pescoço não rompe facilmente. Fica sufocado por alguns minutos, tremendo e chorando pedindo para morrer enquanto ouve os presidiários rindo a sua volta. Morre sozinho, inchado e coberto de merda.

- Isso é jogo feito meu irmão. Ninguém demora tanto assim para morrer.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O machista

- Não te incomoda nem um pouco que eu te chame de machista?
- Claro que não.
- Juro que um dia eu vou entender por que homens assim persistem em existir.
- Para dizer o que todos os outros pensam.
- Você acha que todos os homens são idiotas?
- Não. Esse pensamento é uma constância da mágoa feminina. Eu acredito que todos os homens estão sendo fatalmente castrados.

...

- Nenhum homem mais pensa por si. Sempre sendo vítima dessa abominação, deste mundo feminino que estão criando a nossa volta. Igualdade, malditas peças e exposições, depilação a laser, academia para desenhar corpos, leis contra homofobia... Uma enorme armadilha para que castrem e domestiquem o homem.
- Domestique o homem? Isso é viver em sociedade. O que você gostaria era de uma dondoca que aceitasse esses absurdos.
- Da mesma forma que vocês.
- ...
- O que é o novo homem senão um desejo feminino? O que é esse novo homem é, senão uma dondoca para mulheres?
- Não é nada disso!
- Claro que é. Hoje as mulheres desaprenderam até como satisfazer um homem. Reclamaram a vida inteira daqueles que nunca se importaram com preliminares e hoje temos que implorar para receber a porcaria de um guloso mal feito. Não me surpreendo que existam tantos veados no mundo.
- Toda mulher verdadeiramente apaixonada, fará de tudo com prazer, para o homem que dividir sua vida.
- Assim como qualquer homem. Mas não é sobre isso que estamos discutindo ou é? Estamos falando desse universo presente, desses idiotas de cabelos e roupas alinhas, barbas rentes e toda a preocupação em dizer o que sente, ou, o que gostariam de ouvir que dissessem.
- Basta ter um cara que ouça o que uma mulher quer dizer, ouvir, ajudar, dividir...
- Para que? Confiam tão pouco assim em suas amigas? Não me importo em ouvir o que tenham para dizer. Mas pelo amor de deus... Sejam claras e objetivas. Não preciso de um prelúdio cada vez que ficou chateada com algo.
- Nossa... Isso exige tanto assim de você?
- É para isso que existem psicólogos, para que vocês possam contar o que pensam. Confesso que se eu recebesse para isso, seria mais paciente.
- Ha ha ha. Isso é tão típico... O machismo realmente está no ser impor.
- Claro, claro.
- Apenas gostaria de viver em um mundo que eu possa caminhar pela rua sem ser devorada por olhares, que parassem de me expor desse modo grosseiro.
- Você gostaria de viver em um mundo que mulheres não sejam vistas como um pedaço de carne? Não precisa sonhar com uma utopia. Fique gorda.
- Caralho! Não acredito que você disse isso. É exatamente isso que...
- Qual é? Você sabe que eu estou certo. Qual o maldito problema em ter homens querendo trepar com você? Gostaria que fosse o oposto? Duvido! Aí começaria o pensamento: - Gostaria de ser desejada por quem eu quero. - Perfeito meu amor, concordo com você. Eu adoraria uma linda ninfeta a você. Mas usamos as cartas que temos.
- Você é um babaca!
- Sou. Não tenho nenhum motivo para esconder isso. Sou um babaca, machista, homofóbico. Sou tudo isso e um pouco mais. E quero viver em um mundo que eu possa ser quem eu quiser. Não vou obrigar ninguém a me tolerar, ao contrário do que me empurram todos os dias em revistas, programas de televisão ou conversas em bar.
- Não acredito que eu dei para você.
- O pior não é ter dado para mim. O detalhe que deve estar incomodando sua cabecinha agora é que eu trepo bem.
- ...
- Ou vai dizer que estava fingindo agora? Na verdade não me importo. Fingiu bem o bastante pelo tempo que importou.
- ...
- Pode ir embora se quiser. E não se preocupe com a conta, claro que eu vou pagar, esse é outro pensamento que nenhuma de vocês gostaria que mudasse também.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Conversa de bar VI

Ouvindo de rabo de olho a conversa alheia.

Menina de vestido com um brinco de semente na orelha diz para outra menina de regata listradas de preto e branco:

- Cansada do Matheus falando que minha vida é mais fácil por ter dinheiro. Porra, meus pais tem dinheiro! Só porque eu não pago minhas contas tenho que deixar de fazer as coisas que eu gosto?

- Claro que não! O esquema é que ele é um fudido. Na real ele tá puto porque você vai viajar para Angra e ele vai ter que ficar aqui. Só isso. Medo de levar uns chifres.

- Nem é isso na real. Tipo... Ele sabe que quando eu vou ao Rio eu encontro com outro tipo de pessoal saca? Tipo, lá todo mundo tem grana e nem por isso se sente culpados. Todo mundo é bonito para caralho, sarados e queimados de praia.

- Por isso que eu gosto de praia. As pessoas vivem um clima sem preconceitos, porque na praia todo mundo é igual usando apenas biquínis.

...

né?