sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sinais

Calor. A noite queima de olhares, pescoços virando ao som da dança e quadris soltos em sintonia com o bater dos pés femininos.

Detalhe preso na gota de suor, aquela que desce pelo pescoço e adentra o colo, arrepiando cada pequeno pêlo pelo vento frio que passa por entre as dançarinas soltas no salão.

Ouça os casais conversando ao pé de orelha, perdendo tempo demais com palavras quando todos os corpos já estão se entendendo além do receio. Dedos passando por cabelos, pescoços virando de lado, olhar fixo e respiração acelerada a cada proximidade que deveria ser um beijo e se tornou uma desculpa para comprar cervejas.

Desce uma, duas, três latas e busque no embriagar, um que se confunda com o cheiro de quem dança a sua frente. A mesma coragem que te deixa bêbado e com a certeza que não deve chegar perto de mais ninguém.

Ora! Tenha coragem homem! Deixe o queimar do olhar se transformar no derreter da nova saliva em tua boca. A mão descer por nucas suadas, lendo o braile do arrepiar ao toque. Pare de buscar sinais e crie marcas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Símbolos

Murmuro por toda a sala, gente passando jornal de um lado para o outro e alguém fala mais alto no salão.

- Isso é um desrespeito!

O tal desrespeito se tratava de uma imagem de uma linda mulher segurando a fé de um país em punho. Ah, sim... Ela estava nua.

- Você não acha isso um desrespeito? Com certeza que não. Afinal, você é ateu.
- Ao contrário, acho desrespeitoso sim.
- Finalmente você agiu com bom senso.
- Acho um desrespeito censurar essa foto.
- O quê?
- A igreja não tem nada melhor para fazer não? Desde quando ela ainda não percebeu que não está ligada ao Estado? Porra, é apenas uma foto.
- Não é apenas uma foto, é um símbolo sagrado.
- E para você, os símbolos sagrados deveriam ser respeitados?
- Lógico!
- Como os patuás?
- ...
- Galinhas pretas, oferendas, rosas, arroz, lentilha, vacas...
- É diferente.
- Para todos. Existem muitos católicos? Vão todos para as putas que os pariram, caso não consigam separar arte, cultura e principalmente outras crenças.
- Playboy por acaso é arte?
- Muitas coisas a nossa volta é arte. Existe um trabalho, uma produção, talento de enormes fotógrafos...
- Que poderiam estar fotografando belezas, ao invés de mulheres nuas.

Sorri e me distanciei. Que esse debate tenha como vencedor aqueles que jamais seriam expulsos do Jardim do Éden. A árvore do conhecimento é proibida para os que devem amar cegamente. Amém.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Onomatopéia

- Me pega por trás.
- Vira.
- Aham.
- Ahh...
- Humm.
- Ah... ah...
- Hunfe, hunfe, hunfe

Plat, plat, plat, plat

- Ah, ah, ah, aaahhh
- Hunf..
- Assim. Deus!

Plat... Plat, plat... Plat

- Ai, ca...

Plat, plat, plat

- ra...

Plat, plat, plat, plat

- Lhooo!

Slapt!

- Ai!
- Outro?
- Aham…

SLAPT!

- Assim…
- Aham
- Assim…
- Hunfe! Hunfe!
- Filho da... hummm... putaaaa!

Plat, plat, plat, plat...

- Ah, ah... Ah... aaaahhh...

Plat, plat, plat, plat, plat... PLAT!

- Aghhhhhh… Puta que pariuu!
- Hummm.
- Nossa.
- Fe anu.
- Arf, Arf… O… Arf… O quê?
- Te amo.
- Eu também gatinha.
- Pode sair para o lado?
- Aham.
- Ufa!
- Gostosa.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mais um texto sobre as Olimpíadas

Acabou-se a maratona, tanto a olímpica quanto a disposição de ir dormir às três horas vendo jogos, acordando as seis e indo ao trabalho as nove. A olimpíada de Pequim chegou ao fim e com ela os comentários a respeito dos jogos e busca por medalhas.

Ficamos em uma posição bem abaixo da esperada e os sentimentos foram variados. Muitas pessoas ficaram putas, outras satisfeitas e eu particularmente fiquei chateado por não poder ver todos os jogos que queria, já que não tenho televisão a cabo, sendo refém do que a Globo acha importante passar.

Estava conversando com uma amiga e ela levantou a idéia que aceitar o bronze, ir para competir é mediocridade tipicamente brasileira, que deveríamos apenas buscar o ouro que a prata não conta. No conceito dos norte-americanos: “Não se ganha a prata, se perde o ouro.” Te amo Mah, do fundo do meu coração. Mas não concordo.

Olimpíada é o superar do ser humano, buscar seus limites, estar representando você, seu País, sua cultura, cor e fé. Cada País possui uma forma de criar seus campeões e uma cultura voltada para aumentar o número de medalhas.

Temos os EUA criando ligas desde o ginásio, dando incentivo como bolsas universitárias para seus atletas e obviamente muita grana para treino, técnico e uma sociedade voltada para o primeiro lugar sempre. Ponto reforçado, no ridículo papelão mundial ao mudar a contagem de medalhas já que levaram a prata e perderam o ouro nessa olimpíada.

A China cumpriu sua promessa. Mantiveram o primeiro lugar no quadro de medalhas, com ambição, inteligência, obsessão e crueldade ao treinamento dos melhores do mundo em seu disparado número de medalhas. Uma sociedade calada, seguindo o antigo modelo soviético na representação esportiva, ganha do ocidente mostrando o dragão que ruge.

Nosso País teve uma enorme quantidade de atletas enviados, o maior de todos os tempos. E achei maravilhoso que o ouro tenha vindo de quem não se esperou. Nossa bandeira subiu na China e mesmo o bronze tem um belo sabor para mim. Isso significa esforço, garra e vida dedicada ao o que se ama. Quem somos nós, aqueles que apenas escrevem, para falar de quem dedica seu corpo para superar limites? Nós escritores, jornalistas, publicitários e quitandeiros, podemos julgar realmente quem foi apenas competir? Superando distensões, deslocamentos, fraturas, sangue e suor... O que sabemos sobre nossos limites, além de estresse e fadiga do dia-a-dia? Todos que pisaram em Pequim, independente do País, para mim são heróis.

Ouvi o hino da Grécia e o subir de sua bandeira com uma emoção distinta e certa nostalgia de algo não vivido. Será que os antigos Atenienses, Espartanos, Cretenses... Pensaram que um dia mulheres participariam? Que aqueles “não-cidadãos” poderiam competir seus principais esportes e ganhar? Sei que o tempo muda e as olimpíadas modernas trouxeram várias vantagens para o mundo dos esportes e política externa. Mas ainda sonho com o cheiro da coroa de louro sobre três cabeças de homens exaustos e vitoriosos. Mostrando que a vitória não muda em nada o fato de todos serem iguais e apenas fizeram que o olhar de Fortuna focasse seus objetivos por um breve momento.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bom final de semana

Tesão em 4 atos

Ele a abraça por trás, encosta a barba rala em seu pescoço e solta palavras com aroma de hortelã misturado com café.

- Estou com saudades de te sentir bamba.

O arrepio desce da nuca ao interior da coxa, apenas o condicionamento da saudade marcada na carne.

...

Sentando na cadeira do trabalho, ela sente uma dorzinha e lembra com um sorriso gostoso a noite de ontem.

...

Os dois se encontram depois da viagem que manteve os dois distantes por uma semana.

- Saudades de você gostoso!
- Amor?! Pára com isso, estou sem samba.
- Você quase nunca usa.
- Mas hoje não estou de jeans.

...

- Você se masturba às vezes?
- Sempre.
- E como faz?
- Normalmente com o meu travesseiro entre as pernas.
- Pensando em mim?
- Normalmente penso nele quando estou com você.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Intimidade

- Estou ficando com frio, vou pegar minha roupa.

Apenas seguro-a pelo pulso e sorrindo peço que fique.

- Posso me cobrir?
- Vem aqui, eu te abraço.
- Humm...
- Poderia ficar te olhando por horas.
- Tira uma foto.
- Adoro fotos, mas não teria o movimento de seus seios ao respirar e as mudanças de tons pela persiana junto a luz que vem de fora.
- Você está com sono já. Falando breguices.
- Bastante.

...

- Preciso te contar uma coisa.
- Com quem você está ficando?
- Há, há, há... Nada disso.
- O que é?
- Você ronca.
- Ronco nada.
- Ronca sim e bem alto.
- Só quando estou cansado.
- Todas as vezes que eu dormi aqui.
- Você me deixa exausto.
- Fofo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Santo

Um homem gritava na rua, coberto de sujeira e indiferença aos que passavam para o trabalho. Suas mãos sujas passavam pelo corpo, enquanto ele chorava e ria olhando para o céu em agradecimento a Deus.

- Obrigado pela visão. Obrigado Senhor!

Ele gargalhava pela rua, esfregando o rosto com força contra os nós dos dedos.

O que ele sabia? O que havia visto? O que perdíamos ao não ouvir?

Vi mais fé nos olhos deste homem do que muitos fiéis e padres. E essa imagem de João Batista, vestido de fé, estremeceu-me a alma.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O último

Levanta cedo e vai direto para o banheiro chutando as coisas pelo chão. Olha no espelho tempo suficiente para ter a certeza que continua com o mesmo olhar de ontem, a mesma fome que o consome por dentro e que não pode de forma alguma deixar passar a oportunidade como fez.

Veste uma calça suja e sua blusa amarrotada, faz um nó torto na grava e veste a mais mal cheirosa meia que pode encontrar em meio a muda úmida e mofada de roupas. Realmente não está se importando.

Abre o armário e de dentro de uma caixa de sapatos, pega o revolver que havia guardado por dois anos, o período que saiu da polícia, e põem dentro de sua calça, sentido o gelado do cano incomodando sua virilha.

Desce pelas escadas, toma seu pingado sem falar com ninguém e parte para o ponto de ônibus, a linha para Taguatinga demora no final de semana saindo do Plano, mas não quer ir até a rodoviária. Prefere esperar por 40 minutos, mais uma hora e meia até Taguatinga Centro.

Olhando para o relógio ele vai até o orelhão e liga mais uma vez.

- Bom dia.
- Quero me encontrar com você. Estou na Praça do Relógio.
- Eu não atendo tão cedo.
- Pago R$ 200,00.

Ela suspira alguma coisa no telefone e então ele a ouve conversando com alguém. Mas parece que finalmente se decide.

- Tudo bem amor. Espera dez minutinhos e pode subir. Tem o número da entrada?
- Tenho sim.

Ele pede um suco de caixa na padaria em frente e compra um brigadeiro grande para viagem. Quando passa os dez minutos ele bate na porta.

- Oi querido. Pode entrar.

Ele vai caminhando direto para a cama e olha debaixo dela, abre os armários e afasta as cortinas.

- Não tem ninguém aqui. Você vai transar ou fuçar minha casa?

Ele tira a arma e aponta direto para a barriga dela. A mulher se contrai e aperta com as mãos sujas de sangue o ventre caindo de cara para o chão.

- Ontem você me disse que me amava. Disse que precisava de mim e eu sei que outro cara entrou aqui logo depois. Logo depois!

A jovem chora e aperta com força a imagem da santa que sua mãe deu quando saiu de casa. Ela está chorando e implorando que Deus a perdoe enquanto morre ao lado do homem que começa a tirar suas roupas enquanto come um brigadeiro.

- Posso não ter sido o único, mas certamente serei o último.

sábado, 16 de agosto de 2008

Segredos

Uma fotografia enrolada em um veludo vermelho escuro encontra-se de uma caixa de madeira cheia de ferragem. Estava dentro do armário que sempre foi deixado no sótão, o mesmo local onde ele trabalhava durante duas horas todos os dias, escrevendo, ditando, gravando passagens e voltando a escrever em uma máquina velha e enferrujada, a mesma que Estefânia pediu diversas vezes para trocar por um computador.

- Computadores não têm calor. Não deixam páginas marcadas como os fatos que me obrigam a escrever. Não confio em nada que não deixe marcas.

Não devia ter pego esta caixa. Não deveria ter aberto. E mesmo antes de abrir o veludo, sabe que não conseguiria. Nela está a foto de um sorriso.

- Querida, pode me ajudar com a cozinha?
- Já vou.

Panelas, louças, xícaras, talheres, sorriso, canecas, um beijo, toalhas e uma vasilha estoura quando cai ao chão.

- Merda! Merda, merda, merda!
- Querida está tudo bem?
- Por que você guardava aquela foto em seu escritório?
- Você mexeu em meu armário?
- Estava empacotando seus livros, como imaginou que eu não iria mexer no seu armário?
- Porque meus livros estão na estante.
- Por que você guardou aquela foto?
- Por que você precisou abrir? Eu nunca mexi em suas coisas!
- Você nunca se importou com minhas coisas! Ou comigo!
- Então estou apenas morando com você há 10 anos por nada?!
- Me diga você. Por que guardou a foto?
- Isso não tem nada haver com você é sobre mim.
- E eu não posso saber?

Uma pilha de pratos são atirados ao chão com violência. E então uma mulher recua assustada, sentindo mesmo recusando a hipótese, que poderia ser agredida.

- Por que você precisa saber?! Não é sobre você! Não tem nada haver sobre sua vida! Você apenas precisa saber o que não conhece , o que não controla, o que não está a seu alcance dentro da mediocridade que chama a sua vida!

Uma lágrima corre e uma porta se fecha. Certamente a última caixa.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Instância

A menina está mexendo em um óculos há horas. Escondeu-se em um canto do armário que era só seu e limpava as lentes grossas fingindo não ouvir as vozes chamando pelo corredor do apartamento.

Gostava de ficar em silêncio, no silêncio tinha certeza que podia ouvir cada objeto a sua volta cantando os momentos, trazendo cheiro do passado e embalos na cadeira que parou de mexer e está trancada no quarto de Amélia.

- Renata!
- Onde essa menina se enfiou?
- Não vai brigar com ela.
- Só quando a encontrar. Renata!

As imagens dos livros sumiram. Ela tentou diversas vezes ouvir o cenário crescendo a sua volta e apenas páginas amareladas a encaravam de volta. Páginas lisas com pequenos pontinhos sobre ela. As formigas contadoras. Nenhuma mais contava histórias.

- Renata!

A pele amassada como roupa guardada não estava mais sobre seu cabelo. Não podia mais sentir o algodão de rosto em contato com o seu.

- Renata!
- Fique quieto, acho que a achei.
- Onde?
- Está ouvindo?

Queria de volta as cócegas, o sorriso, o olhar brilhando que dizia que havia roubado o seu quando ela nasceu.

- Dentro do armário. Fique quieto ela está chorando.

A porta se abre e trás consigo a luz do quarto. Apaga as memórias e o cheiro do homem que ela chamou de avô.

- Renatinha. Vem minha filha, vem se despedir do seu avô.

A menina bate no peito do pai e grita em meio às lágrimas.

- Não precisava me despedir dele! Vocês estragaram tudo! Vocês sempre estragam tudo!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pedaços de filmes I

Durante essa semana assisti um filme do caralho.
Fiquei impressionado pelo fato de um dos atores, na verdade o Protagonista, ser o Ben Afleck (surreal!) e atuando bem. Talvez pelo fato do personagem dele ser um idiota completo.
Procura-se Amy entrou em um dos meus filmes favoritos. Vale a pena assistir e pensar mesmo o quanto somos caretas com quem escolhemos dividir nossas vidas.




Abram os olhos

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Rastros

Marina estava escolhendo uma música em sua lista. Passou pelas brasileiras, passou pelo Jazz, pelos clássicos e começou a notar que poucas músicas eram realmente dela. Quem havia colocado tantas bandas desconhecidas, tantos estilos que ela havia escutado apenas algumas vezes e com quem?

Pj Harvey ela havia escutado muito com Denis, Aaron Thomas tinha sido baixado por Felipe, assim como She Wants Revenge. Jorge tinha passado um período breve e inquietante com o som de Rachel Yamagata e Yael Naim. Aos poucos foi percebendo que aqueles homens marcaram a memória de seu Mac mais do que sua pele.

Resolveu pegar um livro em sua estante. Leu García Lorca após a peça Yerma de Santiago. Tudo que já tinha lido de Neruda havia se transformado em uma tarde com cheiro de cigarro de palha e maresia com Tadeu. Cansou dos livros.

Deveria se vestir e ir a um café, lembrar do gosto do beijo de Henrique misturado ao tabaco? Ir ao CCBB e lembrar de quando sentiu as mãos de Danilo, debaixo de sua saia, enquanto tentava se concentrar a mostra de filmes franceses?

Esse mosaico de homens havia desejado-a, alguns a amaram. Deixou um sorriso esboçar o seu rosto enquanto se vestia, desnudando-se das memórias.

- Que venham e me completem, quero alguém que me pinte, que me fotografe. Estou cansada de ver fotos e não sentir nada.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Religião

A saída ao teatro tinha sido interessante. Os atores não eram ruins e a companhia interessante o suficiente para dividir o espaço em silêncio por quase duas horas. Agora estávamos em um café e após conversarmos tudo que tínhamos para falar a respeito da peça, nos tornamos refém do famoso silêncio constrangedor.

- É um lindo escapulário esse que você tem.
- Obrigado, gosto dele também.
- Acredita que ele está te protegendo?
- Acredito que a pessoa que me deu acredita. Isso para mim é o importante.
- Você usa um escapulário sem acreditar nele? Por acaso você não acredita em Deus?
- Não.

Mais alguns momentos de silêncio constrangedor. Então eu decido pedir um vinho, essa conversa vai ser mais longa que imaginei.

- Por que você não acredita em Deus?
- Olha, não tenho nada contra quem acredita. Acho a fé algo fantástico, mas para mim, simplesmente não funciona.
- Não funciona?
- Eu sou crítico demais, curioso demais, leio muitas coisas para tentar ter certeza de algo.
- E o que você leu para deixar de acreditar em Deus? Algum texto anarquista, comunista, ou desses cientistas sociais do século XIX?
- A bíblia.

Ela sorriu e tomou rapidamente a sua taça de vinho e então voltou a se servir do mais rubro e seco deleite.

- Um ateu que lê a bíblia. Continue.
- Não gosto do ponto de vista deste Deus Judaico-Cristão. Acho que o ocidente já teve Deuses melhores.
- Está falando dos Gregos?
- Também. Mas estava pensando mais ainda no ocidente, nós americanos.
- Índios?
- Guaranis, Tupis, Astecas, Incas, Navajos, Siouxs... Uma variedade assustadora e rica onde um estava de olho no outro. Acho melhor do que um único e tirano Deus.
- Deus não é tirano.
- Você está brincando não é?
- ...
- O velho testamento inteiro é sobre uma pessoa mesquinha e possessiva. Destrói cidades inteiras, mata crianças, manda expulsar bastardos, pede para pais matar filhos, tira tudo que um homem têm para provar que é amado. Isso não é tirania?
- Mas isso foi escrito por homens. Jesus mostrou um outro Deus.
- Nunca entendi essa contradição entre os católicos. O que vocês julgam ser escrito ou não por homens? O que convêm?
- Lógico que não.
- Para mim, Jesus era um homem. E mesmo assim duvido muito que tudo que esteja escrito sobre ele, seja verdadeiro.
- Mas acredita que o que escreveram sobre Deus no antigo testamento é?
- Também não. Mas me deu uma base sobre sua personalidade ao menos.
- O tirano.
- Na primeira fase.
- E quanto ao ponto de vista do novo testamento?
- Carente.
- Carente?
- Um pai que bateu demais nos filhos. Um homem covarde e carente que deseja perdão a custa de presentes caros. “Me amem, me amem, me amem.”

A risada dela é fantástica e a forma que ela me mostra o seu pescoço me faz pedir a conta.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Veneno

“Pois bem!, respondeu o Senhor. Tudo o que ele tem está em teu
poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa. E Satanás saiu
da presença do Senhor.”

Eram umas três da manhã enquanto ela tentava arrumar suas coisas e sair correndo de da casa que não era mais bem vinda. Quase nunca chove em Brasília no inverno, mas durante a madrugada era um frio absurdo demais para qualquer pessoa pensar em sair de casa.

- Pára de ser idiota. Dorme aqui essa noite.
- Dormir? Você acha que eu estou com cabeça para dormir seu escroto?
- Nós terminamos Janice, não estou te expulsando de minha casa em plena madrugada.
- Então seria melhor você ter terminado durante o dia.
- Às vezes você age como uma criança.
- E você como um canalha.

Ela simplesmente saiu pela porta, olhou para trás apenas uma vez e firmou um pacto. Esse homem iria pagar pelo o que fez. Ele iria sofrer tanto quanto ela imagina estar sofrendo por ele.

...

- Terminou com a neurótica?
- Sim, nós terminamos ontem.

O pé dela subiu pela perna dele em direção a virilha.

- Vou sentir saudades dos encontros escondidos. De você me comendo com pressa na garagem do apartamento.
- Vai ficar chateada se eu disser que não vou sentir saudades de nada disso?
- Não vai?
- Não Marina. Eu estava cansado de mim mesmo. Queria apenas dormir com você, deitar do seu lado e ter a certeza que estou fazendo tudo certo.

Marina sorri, levanta da cadeira, senta em seu colo e entrega um beijo demorado. Então Fernando a afasta.

- Nós estamos em um restaurante, você está louca?
- Por você.
- Te amo.
- Eu sei. Vou ao banheiro.

O espelho mostra uma mulher jovem e apaixonada retocando o seu batom. Finalmente ela pode desfilar com o homem que sempre foi dela. Pode ser apresentada aos seus amigos, a idiota da sua mãe e talvez até se mudar para o apartamento dele. Tudo deve ser feito com calma e leveza para que não cometa os mesmos erros que a corna cometeu.

- Ele vai te trair também.

Olhando para trás ele pode ver a ex. Ela está com um rosto terrível. Velho e sem maquiagem alguma para ajudar.

- O que você está fazendo aqui? Vai armar um escândalo? Olha que eu chamo o gerente.
- Não vou criar nenhum escândalo. Só vim te avisar que ele vai te trair, ele precisa disso.
- Ele precisa disso. – A jovem dizia segura de si, segurando sua cintura e seios.
- Vai dormir tranqüila sabendo que ele vai trabalhar até mais tarde? Que vai precisar sair em um sábado pela manhã para resolver um pepino na agência? As festas de madrugada cheias de modelos? Modelos como você?
- ...
- Aproveite querida. Aproveite o tempo que acha que é seu. Deleite-se com a cama, que nunca vai ter certeza do porque trocaram as colchas.

Ela sai do banheiro alguns anos mais velha. Olha para o homem de quase cinqüenta anos sentado olhando para a jovem que passou ao seu lado. E sente-se estranhamente velha em seus 25 anos.

- Você estava olhando para a guria que passou ao seu lado?
- Que guria? Do que você está falando?
- Nada.
- Está tudo bem? Você está pálida.
- Estou bem. Vamos ir ao cinema amanhã? Estava querendo ver um filme com você.
- Vamos deixar para o domingo. Amanhã tenho que ir trabalhar.
- Sábado?
- Acumulei muito trabalho por conta de nossas saídas nessa semana.
- E quanto a noite?
- Devo chegar tarde, não me espere acordada.

Ele beija a sua mão e percebe que ela estão frias. Pensa que deve ser uma queda de pressão, então ela sorri e ele deixa se enganar com o falso sorriso que tantas vezes viu no rosto de sua ex.

“Por que as mulheres conseguem se tornar tão desinteressantes, ao se tornarem prioridades em minha vida?”

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sarros, drogas e Rock Roll

Um irmão me passou um vídeo, nele estava um cara de cabelo comprido e um visual largado que durante muito tempo carregamos com orgulho pela escolas, ruas, shows e jantares de família.

Nós éramos uma irmandade, uma gangue, um grupo de moleques magrelos (isso ainda é reflexo até hoje), aprendendo a beber, fumar maconha e ouvir o melhor da década de 90 em termos de música.

Meu quarto era composto de vários tapes sujos e marcados com durex segurando um papelzinho com os seguintes nomes: Pearl Jam, Nirvana, Alice Chains, Stone Temple Pilots, Elastica (juro que era da minha mina), Soundgarden, Faith no More, Red Hot Chilli Peppers e alguns outros largados e variados estilos para aquele que nunca teve nenhum certo.

O interessante é que eu era um duro, meus amigos tinham os cds mais bacanas, as minas os pôsteres e eu só tinha grana para uma blusa fuleira e uma flanela que de tão velha era a mais grunge do ambiente. Mas isso jamais me impediu de correr atrás e gravar o maior número de bandas que eu conseguia ouvir sozinho em meu quarto, pensando nos eternos problemas que todos os adolescentes tem e acham ser tão seus.

Os shows possuem um papel crucial em tudo que é relacionado ao início de minha adolescência. Porra... Foi por conta de um show que eu conheci a linda menina que tirou minha virgindade e descobrir que amor não existem só em poemas. Que me fazia parar de transar para virar a fitinha, quando descobri que música poderia servir de fundo para algo muito melhor que maconha.

Mas esse texto começou com o link enviado por um dos meus amigos. Hoje nós crescemos todo mundo trampando, alugando e comprando apê, os problemas com as minas que provam que crescer na verdade não muda tanto as coisas assim e ainda nos sentamos para tomar uma cerva e conversar sobre como nos conhecemos a tanto tempo, em como um dos nossos que está partindo em breve para fora vai fazer falta e como somos sortudos de termos uns aos outros e de todos nos encontrarmos várias vezes em showzinhos no Garagem ouvindo bandas ruins destruírem nossas bandas boas.

Mas quem se importa? Isso é Rock não é?