sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mortal

- O que você faria se eu morresse?

- Não gostaria de pensar sobre isso.

- Preciso saber. Sentiria minha falta?

- Lógico que sentiria sua falta.

- Mas você me esqueceria.

- Nunca iria te esquecer.

- Lógico que iria. Em algum momento você iria se ocupar com sua vida, suas coisas, em um momento de porre com os amigos não iria se lembrar de mim e provavelmente quando estivesse gozando entre as pernas de uma outra mulher não estaria pensando em mim.

- É verdade.

- E você ainda admite isso?

- O outro homem que eu seria após sua morte poderia esquecer de ti nesses momentos.

- Te amo.

- Eu também.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Noite dos mascarados

- Quem é você?
- Adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- ...que eu quero saber o seu jogo
- ...que eu quero morrer no seu bloco...
- ...que eu quero me arder no seu fogo
- Eu sou seresteiro, poeta e cantor
- O meu tempo inteiro, só zombo do amor
- Eu tenho um pandeiro
- Só quero um violão
- Eu nado em dinheiro
- Não tenho um tostão...Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
- Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
- Eu sou tão menina
- Meu tempo passou
- Eu sou colombina
- Eu sou pierrô
Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira que você me quer
O que você pedir eu lhe douSeja você quem for, seja o que Deus quiserSeja você quem for, seja o que Deus quiser

Elis Regina - Chico Buarque - Noite dos Mascarados

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Patamar

Estava discutindo sobre a importância e ambições de nossa espécie. Soa idiota a primeira frase pelo simples fato de sermos tão distintos em culturas, línguas e crenças para simplesmente simplificar nossa espécie como uma. Mas vamos a base, somos uma espécie e estamos aqui.

Adaptamos-nos para nos manter em cada canto desse planeta, matando e cultivando a nosso modo cada ser e plantas necessárias a nossa volta. Desenvolvemos uma série de ferramentas, normas de condutas, povoados, cidades, vilas, tribos, ajuntamentos e seguindo nessa linha nossas religiões e todo o restante que nos cerca.

Então veio a conversa. Alcançamos nosso potencial máximo? O homem se desapegou do que era inicialmente e hoje estamos seguindo fatalmente ao fim deste planeta e de nossa espécie. Odeio essas conversas.

Acredito muito na nossa espécie. Vamos sobreviver a nós mesmos, as nossas crenças, burrices e até mesmo a qualquer coisa que esse planeta quiser voltar contra nós se tivermos tempo e nos focarmos.

Estávamos comentando sobre o fim do planeta. Esse desejo que merecemos ser punidos por destruir um planeta me cansa. Sim iremos sobreviver, além disso, iremos sair para qualquer lugar para absorver o que tivermos que absorver.

Impossível colonizar planetas, gerar mares, atmosfera, vegetação e todas essas asneiras que julgamos hoje ser base para viver? Bom parecia impossível gerar fogo por conta própria. Poderia continuar com aquelas mais bacanas como penicilina, quebrar átomos, mapear DNA e por aê vai. Tudo tão fantástico, mas calma! Precisamos de limites.

É tudo sempre sobre isso, precisamos nos limitar em normas de condutas, deuses, políticas e qualquer coisa que possa fazer você estar atento ao presente e não se dividir do bando.

Bando. Somos o melhor bando espalhado por esse planeta e iremos sair daqui deixando provavelmente uma porcaria nem digna de ser lembrada, como aquele parente afastado que só nos trás problemas.

Adeus planeta Terra, obrigado pelo lindo patamar.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dádiva

Meu nome é Rodrigo Souza Pinhares e estou olhando para uma arma a minha frente pensando em como posso acabar com minha vida.

Sempre fui um cara que não se diferenciava muito na multidão, mais um idiota em busca de emprego fixo, talvez um namoro que passe de dois meses e sentar em uma mesa de bar e ter pessoas rindo comigo.

Acordei no dia 16 de fevereiro e simplesmente tudo mudou, as coisas saiam exatamente como eu queria que acontecesse.

A sindica não reclamou do atraso de 3 meses do condomínio, o ônibus chegou na hora, uma pessoa levantou do banco para eu sentar e ao chegar ao trabalho todos me deram bom dia.

O trabalho era leve e resolveram me dar uma promoção por uma conta fechada com êxito no início da manhã. Fernanda a menina da recepção perguntou se eu gostaria de almoçar com ela e meu patrão disse que enxergava com bons olhos meus serviços.

Durante o almoço Fernanda roçou de leve minha perna, disse que adoraria chegar atrasada para estar comigo em qualquer motel perto, sim ela me desejava tanto que não se importava em ir de ônibus.

O sexo durou exatos seis minutos e mesmo não gozando ela me disse que fui o melhor amante que ela já teve. Simplesmente adorava ter homens que não conseguiam se controlar ao transar com ela.

De volta ao trabalho já haviam depositado o dinheiro extra em minha conta, me convidaram pela primeira vez ao Happy Hour da firma e todos estavam rindo e se divertindo com o que quer que eu falasse.

De volta para casa eu sabia que o ônibus estaria me esperando, a televisão estava pegando todos os canais do vizinho inclusive o adulto e pude tomar uma cerveja estupidamente gelada enquanto me masturbava com minha sorte.

Quando acordei no dia seguinte vi um aviso em cima de minha mesa.

"Aproveite seu dia. Tudo que você desejar irá acontecer."

Estou com a arma apontada para minha cabeça. Se minhas ambições são tão pequenas como o dia de ontem, sei que estou me fazendo um favor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Horário de almoço

Estou sentado no horário do almoço olhando algumas pessoas comendo e passando a minha volta. A grande maioria estão devorando tão rápido o que está a sua frente que não diferenciam a salada, do purê ou da carne. E percebo que fazem o mesmo com a conversa com a pessoa a sua frente. Falam rapidamente demais para notar o que está sendo dito.

Um homem de aproximadamente uns 30 anos está conversando ao celular, quando a mulher a sua frente fala baixo alguma coisa, parece triste e insegura. Eu não entendo o que ela disse, mas aposto que se ele quisesse entenderia.

Ela aposta mais uma vez e ele levanta rapidamente a mão pedindo que faça silêncio. Ela chora.

Estou deixando o meu garfo de lado no prato, apenas atento a cada movimento que segue após as lágrimas.

Dedos passando pelo cabelo, uma bolsa sendo colocada no colo e aberta devagar e com dificuldade. Ela retira uma carta, um envelope, algum papel de sua bolsa e passa para frente, em direção aquele que discute tão avidamente ao celular.

Ele apenas agarra o papel e enfia de qualquer modo no bolso interno do paletó. Mais um detalhe para que ela apenas olhe para ele, volte seu olhar para o restaurante entupido de pessoas e pegue meu olhar voltado para ela. Mais lágrimas descendo pelo seu rosto, um sorriso, um aceno de cabeça e ela se levanta da mesa.

Vai embora, caminhando devagar pelas mesas, o homem está tampando o celular e gritando seu nome, o nome dela é Andréa, mas Andréa não volta, creio que dessa vez ela vai seguir de cabeça erguida.

Espera

- Fui pedindo uma cerveja enquanto você não vinha.
- Qual marca?
- Original.
- Tá perdoado.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Era de Aquario



Esqueçam o restante!

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Infiel

A gota de sangue continua pingando da mesa para o chão, criando uma poça viscosa e escura. E o olhar dela é tudo, menos risada e escárnio diante de mim.

- Preciso conversar a sério com você.
- Não tenho mais o que conversar. Acabou Rogério. Acabou.

Eram umas dez da noite quando ela não quis abrir a porta, eu tenho a chave, eu ajudei a pagar a porcaria do apartamento. Ele é meu também.

- Eu já disse que te perdoo. Vamos deixar isso para lá.
- Não quero. Não te quero mais em minha vida.
- Eu vou mudar, posso tentar ser o que você precisa. O que você quiser.
- Quero parar de sentir medo.

Tentei conversar como uma pessoa civilizada, não queria ter te batido. Não queria que você começasse a gritar. Não tínhamos feito amor dessa forma tantas vezes?

- Me solta! Para com isso Roberto! Pelo amor de Deus, não faça isso, você está me machucando.

Deveria ter sido fiel sua vadia.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Café da Rua 8

Sambinha rolando solto e a companhia de um broder no buscar de cervejas ao balcão e no olhar descarado para uma menina linda de calça branca que servia as mesas.

Ainda bem que seu olhar parou no nosso ao pegar a cerveja que eu buscaria para saciar minha sede. Naquele momento criava o nascer de uma diva, uma musa para o conversar despretensioso de dois caras sobre a beleza.

- Que menina linda.
- Que pequena.
- Belíssimo traseiro meu caro.
- E um sorriso lindo.

Seria o inevitável local que escolhemos ou essa garçonete sem nome e marcante de nosso olhar estaria sempre passando onde nós estávamos?

A cada volta era o olhar rápido e tímido para o lado, da parte dela é claro já que estamos ficando mais velhos e mais descarados, e algumas poucas tentativas de manter o olhar diante de um sorriso de lado.

- Está olhando para ti meu caro.
- Você acha?
- Não acho, tenho certeza.
- Não sei... Será?

Muitas mesas a servir, muitos pedidos para os sedentos do samba. Cantar da sede, meninas bonitas dançando dão mais ainda. Mas vejo que o olhar perdido em uma menina está servindo de desculpas para o pedir eterno de bebidas ao balcão.

- Ela está ocupada, melhor conversar com ela outro dia.
- Espera esvaziar. Vem aqui mais tarde.
- Pode ser. Pode ser.

Me encontrei com o cara comentando mais tarde sobre a menina, sobre o não esperar que contaria enormes pontos, sobre o deixar para o outro dia o olhar de hoje.

- Preciso de companhia para o samba de sábado. Podemos ir?
- Claro.

Podemos meu caro, mas talvez o olhar de sábado esteja voltado para outra pessoa.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

o xote das meninas


a versão mais bonita que já ouvi

Censura

Fitas cortadas, fotos rasgadas, Hds apagados, e-mails deletados, cartas queimadas. Esses detalhes dão uma ilusão que finalmente pode apagar o pensamento de que aquela pessoa marcou e deixou rastros.

Quando se esforçar a lembrar a forma que seu corpo vibrava ao lado de uma pessoa que não é a que toca seus lábios hoje, será que o cortar de lembranças vão servir para algo?

Alguns temas serão seus tabus, seus medos, sua insegurança de viver em um mundo longe daquele que parece mais tranquilo. Talvez um mundo mais bonito e menos sujo, sem marcas, sem umidade, sem suor e gozo.

Censure, corte, omite, finja e vai caminhando para o chuveiro fantasiando entre o cair de uma água morna entre suas pernas que você sabe o que realmente é calor.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Apenas em um café

A jovem está sentada olhando para a mesa há exatos vinte minutos, sei disso por conta do alarme do forno, tinha acabado de colocar as tortas quando ela entrou e sentou olhando para um caderno a sua frente.

Recusou a garçonete duas vezes e está olhando para suas linhas e a caixa de Luke Strike. O olhar pousa algumas vezes sobre o aviso de não fumar e então ela desiste de abrir o pacote e continua olhando para o caderno.

Sirvo o café em minha xícara, tem uma área escrita: “Não confie em quem não fuma.”

- Tome, é por conta da casa.
- Obrigada.

Volto ao balcão, notando sua reação ao ler a frase em sua xícara. Ela abre um sorriso e então olha para mim levantando a caneca. Vejo que ela retoma suas linhas, escreve com vontade e fúria. Rasgando algumas páginas, riscando outras, tomando uma caneca de café atrás da outra. E então exausta parece que encontra o que precisava.

- Sei que é de graça. Mas tomei café demais. O que eu posso comprar aqui?
- Não sei. O que gostaria de comprar?

Ela olha para a caneca, na verdade está segurando com tanto zelo que não consigo evitar de rir.

- É sua.
- Não posso simplesmente aceitar. Me dê um valor.
- Não posso, foi um presente.

Então ela olha em volta, segura a caneca entre suas costelas e cotovelo enquanto mexe em sua bolsa e segura com a boca seu caderno junto a Bic. Tira chaves, batom, algumas fotos cortadas, notas amassadas e dois pequenos livros velhos e gastos. Coloca tudo sobre o balcão e olha atenta.

- Não consigo imaginar nada tão importante quanto essa caneca.
- Não precisa me dar nada. Acho que já era hora dessa caneca ir embora, ela estava querendo sair desse balcão a anos.

A menina sorri e então arranca a folha de seu caderno. Dobra com cuidado a área próxima ao arame e com sua língua umedece o papel, como quem aperta um cigarro, e arranca uma tira branca.

- Acho que era hora deste texto ir embora também.

Ela sai pela porta e me deixa um texto dobrado como o pagamento por minha xícara e quase uma jarra de café. Uma troca justa ao meu ver.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Cicatrizes e emplastos

Percebo que meu olhar está perdido nela quando noto seu sorriso.

- Está tudo bem?
- Apenas divagando.
- Gosto quando me encara assim. É meio que buscar uma lembrança de momentos bons.
- Foram poucos.

...

- Quer um pouco?
- Você sabe que eu não fumo essa merda.
- Tudo bem. Ainda te amo, acho que sempre vou te amar.
- Tenta falar isso sóbrio.
- Acabei de dar uma bola. Estou sóbrio.
- Então experimente falar na frente de seus amigos.

...

- Foi perfeito.
- Foi sim.
- Te amo.
- Para sempre?