terça-feira, 13 de julho de 2010

Elvis



Deixo rolando alto o som do rei na vitrola enquanto sirvo meu uísque. O som de My Way ia deixando o ouvir atento e a língua ficando dormente aos goles. Nádia ainda dizia não gostar do cheiro dos vinis e achava uma besteira essa coleção antiga em um mundo de iPods e Mp3, mas sempre vi a verdade. Era impossível sentir vida sem o respirar de uma vitrola.

- Você deveria ouvir algo novo cara. Existem uma penca de boas bandas mandando ver por aí.
- Esses meninos que cantam sem saber dançar? Por que diabos vou ouvir um cantor que não dança a própria música?
- Porque eles tem o bom senso de não serem ridículos?

Ridículo...

Às vezes preferia o silêncio ao explicar a uma menina o que poderia existir de ridículo em ser contagiado pelo próprio ritmo. Já tinha perdido as contas dos dias que a companhia mais completa de um homem era outra voz compreendendo suas angústias e erros. E quando tudo mais falha, era apenas escolher sua melhor roupa e sair para se movimentar o bastante para espantar todos os nós e trancos dos dias.

- Amo essa música! Isso é tão lindo. It’s not the kind Of love I dream about. But it’s the kind That I can’t live without.
- Ela é do Rei sabia?
- Não é... eu já vi em um filme... Ah meu deus! Eu estou gostando de Elvis não é?
- Não se preocupe amor, você só está melhorando o seu gosto musical.
- Coloca para tocar mais uma vez?

Algumas traições são muito burras. Você comete um erro e perde alguém que você ama por não olhar para o que importa de verdade. Ela estava chorando e carregando dois vinis que tanto busquei e que apenas ela encontrou. E estou aqui chorando como um idiota por não perceber ler o que sempre foi óbvio.

“She even kisses me like you used to do.
And it's just breaking my heart
'cause she's not you.”

Mas eu tenho o seu som dentro de mim. Mesmo curvado e trêmulo ainda tenho o seu som dentro de mim.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Grande Circulando

Final de expediente, dia morno e sigo até o Pátio para pegar meu ônibus. Fico na torcida de um dos raros L2 norte mas o primeiro que passa é um Circular. Beleza estou com uma revista do Carlos Zéfiro então vou ter uma distração enquanto ele faz o enorme percurso.

Fazendo a volta ente o final da W3 norte e o Final da L2 norte o problema acontece. O ônibus vem andando em sua faixa e vemos entrando correndo uma camionete que não se mantêm em sua faixa.

Ruído, ônibus tentando trocar de faixa, freada brusca, o inevitável som de uma pancada e um ônibus balançando de um lado para o outro como se fosse papelão. Todo mundo olhando meio assustado para fora e então o ônibus encosta na entrada da L2.

Um homem gritando como louco do lado de fora, tranca sua porta com força, bate na lataria do ônibus e começa a falar com o motorista.

- Você não me viu entrando? Como jogou o ônibus assim?! Caralho! Você é cego?!

Mais alguns instantes de ofensas sem motivos e então ele começa a falar com a gente sobre quem tinha sido o culpado. Brigando com o motorista, mandando ele calar a boca e perguntando para todos no ônibus.

- Vocês viram não viram? O erro foi dele. Dele!

Fico olhando o motorista, o homem tem uma paciência inacreditável, tentando conversar com calma e dizer que ele estava em sua faixa que não tinha como manobrar o ônibus tão rápido para a entrada veloz da caminhonete. Então o dono da caminhonete diz berrando.

- Seu infeliz. Seu fudido de merda! Você tem ideia de quanto custa o meu para-choque? Nem cinco meses de teu salário paga ele, seu morto de fome. Idiota! Não sabe o que é um bem próprio! Nunca vai saber.

E foi seguindo com essas ofensas e então notei uma revolta em mim e em várias pessoas no ônibus. Esse povo que estava saindo do trabalho, contando com um ônibus para voltar para casa. Estudantes, trabalhadores, pessoas de todos os tipos de um final de dia, muitos para a continuidade em outros lugares então um cara levantou e se manifestou.

- Escuta aqui seu playboyzinho. Não sei quem está certo, se ele ou você. Mas agora se você quiser ir a delegacia eu vou falar que quem fez a merda foi você.

Então todo mundo concordando. Todos nós deixando de lado qualquer cansaço ou compromissos fomos tranqüilos até a delegacia contando que viu a caminhonete fechando o ônibus, até aqueles que não viram.

Espero mesmo que o idiota da caminhonete pense um pouco sobre esse evento. Há... quem eu quero enganar? Pelo menos me fez pensar.