quarta-feira, 29 de julho de 2009

Prometeu


"Encobre o teu céu ó Zeus com nebuloso véu e, semelhante ao jovem que gosta de recolher cardos retira-te para os altos do carvalho ereto mas deixa que eu desfrute a terra, que é minha, tanto quanto esta cabana que habito e que não é obra tua e também minha lareira que, quando arde, sua labareda me doura. Tú me invejas!

Eu honrar a ti? Por quê? Livras-te a carga do abatido? Enxugaste por acaso a lágrima do triste?

Por acaso imaginaste, num delírio, que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo por alguns dos meus sonhos se haverem frustado?

Pois não: Aqui me tens e homens farei segundo minha própria imagem: Homens que logo serão meus iguais que irão padecer e chorar, gozar e sofrer e, mesmo que forem párias, não se renderão a ti como eu fiz"

Goethe

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Panfletando

Invisibilidade é uma talento natural e impressionantemente constante. Aqueles rituais aparantemente complexos e arcanos dos Alquimistas, Ocultistas e Wiccas estão errados sobre suas poções, runas e orações. O único instrumento que é necessário para desaparecer aos olhos é um monte de papéis em mãos.

No clima seco de coloração avermelhada de Brasília a poeira sobe adentrando, cabelo, unhas, cílios e até mesmo o respirar se torna mais sólido do que você está acostumado.

- Vou te dar uma dica malandro, olhe nos olhos e diga - “Bom dia senhor. Bom evento”. - Assim eles pegam os panfletos.

Os carros estacionados estavam ondulando perto das duas horas da tarde e eu rindo das cores se mesclando enquanto recebia um gole de refrigerante do Carlos.

- Tú é doido de vir sem boné. Maior soleira nas idéias.

O interior dos carros das pessoas dão mais pistas sobre elas do que seu lixo. Existe tantas informações que por um momento pensei que estava montando peças que não existiam, mas quando você vê um celular quebrado, um batom deixado derretendo no painel e um casal voltando apressados sem olhar um para o outro, estava certo que eles realmente tinham discutido.

Existia também os carros abertos. Foram pelo menos três e quando fui avisar a produção do evento existia uma barreira enorme entre o homem do dia-a-dia e o mesmo com uma mochila e panfletos nas mãos.

- Obrigado rapaz. Aqui um trocado para o refrigerante.

Cinco reais nas mãos por avisar que seu carro estava aberto. Paguei uma cerveja para o pessoal dos planfletos. Ficamos conversando debaixo de uma árvore, sobre futebol, mulher e playboys. Então percebi a diferença de um dia para um trabalho diário quando Carlos virou para mim e gritou:

- Ô Eduardo! Sexta tem movimento lá no ParkShopping!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Paradigma

Essa é uma casa montada em sonhos, um conceito, uma ideia antes da reforma do retirar do acento da palavra idéia. Caminhos tortos em linhas retas que teimam seguir ordenadas por estar fora do papel.

- Por que está falando alto?
- Porque não importa o tom, não pode me ouvir em linhas.
- Escuto em caixas altas.
- ALTAS?! ALTAS caixas INCOMODAM seus OUVIDOS?
- Disse caixa alta, não altas caixas.
- Ah, como você é certinha.

Regras são importantes, são importantes até para entender o que é escrito.

- Isso foi uma fala ou apenas um narrador ditando uma fala?
- Isso o quê?
- Esse é seu problema. Você só enxerga o óbvio não é?
- Do que você está falando?
- Já clicou na palavra maçã hoje?
- Isso não é uma maçã.
- Assim como você não é uma garota de verdade é?

As palavras enganam, enamoram e buscam torres tão altas que somente os tolos se arriscam enxergar além delas.

- Arrisque mais e pule comigo.
- Eu odeio riscos.
- Você odeia viver! E viver ao meu lado te enche ainda mais de medos.
- Esse conceito é puramente metalingüístico. E metalinguagem é cansativa de quebrar, destrinchar, dechavar e entender.
- Paixões também são e nem por isso deixamos de lado em tentar.

Os olhos se reúnem tão baixos e finos que a lágrima teima não cair.

- Quer dizer que está apaixonado por mim?
- Não gatinha. Estou apaixonado pela idéia de estar apaixonado por você.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Conversa de bar V

- Qual é seu nome mesmo?
- Eduardo.
- Então Eduardo, sabe o que eu acho menos importante em uma foda?
- Nem idéia.
- Um cara que se preocupe com o orgasmo de uma mina. Isso é o que mais me irrita.
- Mas pensei que quase ninguém se preocupasse.
- Há há há. Quem dera! Isso é um saco.
- Mais um pouco de cerva?
- Hã?
- Cerveja. Quer mais?
- Claro.
- Bom e aê?
- Cara eu posso manter minha mão ativa enquanto ele me come. Logo essa neurose é ridícula.
- Há há há!
- Sério! Siririca não é deprimente em uma foda. É apenas uma forma de cada um se preocupar com o que está fazendo. Sem neuroses.
- Acho que uma penca de caras adoraria te conhecer.
- Prazer.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ela gostava de Placebo

As vezes quando estou sozinho ouvindo Allergic, me lembro bastante do que ela dizia sobre ver a música. Gostava dessas ondas de saborear o silêncio, sentir cheiros e ver música.

Menina doida de meias coloridas e de vestidos com cores de cortinas antigas. Brigamos vezes sem conta por minhas roupas simples.

- Como você pode usar a mesma calça três dias seguidos?
- Mas estão limpas.
- Ai... Não é sobre sujeira! É sobre manter a mesma cor sempre. Cadê a calça laranja que eu te dei?
- Eu pareço um lixeiro com ela.
- Meu docinho. Você é um lixeiro.

Odiava quando eu usava óculos. Dizia sempre que a olhar em foco era um pouco de perder o melhor dela.

- Quero tomar um porre de vinho hoje.
- Vinho não é bom para tomar porres, você vai ficar de ressaca o dia inteiro.
- Vou ficar de ressaca o dia inteiro... Vou ficar de ressaca o dia inteiro... Eu só fico de ressaca quando não bebo.

A faixa My Sweet Prince está tocando, enquanto estou olhando as coisas que ela deixou na cozinha. Um livro que ela fez questão de comprar e só lia umas partes, arrastava ele para todos os lados. Não lembro de ver ela saindo da terceira página.

- Tem haxixe?
- Um pouco. Misturo com tabaco?
- Por favor.
- Vai querer que eu prepare um brigadeiro para depois?
- Quero!

Algumas noites chorava baixinho, me deixava apenas ficar por perto. Parecia que mexer em seu cabelo curtos e escuros era o suficiente. Ela nunca me dizia o motivo, mas sempre me dava um beijo antes de dormir em meu colo.

- Estou indo tá?
- Tem certeza disso?
- Lógico que tenho.
- Não vou correr atrás de você. Sabe disso não sabe?
- Obrigada.

Estou segurando o cachecol colorido que deixou, enquanto termino de ouvir Burger Queen. Coloco em volta do meu pescoço, está frio lá fora e seria uma ofensa ficar chorando em casa, ao invés de aprender algo com meus erros.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jessica Rabbit




Como veio a minha memória do nada, achei obrigatório incluir aqui.

Etapas

- Você vai fazer alguma coisa hoje?
- Ainda não sei por quê?
- Acordei pensando em você.
- Ah, então deve ter sido um sonho bom.
- Na verdade meio tumultuado. Dormi mal para caralho.
- Me ligou para tentar dormir um pouco melhor hoje?

...

- Gosto dele desse jeito. Quando está excitado demais até para conseguir gozar.
- Mas quando o Marcos fica excitado demais ele termina rápido.
- Depende do dia. Tem algumas vezes que ele fica inchado. Dolorido demais. Você percebe que até quer gozar, as pernas tremem, mas tudo que ele consegue é mais e mais suor e aquele pulsar sem sim.
- Droga... Será que o Marcos vai para a faculdade hoje?
- Há há há! Liga para ele.

...

- Encontrou as meninas hoje?
- Só a Bianca.
- Como ela está?
- Ah, o de sempre. Um monte de trampo e reclamando da falta de atenção do Marcos.
- Eles namoram há quanto tempo?
- Uns... São o que? Quase três anos?
- Gatinha... Deixa ele, ainda estou dolorido.
- Mas está se animando assim mesmo.
- Uma coisa não corta a outra.
- Um beijinho de boa noite então.

...

- Vocês nunca vão começar a namorar?
- Nunca conversamos sobre isso.
- Ele vai continuar te enrolando enquanto você deixar.
- O que vocês fizeram ontem?
- Quem?
- Você e o Marcos.
- Nós saímos, fomos ver um filme.
- Qual?
- Transformers 2.
- O sexo depois foi bom pelo menos?
- Há há há... Foi sim sua escrota. Foi ótimo!
- Gostou do filme?
- Nem prestei atenção.
- Viu? Por que eu vou deixar de pular as partes ruins?

...

- Queria te encontrar hoje.
- Hoje eu ia sair com os meninos para tomar umas.
- Acha que vai ficar muito bêbado? Tipo, mais tarde?
- Te ligo.

...

- O que você acha de ficarmos juntos?
- Adoro.
- Não. Estou falando de namorarmos. O que acha?
- Você já assistiu Transformers?
- Hã? Já por quê?
- Então eu quero.