segunda-feira, 31 de março de 2008

Lata

Ele vem descalço, com uma bermuda puída e o peito magro ao sol. Chutando a lata e driblando quem passe por ele. Ginga de um lado, gira em torno de si, xinga o motorista do ônibus e puxa a blusa, que não veste, para avisar que o seguram.

As pessoas sorriem, balançam a cabeça e outras olham com pena.

Mais o menino nem liga, ele enxerga além do sol, que trás gotas de suor a sua testa. Ela chuta a lata e a poeira em grandes ovações e “Olas”. Passa a lata por debaixo das pernas da madame com as bolsas de suas compras caras e manda um sonoro “Vixeee, por entre as canetas.”. A mulher xinga, esbraveja, mas o menino está longe. Quem é bom, não perde tempo ouvindo reclamações de meio-campo.

O sinal fecha e o menino entra pela faixa batendo sua lata. Ele mira, olha para o carro e chuta com força. Bate bem no meio, sem defesa para o goleiro. E assim o menino grita gol. Pulando na frente dos carros mesmo com o sinal aberto.

As buzinas soam, o homem sai do carro xingando. Mas o menino nem ouve, as buzinas são os gritos da torcida e o xingar é comum para o lado que leva um belo gol.

Um comentário:

mombasca disse...

talvez nosso futebol seja assim como é simplesmente porque aqui é mais do que uma opição, aqui eles jogam futebol mesmo quando não jogam futebol.