quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Beirute Asa Norte

Estava ali sentado umas 21 horas mais ou menos. Pensei em comer um quibe recheado e tomar uma Antártica antes de ir para casa. Era perto e talvez não chovesse hoje, poderia ir andando mesmo, isso daria a coragem de pedir mais uma garrafa, caso descesse bem a primeira.


- Tio. Me paga um quibe.


O garoto carregava um monte de panos debaixo do braço e colocou sobre a mesa enquanto esperava minha resposta para essa intimação juvenil.


- Estou sem trocado.

- Põem no débito junto com o seu.

- Garçom, trás um quibe pro garoto aqui.

- Pede um refri também tio.

- E um refri.


Ficou esperando mexendo nos panos enquanto eu tomava minha cerveja e olhava para os lados. Algumas meninas olhando para a mesa, mas com certeza por conta do menino.


- O tio gosta de homem né?

- Quê?!

- Todo mundo que vem aqui vem procurar homem. Ainda mais a partir dessa hora.

- Não. Vim só comer um quibe e ir para casa.

- Sei...


O quibe chegou e sentou-se à mesa enquanto olhava para o garçom.


- Quero um copo com limão.

- Não quer aproveitar e pedir gelo não?

- Gelo deixa com gosto ruim.


O garçom saiu com uma cara de bunda e eu tentava esconder o riso.


- Moleque tú é folgado para caralho.

- Vai comprar um pano tio?

- Não preciso de pano, tenho uma penca em casa.

- Então compra mais um, se tem um monte pode ter mais um.

- E por que eu teria mais um cacete?

- Um a mais no armário não faz diferença pra você tio. Mas para mim é menos cinco mesas por noite que eu passo.

- E em todas você pede quibe, senta e xinga os outros de viado?

- Não te xinguei. Perguntei se o tio gostava de homem. Se o tio acha que isso é palavrão está no bar errado.

- Me dá essa merda de pano aqui caralho.

- É cinco reais.

- Só o quibe e o refri que eu paguei já deram isso.

- Pagou não, foi no cartão.

- Mas isso é dinheiro.

- O tio disse que não tinha dinheiro. Se me der os cinco que tem na carteira, não faz falta. Não tinha mesmo lembra?


Dei os cinco reais, ele terminou de comer e saiu.

Fui para casa sorrindo ao me lembra do moleque. Assimilação, infância e malandragem.

3 comentários:

Kami disse...

Cara, isso aconteceu de verdade?
Excelente!

Anônimo disse...

Acho que preciso prestar mais atenção nos caras solitários das mesas ao lado.

Anônimo disse...

...é que eu vou chegar em BSB amanhã e vou direto para um happy hour no Beirute Asa Norte, como não conheço nem a cidade, nem o boteco e nem mesmo as pessoas com quem vou encontrar, estava pesquisando e cheguei aqui.
=)