A anfetamina não meu deixou dormir direito. Rolei de um lado para o outro da cama, coração disparado e suando em bicas.
"Culpa da anfetamina. Já tomei dois banhos. Relaxe, tente dormir."
Lembro de virar o copo com o café gelado e olhar a expressão congelada do não no rosto a minha frente.
"Putz cara... Você bebeu minha poção."
"O que tinha aqui dentro?"
A noite insone. O virar para os lados, o lembrar da porcaria da conversa que não some de jeito nenhum.
"Me liga amanhã."
Já são meio-dia. Meu telefone não liga, nenhuma Lan aberta, não posso comprar um cartão e tão pouco ligar a cobrar.
"Você é furão demais cara. Isso enche o saco."
Fico pensando, juntando as peças. Isso foi de propósito. Sabe que não teria como ligar, eu havia dito. Por que pediu?
"Nós estragamos tudo."
Concordo. Um dia comendo, lendo, malhando e vendo televisão me mostra que estou inquieto, irritado, incomodado. Não posso criar relacionamentos. Não seria fiel em nenhum parâmetro.
"Você me pediu em casamento bêbado. Se eu tivesse aceitado o que diria? Que foi um erro?"
Quarenta flexões, setenta abdominais, trinta barras e mesmo dolorido não consigo esquecer o cheiro, a textura e o desespero de não sentir seu gosto a quase um mês.
Deve ser culpa minha. Eu afasto propositalmente quem é importante de verdade. Preciso sofrer. Esse é o grande mistério. Sofrer para não assumir.
"Não deveria deixar os rastros das pessoas com quem você dorme. Acha que isso não me incomoda?"
É a anfetamina. Ela não me deixa parar de pensar. Me deixa com sede e faz linhas surgirem e sendo enviadas antes de serem lidas.
"Nós estragamos tudo."
...
"Exatamente."
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3 comentários:
mas, sofrer já é assumir.
devia ter aceitado o pedido de casamento. ébrio é sempre melhor.
Não deveria deixar os rastros das pessoas com quem você dorme. Acha que isso não me incomoda?"...
mas somos mesmo feito deles.
retalhos
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