quarta-feira, 4 de junho de 2008

Meninos

São umas cinco e pouco da manhã quando Henrique chega assustado em casa. Ele tranca a porta de casa e encosta contra a parede da cozinha e deixa seu corpo escorrer até o chão. Não queria estar chorando, não queria estar sentindo esse medo estranho e irracional. E o telefone, vibra sem cansar diversas vezes. Para e volta a vibrar mais uma vez e pára novamente. Era uma mensagem.

“Por favor, Henrique atenda o celular.”

Atender para quê? Não precisa de nenhuma palavra que sirva mais ainda de memórias para o som alto, a dança, a bebida que subiu alto e rápido demais. Há quanto tempo conhecia Edmond? Uns sete meses mais ou menos. Um amigo divertido, uma ótima companhia para conversas e porres.

Nessa noite haviam ido juntos para o Espaço Galeria, muita gente, muitas meninas bonitas, boa música e muito álcool. Aqui muitos caras e meninas se beijam, e ele sabia antes de descer do carro que era uma boate gay.

- Você está à vontade aqui? Não te incomoda?
- Não. Até parece Ed. É um bom lugar para curtir como qualquer outro. E cheio de meninas bonitas dançando.
- Que bom! Vou buscar uma bebida para nós.
- Beleza!

Era demais ver essas pessoas dançando, essa liberdade e felicidade estampada nos rostos, dois caras chegaram perto de Henrique e chamaram ele para dançar, estavam flertando com ele, e sorrindo ele dispensou os dois. Sem grosseria, sem preconceitos, apenas um fora e achando engraçado fazer o tipo desses caras.

- Sabia que você iria chamar atenção.
- Não tinha nem idéia disso. Como vocês escolhem os caras? Será que todo hetero é bonito?
- Não tem nada haver com hetero. Tem haver com o fato de você ser bonito.
- Vai começar a me cantar também?
- Sou seu amigo demais para isso.
- Quero dançar.

A pista é animada, quente, colorida e cheia de pessoas em sua volta. Uma dose após a outra e a necessidade de estar bem consigo mesmo o mantém com um sorriso animado e um olhar focado a Edmond, durante a dança.

Ele se permite se aproximar, o abraça e então deixa-se ser beijado. Um instante que dura uma hora, um dia... Um deleite cortado pelo surpresa e estar sóbrio de repente. Henrique afasta Edmond de si e toca seus lábios com medo, sentindo a ponta de seus dedos e olhando espantado para o homem bonito a sua frente. Então ele foge.

- Henrique!
- Me deixa!

Eles se encontram do lado de fora, Edmond segura em seu pulso e mesmo agora ele ainda sente o calor passando de seus dedos para seu pulso e fazendo seu coração disparar.

- O que foi Henrique? Não vai embora por favor.
- Droga, vai te fuder! Por que você fez isso?
- Você me beijou. Não fui eu.
- Eu estou bêbado.
- Mais do que isso. Você está me olhando como eu estou. Qual é o problema?
- O problema é que você é um viado porra! Um viado que fica embebedando seus próprios amigos para beijar eles.

Então ele encosta Henrique contra a parede de fora da boate. Aproxima o seu rosto e apenas abre de leve seus lábios. Dizendo bem baixo.

- Me beija.
- ...
- Não vou me aproximar mais do que isso. Não quero seus lábios se não forem de encontro aos meus. Me beija.

Mais uma vez ele o beija. Com vontade, misturado ao medo e com lágrimas. Bastantes lágrimas enquanto percebe que no corpo a sua frente existe uma segurança que negava a si mesmo. Ele sente esse rosto contra o seu, o cabelo macio e limpo aonde passa os seus dedos, a mão que circula sua cintura aproximando do peito que mantêm um batimento tranqüilo em contraste com o acelerado do seu.

E então ele se afasta... apenas toca o rosto de Edmond e se afasta chorando.

- Não posso. Minha vida já é complicada demais.
- Henrique...
- Não posso.

...

Chorando ele desliga o telefone em sua cozinha, apenas com o sabor de seus lábios e um cheiro que não consegue tirar de sua mente.

Um comentário:

Mah disse...

tenho uma teoria que gays se amarram em caras com nariz grande.






as heteros também....