quinta-feira, 5 de junho de 2008

Meninas

Ela bate o cigarro entre os dedos sujando de leve o carpete da casa de sua amante, que para ela merece para quebrar essa esterilidade presa no perfeccionismo de Marisa, uma casa deveria ser ao menos um pouco suja, um pouco marcada, algo que diga que passou por aqui, como as unhas dela em suas costas meses atrás.

- Vamos para a boate? Eu já estou pronta e você ainda... Porra Ana, você está sujando a merda do meu tapete.

- É? Desculpa, não encontrei nenhum cinzeiro.

- Por que eu não fumo. Você pode fumar lá fora por favor?

- Já terminei.

Um sorrisinho de canto e um beijo é a desculpa para que elas não briguem. O modo como Ana segura a base da nuca durante o beijo, sempre fez que Marisa cumprisse o que ela queira fazer.

- Vamos?

Boate agitada, meninas lindas, fumaça, bebida, bala e muita dança. Isso é a desarmonia que estava precisando, ficar bêbada e se sentir livre, louca um pouco perdida de si. Sair da rotina que mesmo Marisa estava fazendo questão que ela entrasse.

Mais um gole de cerveja desce junto com uma bala. Vira uma dose de tequila e volta para pista, para a dança, para o olhar de um homem que dança com ela, antes mesmo que chegue perto.

Quanto tempo dura esse olhar? Essa necessidade arredia de chamar com os olhos e afastar com os gestos? Que se fodam todos. Ana precisa dançar, precisa do contato. Que seja esse cara, ele parece melhor do que qualquer outro e certamente muito melhor do que a mulher de olhos entediados que boceja antes mesmo das duas da manhã.

- O que você está fazendo?

- Dançando.

- Você está se esfregando naquele cara. Para que isso? Você sabe que não vai dar em nada.

- Só estou dançando.

- Vamos embora daqui.

Ele não entende nada. Apenas estava dançando com uma menina bonita e quando parecia que poderia beijá-la a sua amiga atrapalhou tudo.

- Oi. Com licença, mas estava dançando com ela.

- Ela é minha namorada cara. Cai fora!

- Sério? Desculpa então. Moças, boa noite.

Ele volta a dançar distante, enquanto Marisa a arrasta para fora do salão. Antes de sair da boate e entrar no carro, ela percebe que os dois estão dançando juntos mesmo distantes.

- Nunca mais quero saber de você usando essas merdas viu? Dando em cima de uma cara... Qual é seu problema?

- Você porra! Você com a porra de seus problemas! Não me enche!

Ana vai para casa, pensando no relacionamento de dois anos com Marisa, pensa em quando tinha apenas 17 anos e adorava tocar sua pele, sentir o seu cheiro e gozar em sua boca. As mesmas memórias que as tornaram preguiçosas demais para tentarem sair da monotonia e da falta de zelo entre duas amantes.

Ela murmura em seu quarto um nome qualquer que combine com o rosto de seu bailarino, e depois de três meses goza ao sabor da mudança.

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