sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ônibus

Apertado, lotado, cheio de trabalhadores cansados e marcados pela rotina do ir e vir sem cessar. O ônibus segue: com essa massa abarrotada, seja nos dias quentes, chuvosos , abafados e radiantes.

Cheio de olhares perdidos, sonhadores e distraídos as pessoas seguem sua via pensando além.

No rosto dos jovens estudantes poderia estar suas matérias, saídas, encontros e possíveis novos amores. Vez após vez encontramos uma menina sorrindo mesmo apertada entre a cadeira e o mastro de metal que comprime sua coxa.

Note o olhar cansado da mulher, que passou o dia sentada, lutando contra a câimbra das panturrilhas malhadas pela obrigação do salto diário que cria as primeiras varizes.

Alguns homens olham para os carros do lado de fora, para as pessoas confortáveis dirigindo seus lindos carros de propaganda acompanhada de bichos de pelúcia. Eles olham atentos enquanto apertam contra o peito o saco plástico com seus DVD’s de 10 reais comprados na parada.

Alguns lêem livros. Alguns deles de romance, outros espíritas, alguns poucos escolares e em sua grande maioria é a bíblia. A mesma que ressalta murmúrios enquanto recitam para si a paz e compreensão que carregam em sua viagem.

Ao meu lado uma senhora lia Drummond: leu como quem esquecesse as malas que carregava entre as pernas e a bolsa apoiada no ombro esquerdo. Lia segurando seu livro com dois dedos, enquanto se agarrava ao mastro com a mão direita. Leu e fechou os olhos com um sorriso distante e maravilhado.

Por cima dos ombros consegui ler o que a permitiu viajar para longe do ônibus, para longe do espaço entre trabalho e lar.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Boa viagem meus caros.

Um comentário:

Mah disse...

engraçado. sexta, justo sexta, te vi pegando um ônibus. tava escuro, já era tarde. eu parei até! desci do carro e fui em direção à parada. neste instante o ônibus de sobradinho passou, daí, voltei pro carro...

=*