terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Atado

- Garçon! Traga mais uma cerveja, uma porção de bacalhau, papel e uma caneta que preciso escrever.

- Escrever, escrever e escrever... acho que nunca tinha visto uma pessoa com tanta ambição de dizer o que pensa.

- Ambição? Isso não tem nada haver com o que escrevo.

- Todo os escritores dizem isso, mas na verdade é uma necessidade que beira a um ego sem limites.

- Se me chama de escritor, já não preciso escrever para meu ego.

- ...

- Escrevo para esvair de mim a imprudência de atirar sem receios apostas para doer o coração. Escrevo para que minhas mãos parem de tremer, para que minha pele pare de suar, para quando a encontrar possa me sentir forte e segurá-la com firmeza e sem receios.

- Você sempre se atira. Por que uma vez, não pensa em tudo que viveu e vai com calma na fonte que chama de paixão?

- Poderia fazer isso? Alguma vez esteve maravilhado por uma mulher ao ponto de conseguir fingir que não esteja preso a ela em seus pensamentos depois que partiu?

- Mas você sempre sofre.

- Nem sempre. E é por me dedicar, ver definhar e não sofrer, é que bebo em enormes goles a necessidade de poder sofrer. Saúde!