sábado, 31 de maio de 2008

Lapidar

Cecília sempre odiou o quarto que Estevão se enfiava para seus momentos de criação. Ele era um escultor que precisava de uma sala em tons pasteis, ao som alto de Creedence e a fumaça alta e densa do haxixe para deixar sair da argila, pedra-sabão e mármore seus sonhos e prolongar de seus membros.

Havia três anos que estavam morando juntos e o dedos sujos de barros, estavam visitando mais suas obras do que sua musa nestes últimos meses. Todo seu foco era para uma exposição que vivia mais em sua mente do que em qualquer lugar. E os olhos nublados estavam apaixonados como nunca por cada detalhe de sua entrega as formas.

Quantas vezes ficou sentada olhando o corpo magro e definido de seu artistas esperando que o suor de seu trabalho cobrisse o seu corpo, não mais pensava. Já se tocava sozinha e deixava a garrafa de vinho entre suas pernas, bebendo de seu gargalo pausadamente no sentir do volume cilíndrico entre seus lábios e o descer amadeirado de seu conteúdo.

Gozava em seu atelier, um leve sussurro saído do prazer desprovido mesmo do desnecessário toque para o corpo que sentia e clamava de sede pelo desejo que não a visitava sem saber o porquê.

Ainda era a mesma mulher bonita que ele disse estar no rosto de cada peça que ele criava, o desejava e mudou todos os conceitos de fazer amor que conhecera ao se deitar com ele na primeira noite. Aceitava cada uma de suas amantes, seus homens, todos os seus modelos no dividir do leito ou na ausência de um. Por que ele não a desejava mais?

No movimento hipnótico do descer e subir de seu formão, deixa um pequeno filete de suor em seu antebraço e um brilho em suas costas, ela suporta o tremer de seu corpo o suficiente para pousar a face em sua omoplata apenas colando seu corpo em encontro ao de Estevão.

Ele desce seu braço por um momento e toca as mãos de Cecília para que ela se afaste, ele sorri e volta ao trabalho enquanto ela se encolhe e segue ao quarto para limpar o suor frio de seu corpo.

Em seu trabalho, em sua criação a sede por falta do toque da mulher que deseja, nasce as novas e voluptuosas formas. Estevão deixa o suor correr pelo seu corpo, esse desespero é necessário. Lamenta apenas por Cecília, ela jamais entenderia.

Um comentário:

Mah disse...

incompreensível.