O ancião pede um café em um bistrô que hoje ele sorri ao notar que todos os pagamentos são feitos via cartão. Em sua época (era jovem no ano de 2008) era um dos poucos estabelecimentos que não aceitavam cartões.
Ele toma seu expresso, se lembrando da menina que conhecera e que alguma forma trás, na senhora sentada a sua frente, os mesmos traços.
E talvez pulsasse em seus olhos fitos na dança minimalista entre a xícara e o pires, a promessa da mulher outrora menina: o seu retorno. O retorno de um amor. A mais bela das histórias, pausada naquele início entre a ponte aérea Brasília – Porto Alegre e, qualquer outro lugar que ele já odiaria desde então, por ser o destino de sua dor.
- Jovem? Poderia me trazer alguns grãos de café em uma xícara?
Ao recebe-la ele se levanta e caminha pausadamente, um contraste com o bater dentro de seu peito no sabor da jovialidade esquecida, e assim vai a mesa deixando cair lentamente grão-a-grão sobre a mesa da senhora que o mira.
- Cada dia, semana, mês e anos passaram como grãos de café em nossa ampulheta minha menina.
Os outonos e invernos acalentados pela lembrança dos seus olhos. Lágrimas na forma daquelas mãos.
Que doravante o tempo, eram as mesmas que um dia ela segurava e, tivera a certeza de ser aquela que se entrelaçaria em todos os jardins da vida.
- Pensara que havia cristalizado todas as lágrimas voltadas a mim neste ponto. Há anos eu caminhei por diversos cafés e pensei em aguardar seu convite, caso a encontrasse. Felizmente a idade me dói as pernas, me obrigando a me convidar. Poderia?
As unhas pintadas lembram rosas. Rosas suaves como o seu rosto marcado pela saudade. Marcas do tempo.
Ela o responde pelo olhar e, o convida a sentar em sua mesa. A vida se encarrega em retirar os resquícios do inverno. O verde nas árvores, sorriem frente a mais bela das histórias.
Suave, ela tenta esconder o sorriso de canto embora jovial, contraste com as rugas doces de seu rosto.
- Agora que carrego dinheiro comigo. Eles aceitam os cartões.
Embora as marcas da vida e os espinhos os lastimassem por longos anos, a roseira permaneceria viva e, naquele momento, vigorosa capaz de fazer chorar qualquer poeta. Enfim, veio a gargalhada doce porém contida.
O velho sentado a frente também se sentia jovem. Era o mesmo galhofeiro de sempre. A idade, a perca dos amigos, das paixões, eram apenas etapas que servem como memória a necessidade de sentir-se feliz.
Deitou suas mãos sobre as delas e mesmo as manchas e o esticar no afinar de suas peles, eram insignificantes ao tremer instintivo de uma paixão marcada ao tato.
O aparente final, somente o início. Passos que precisariam ser dados na ausência. Uma leve introdução. O amor
Nenhum comentário:
Postar um comentário