sexta-feira, 30 de maio de 2008

Hárpia

Uma prateleira cai distante fazendo uma canção estridente e desarmônica. São as ações de quem foi esquecido em uma promessa sobre fidelidade, que jamais passou de um engodo sobre o trocar de falsos olhares.

Várias fotos são atiradas ao chão em um caleidoscópio de pequenos quebra-cabeças do que congelou um passado feliz. Cria-se a necessidade de cortar os sorrisos lado a lado quando na verdade simbolizava apenas um sincero e outro pura chacota.

Lágrimas correm pelo rosto, descem com fúria, contrária ao grito que rasga a garganta acima. Uma necessidade de sentir algo, qualquer coisa que marque a pele e mantenha áspera em si.

Esse corpo não deve sentir saudades, não deveria sentir desejo ou mesmo um momento de lembrança sobre a pele que jamais foi sua. Melhor que a corte para tirar de si todo e qualquer detalhe da doação tola e infantil de uma menina deixada em prantos.

Em meio da sala desarrumada, um coração bate agora um pouco mais calmo. Um corpo deitado sobre si mesmo, sobre a vergonha de ser traída e seguir amando. Esperando que esse sentimento dure apenas um instante, pois quando ele ligar, uma mulher vai mandá-lo a merda.

Nenhum comentário: