quarta-feira, 23 de abril de 2008

Corte

Na quinta série eu me lembro de uma menina parada debaixo de uma árvore agachada e olhando para suas mãos. Parecia como todas as outras meninas da escola, com o mesmo uniforme e um all star vermelho.

Estava olhando para ela quando me chamou.

- Você já se cortou alguma vez?

Ela pegou minha mão e me passou um estilete escolar, fiquei com o objeto em minha mão olhando para ela.

- Não dói. Na verdade machuca muito mais pensar no corte do que fazer.

Ela me mostrou sua mão cortada em um desenho sangrento, parecia estar escrito amor.

- Tem que doer para sentir que valeu a pena.

Ela passou o estilete em minha mão. O corte foi fundo e levei 14 pontos. A menina foi expulsa e nunca mais a vi. Mas ainda posso sentir sua mão macia embaixo da minha antes do corte e o sorriso ao ver minha cara de dor.

Um comentário:

angelica duarte disse...

rapaz...

cena digna de filme sobre primeiro amor.
o peso da memória sobre as coisas boas também é uma coisa um tanto carregada de dor.

já me disseram também que a intensidade da dor é proporcional à intensidade do amor.

bom... não é à toa que rima. :*