segunda-feira, 28 de abril de 2008

Correspondência

- Chegou uma carta para você.

A garota que acaba de voltar de seu estágio deixa a bolsa no sofá e segura a carta com uma nítida desconfiança. Nunca recebera uma carta, além de boletos e cartão enviados, e com ela em mãos apenas tentava desviar o olhar curioso de sua empregada.

- Acho cartas tão românticas. Que sorte você tem menina.

- Obrigada Adelaide. Não ponha meu prato, vou comer mais tarde.

Deixando sua pasta na escrivaninha, ela tira seu tênis e senta em sua cama com sua correspondência em mãos. Nela tinha escrito apenas seu nome e como remetente as iniciais J.I.

Clarice,

escrever esta carta é uma confissão de culpa escrita a punho. A necessidade de dizer o que me incomoda a meses, dispersa minha integridade e que precisa deixar provas que possa me por sobre julgamento de quem prezo.

Estou traindo meu melhor amigo ao que penso em relação a ti. Tudo o que construí em 13 anos de caminhada baseada em respeito, confiança e apoio foi destruído ao mirar de meus olhos e o tocar de suas mãos.

Estou apaixonado por você. Não posso deixar de dizer o que me consome e me tira o sono. Quero o sorriso voltado a mim ao invés do Hugo. Quero o toque de suas mãos e o cheiro próximo de sua pele. Quero que seja meu motivo de viver, além das Musas que me fazem escrever estas linhas.

Não tenho medo te de olhar nos olhos e repetir pessoalmente o que derramo nesta folha. Apenas assim fiz, para que mostre ao meu irmão a nota de confissão do estremecer de minhas ideologias, pelo sabor de um sonho ao seu lado.

Por favor, recuse minhas palavras e me afaste do círculo que traí, no momento que dançamos juntos sem ouvir nenhuma música além do tom de sua voz ao sorrir e no flerte imaginário que vi em seus olhos.

Sei que percebeu, ao nos despedimos, quem te escreve essa carta. As iniciais não foram para me acobertar, apenas busquei um nome que estive a altura de minha traição.

p.s: me desculpo pelas linhas exageradas e ridículas.

Judas Iscariote

Mãos trêmulas alcançam o telefone as três da manhã, uma voz de choro e lágrimas dizem algo incompreensível a princípio.

- Clarice? Alô! O que foi amor? Clarice!

- Por quê nunca me escreveu uma carta?

- O quê?

Ela desliga o celular e chorando beija a carta amassada em suas mãos, selando-a com um beijo.

- Meu amor...

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