sábado, 16 de agosto de 2008

Segredos

Uma fotografia enrolada em um veludo vermelho escuro encontra-se de uma caixa de madeira cheia de ferragem. Estava dentro do armário que sempre foi deixado no sótão, o mesmo local onde ele trabalhava durante duas horas todos os dias, escrevendo, ditando, gravando passagens e voltando a escrever em uma máquina velha e enferrujada, a mesma que Estefânia pediu diversas vezes para trocar por um computador.

- Computadores não têm calor. Não deixam páginas marcadas como os fatos que me obrigam a escrever. Não confio em nada que não deixe marcas.

Não devia ter pego esta caixa. Não deveria ter aberto. E mesmo antes de abrir o veludo, sabe que não conseguiria. Nela está a foto de um sorriso.

- Querida, pode me ajudar com a cozinha?
- Já vou.

Panelas, louças, xícaras, talheres, sorriso, canecas, um beijo, toalhas e uma vasilha estoura quando cai ao chão.

- Merda! Merda, merda, merda!
- Querida está tudo bem?
- Por que você guardava aquela foto em seu escritório?
- Você mexeu em meu armário?
- Estava empacotando seus livros, como imaginou que eu não iria mexer no seu armário?
- Porque meus livros estão na estante.
- Por que você guardou aquela foto?
- Por que você precisou abrir? Eu nunca mexi em suas coisas!
- Você nunca se importou com minhas coisas! Ou comigo!
- Então estou apenas morando com você há 10 anos por nada?!
- Me diga você. Por que guardou a foto?
- Isso não tem nada haver com você é sobre mim.
- E eu não posso saber?

Uma pilha de pratos são atirados ao chão com violência. E então uma mulher recua assustada, sentindo mesmo recusando a hipótese, que poderia ser agredida.

- Por que você precisa saber?! Não é sobre você! Não tem nada haver sobre sua vida! Você apenas precisa saber o que não conhece , o que não controla, o que não está a seu alcance dentro da mediocridade que chama a sua vida!

Uma lágrima corre e uma porta se fecha. Certamente a última caixa.

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