terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Fobia


Tem uma barata neste quarto.

Ela está correndo em volta de si, brincando comigo. Mexendo suas antenas apontadas para mim. Farejando minha adrenalina e movendo suas patas em uma sincronia louca e frenética. O abrir de suas asas faz meu coração disparar na apreensão de seu decolar. Mas ela não voa. Sádica!

Estou assustado e suando desesperado. Encolhido em meu canto, como o inseto que diminuiu meu universo. Isso é o absurdo do medo irracional, um homem contorcido a visão de uma criatura que se torna muito maior que ele.

Aproxima-se de mim, deixando eminente o contato com meus pés descalços. Sem perceber, penso em como alguém poderia escrever a respeito de um homem se tornar barata. A barata torna-se homem dentro do receio trêmulo. Um toque de antenas e não sou menos inseto do que o que me toca.

Os insetos são seres terríveis. Eles não fazem som e são rígidos demais para seu tamanho. Leve demais para descrever peso. Mas ásperos demais para não sentir o roçar de suas patas em minha carne. Uma perda de consciência se aproxima e não consigo deixa de pensar, que ao acordar, aquilo ainda pode estar em cima de mim.

2 comentários:

Mah disse...

é. os textos aqui precisam se animar mais.

mas gostei.


odeio baratas.

angelica duarte disse...

sobre Kafka...
"leve demais para descrever peso"

insustentavelmente leve.
como gosto disso...