Tem uma barata neste quarto.
Ela está correndo em volta de si, brincando comigo. Mexendo suas antenas apontadas para mim. Farejando minha adrenalina e movendo suas patas em uma sincronia louca e frenética. O abrir de suas asas faz meu coração disparar na apreensão de seu decolar. Mas ela não voa. Sádica!
Estou assustado e suando desesperado. Encolhido em meu canto, como o inseto que diminuiu meu universo. Isso é o absurdo do medo irracional, um homem contorcido a visão de uma criatura que se torna muito maior que ele.
Aproxima-se de mim, deixando eminente o contato com meus pés descalços. Sem perceber, penso em como alguém poderia escrever a respeito de um homem se tornar barata. A barata torna-se homem dentro do receio trêmulo. Um toque de antenas e não sou menos inseto do que o que me toca.
Os insetos são seres terríveis. Eles não fazem som e são rígidos demais para seu tamanho. Leve demais para descrever peso. Mas ásperos demais para não sentir o roçar de suas patas em minha carne. Uma perda de consciência se aproxima e não consigo deixa de pensar, que ao acordar, aquilo ainda pode estar em cima de mim.
2 comentários:
é. os textos aqui precisam se animar mais.
mas gostei.
odeio baratas.
sobre Kafka...
"leve demais para descrever peso"
insustentavelmente leve.
como gosto disso...
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