sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hipercubo

Uma imagem no espelho congela o instante entre o piscar de olhos que não mais a enxerga. Essa instância é a incerteza que dispara o meu ritmo cardíaco e cria um suor em minha nuca, uma ilusão de medo em meus ombros após assistir um filme de terror sozinho e notar o silêncio gerado em um ambiente sem a luz da televisão ligada.

Estender a mão em frente ao espelho é receber uma cordialidade negada por todos de fora desse recinto dentro de outro, eternamente indo e voltando e tentando encarar em busca de uma identidade tão cara que precisa afirmar o que é real e não reflexo.

Tocar intimamente alguém é notar em sua linhas de sentidos um pouco do choque de retorno de quem é tocado. O calor, o arrepio dos pelos, o sabor do sal deitado em seu derreter de sentimentos, transbordar de dor deitando sobre sua face e o gozo líquido na ponta de sua lingua dividido entre o céu de sua boca e dentes, misturado em um mar de humores entre um músculo que gera sons, fala, e que divide o gozo como uma conversa. Uma conversa de criação de vida sem gerar vida alguma.

Esse Tesseraco de vidas é um retorno da proteína inicial, um detalhe de resgatar ao meio líquido de onde partimos e que com tanto receio a vivemos. Esquecemos ao mirar outro nos olhos que eles são gelatinosos por nos mostrar um reflexo menos nítido da composição da única conversa que vale comentários.

Somos prisioneiros de nossas limitações. De nossos medos. Os mesmos medos que poderia apenas admitir como individual, porque qualquer sintonia com o medo alheio é admitir sociedade e abrir mão dela e de sua própria existência dentro dela é a plena liberdade para a compreensão do ser que é visto e do que é você.

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