quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cabaré

Alfredo havia sumido de casa há quatro dias. Foi aquele desespero, a família buscando em hospitais, os amigos procurando entre seus contatos, a mulher nos bares e foi então que um amigo recebeu a ligação. Era Alfredo ligando de um Cabaré, estava pedindo que buscasse uma calça limpa e um livro que havia esquecido na mesa de cabeceira.

Todos os amigos se reuniram e foram correndo para o distinto lugar, pela manhã parecia mais uma loja de venda de móveis e cortinas. Limpo e com aspecto de filmes antigos, eram plumas, tecidos, porcelanas e um homem sentado em uma enorme cadeira de couro com o sorriso do tamanho do mundo acompanhado de uma bela garrafa de conhaque.

- Alfredo homem... O que está fazendo aqui? Estava todo mundo preocupado com você.

- Preocupado por quê?

- Porque você sumiu Alfredo! Ninguém sabia de você, pensamos até que estivesse morto.

- Mas que seja assim então. Estou morto e enterrado meus caros. Não esqueçam das flores quando vierem me visitar.

Uma senhora, daquelas enormes com seios saltando para fora do robe, entregou um prato com frios e pães na mesinha ao lado de Alfredo e então lhe deu um demorado beijo na boca a ponto de deixar rosa seu loiro bigode.

- Mas era só o que me faltava. – Disse um amigo mais próximo. – Quer dizer que vai deixar sua mulher e filhas de lado para ficar vadiando em um puteiro?

- Alto lá Damião! Por acaso chamo assim a casa aonde você vive?

- Como é?

- Cansei meu caro. Cansei da minha casa. Resolvi que a partir de hoje chamo este Cabaré de lar. Aqui eu tenho a alegria ao meu lado, música, bebida e serei eternamente cercado de mulheres e sempre entrarão outras ainda mais jovens.

Os amigos incrédulos tinham apenas um pensamento. Endoidara o pobre Alfredo.

- E digo mais. Ai de quem pensar em destratar qualquer uma das moças com quem divido minha vida.

- Alfredo, isso é um Cabaré meu caro. Lugar de mulher perdida e diversão para os que podem pagar. Por que diabos você vai viver aqui? Como vai pagar para viver aqui?

- Me aposento. Dou metade da grana para minha mulher cuidar das meninas e outra metade para as meninas cuidarem de mim.

Parecia realmente decidido, entre o olhar dos amigos havia agora um misto de pena e inveja descarada. Eles apenas saiam calmamente, um ao lado do outro se convencendo a partir no balançar de suas cabeças.

- Pobre Alfredo...

Um comentário:

Ciro Junior. disse...

Muito boa...
Confesso que a inveja se apoderou do meu ser por alguns instantes...