segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Detetive ao som de pagode - 1 parte.

Uma vez, nem me lembro exatamente quando, li ou provavelmente ouvi que quando estamos próximos de morrer revemos toda a nossa vida. Acho que isso é a maior balela que alguem já inventou. Tudo que estou vendo é uma poça de sangue grudenta e o cheiro de urina com merda em minhas calças. Se alguma coisa em meu passado está vindo a minha mente é: por que diabos eu aceitei a porcaria de um caso que me enfiou duas balas na barriga?

Meu nome é Antônio Carlos Madureira. Tenho um escritório no terceiro andar do Vênacio 2000 e cobro 300 contos para tirar fotos de maridos infieis, fotografar enteados bichinhas e as vezes, com sorte, encontrar alguma criança que fugiu de casa e entregar para os pais. Foi nessa merda que me enfiei quando deixei aquele magrelo fudido entrar em meu escritório.

O homem era um saco de ossos de dar pena. Usava blusas finas, o que deixava sua aparência ainda mais frágil, parecia que com um aperto de mãos o pobre miserável iria desmontar. Mas era bem vestido e se algo em minha ofício me deixa focado são sapatos caros. E ele tinha pisantes bons o suficiente para ouvir sua história.

- Senhor Madureira, eu não sei exatamente se o senhor me conhece.
- Não conheço e nem preciso conhecer o senhor. Vai soltando a rabiola que cobro por hora.

O homem ficou estático por alguns segundos e depois me contou sua triste história. Era um deputado que veio para brasília antes de sua família. Estava montando tudo para saber onde os filhos poderiam estudar e em qual super quadra funcional iria morar após a posse. Dúvidas sobre proximidade escolar, farmácia, hospitais e essas coisas.

- Estranho os hospitais serem em cada extremo nessa cidade.
- Mais estranho são os que ficam no centro. Mas não se preocupe que por esses o senhor nem vai passar por perto.

Então após duas doses de uísque barato, que ele não recusou para minha admiração, ele começou a contar o motivo da visita.

- Tenho uma filha de 16 anos, ela vai fazer 17 daqui a dois meses. Ela ainda estava com a mãe enquanto eu organizava as coisas por aqui e… bom, a última…

O homem começou a chorar copiosamente em minha frente. Já vi muitos homens chorando em meu trabalho, a maioria quando mostro as fotos de pornografia soft caseira de suas respeitáveis senhoras com amantes, mas confesso que um pai chorando pela filha desaparecida era de doer o peito.

- Tem uma foto da guria?

Ele me estendeu com as mãos trêmulos uma imagem de uma ninfeta que era um escândalo. Queria realmente me solidarizar com o pobre a minha frente mas a ereção eminente me proibia tal camaradagem.

- Meu amigo… essa menina é problema. Deixa eu ver se entendi, ela desapareceu em sua cidade certo? Por que está buscando auxílio de um detetive particular aqui? Já falou com as autoridades de sua cidade?
- Procurei. A última notícia que eles tem dela é que Mel, após discutir com a mãe, veio correndo me encontrar. Se enfiou em um ônibus a caminho de brasília e até agora… Eu…

Mais uma montanha de lágrimas que eu ignorei enquanto guardava a foto dentro do bolso sem cerimônias. Era apenas uma questão de procurar alguém que sabia usar aqueles malditos computadores e redes sociais e buscar a menina entre seus amigos. Caso encerrado.

- Certo, tome outro trago. Não se preocupe. Qual é o nome completo da menina?
-
Meirilucy da Silva Morim.

Uma pena que a informação dizia que a menina vinha para brasília. Com um nome escroto desses e com uma aparência de atriz, imaginaria que ela se amotinou da família.

- Fica tranquilo vou dar uma pesquisada e entro em contato. São trezentinhos, por dia, mais os custos adicionais para qualquer eventualidade que possa ocorrer.
-
Sem problema.

O homem soltou 2 barão em cima de minha mesa. Amo políticos.

continua...

3 comentários:

Piotr disse...

pooorra finalmente voltamos pras histórias maneiras, já tava de saco cheio da qualiragem e das receitinhas do zé...

Ju ♥ disse...

putz, com um nome desses eu também fugiria... ou se tivesse pai político.

mombasca disse...

fogo neles, madureira!