quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Detetive ao som de pagode - Final

Resolvi marcar o encontro na parte superior da Rodoviária. Eram quase três da manhã e é impressionante como o centro da capital do país parece quase morta em uma quinta-feira. O carro prata entra no estacionamento e vejo meu contratante ao lado de um muro que só posso dizer que é um homem por conta de seu olhar.

- Onde está a menina?
- Segura e longe de você senhor Deputado.
- Você me disse que tinha algo para mim.
- Tenho uma pergunta. O senhor sabe o por que Brasília é uma cidade tão seca?
- Hã?
- Para todos os políticos poderem viver de mãos molhadas.

...

Cinco horas atrás eu finalmente consegui encontrar Meirilucy da Silva Morim. A menina sabia tanto sobre esconderijos quanto eu sobre ganhar dinheiro. Fazia dias que estava mudando de pensão em pensão entre o plano piloto e o núcleo bandeirantes e finalmente no 11° quartinho barato eu bati na porta certa.

- Sabe menina - eu disse enquanto ela abria a porta. – Você deveria ganhar tempo saindo do estado e não rondando por Brasília e entorno. Antes de sair correndo não estou aqui para te entregar, sim eu fui contratado para achar a pobre filha de um deputado... mas algo me diz que você não é a filha do crápula, ou estou enganado?

Ela caiu em meus braços chorando e apertando todo aquele colágeno contra mim. Adoraria dizer o quanto fui integro e honrado e que decidi ajudá-la por uma questão moral. Digamos apenas que meus honorários aceitam escambos vez ou outra.

...

O gorila que certamente pertencia a alguma recanto do inferno antes de decidir esmagar homens para viver colocou sua mão dentro do paletó, incrível que consigam fazer ternos desse tamanho, e deixou a arma a vista.

- Creio que estamos tendo apenas um mal entendido aqui. A questão foi o valor? Tenho mais três mil dentro de um envelope aqui comigo. Só quero ter certeza que encontrou o que eu pedi para você.
- O senhor me pediu para encontrar a sua filha. E para minha surpresa Mel Morim não possui nenhum pai, seja deputado, pedreiro ou bicheiro. Também não encontrei nenhum deputado recém-eleito com o sobrenome Morim que tenha recém se mudado para Brasília e como o senhor não riu da piada acertei sobre não ser deputado certo?

O homem soltou uma risadinha cretina como se tivesse algum volume dentro de suas calças. Convenhamos, com um monstro daquele ao seu lado ele não precisava de bago nenhum, tinha dois de sobra.

...

Após a melhor foda de minha vida, mesmo não ouvindo hino algum tocando de fundo, fiquei deitado pensando a respeito do que a menina tinha me contado. Fugindo de um homem violento e possessivo, que tinha tesão em bater em jovens prostitutas e as vezes até mandar seu capanga participar do joguinho.

- Ele é um monstro. Nunca vai me deixar fugir. Ele vai me matar.
- Provável, bem provável.

...

- Tenho o seguinte acordo a fazer com o senhor. A menina nunca mais pisa nessa cidade, nunca tocaria no seu nome com ninguém e esqueceria qualquer coisa que tenha escutado por acaso entre os lençóis como uma dama. E se todos estiverem de acordo o senhor pode guardar os três mil que iria me dar e fingir que nunca entrou em meu escritório.
- O que te faz pensar que eu não vou mandar o Silas aqui – O animal tinha um nome, Silas. – te meter duas balas na barriga e te obrigar a nos levar até ela enquanto você sangra?
- O fato de eu ter toda essa conversa sendo gravada nessa pequena caneta em meu paletó.

Os dois ficam me encarando por um momento e então eu ouço o som surdo de dois disparos. Sinto como se de repente começasse a chover, minha perna fica mole e sinto meu estomago em uma queimação da pior azia que eu já tive. Sangue. O filho da puta atirou. Maldito blefe de filme estrangeiro!

Caído no chão vejo aquele brutamontes se aproximar de mim junto com o magricela filho de uma puta sem bagos que me contratou.

- Muito bem seu bosta! Eu não vou esperar muito de você além de balbuciar palavra por palavra aonde a maldita vadia está. Fale!
- Vai se fuder...

O punho do gorila segura o que pode ser minhas tripas, espero que esteja suja de merda.

- Vamos cara. Você é um derrotado que ninguém se importa. Se me disser onde a vagabunda está eu te levo ao médico, te dou uma grana para viver de cachaça barata até o fim de sua vida e se tudo der errado te dou no mínimo um enterro decente.
- ...
- O que você tem a ganhar defendendo aquela mina? Ela não é ninguém! Olhe para você. O que você já terminou em sua vida? Colégio? Faculdade? Uma boa carreira?
- Dois casamentos.

Sinto o animal apertando com mais força e agora a merda, urina e lágrimas não ficam mais dentro de mim.

- Eu falo! Eu falo! Eu falo! Filhos de uma puta chupadores de suas próprias picas! Eu falo!

Então ele se aproxima o bastante para eu enfiar uma bala na orelha do colosso que aparentemente também era feito de carne. O imbecil olha para o corpo caído que era a única coragem que tinha e cai de joelhos junto comigo.

- Eu... Eu não preciso saber de nada. De nada! Vamos, você está perdendo sangue... Meu Deus olha seu terno. Vamos... Eu... Nós podemos deixar...

Dou um tiro certeiro no olho e então caio de lado segurando o que sobrou de minhas tripas. Adoraria dizer que esse era o plano, adoraria ter atirado antes, adoraria não ser miópe e adoraria não ter um fraco por rostinhos bonitos.

2 comentários:

Ju ♥ disse...

a vida é assim...

mombasca disse...

porra madureira, deu mole. Vai negociar com bandido..