terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Valéria ano 94 - Parte Final

Já estou em Cuiabá a aproximadamente três meses. As aulas começaram em um ritmo bem mais tranquilo do que estava acostumado e o corpo docente foi bem cordial, fizeram questão de me fazerem sentir em casa.

Graças aos contatos de Valéria estava bem localizado em um apartamento bonito a menos de 10 minutos da escola em meio a Goiabeiras, bairro bem bacana e coincidentemente próximo a rua da coordenadora. Após um tempo indo a bares, conversando e trabalhando juntos percebi que não tínhamos nenhuma relação real fora do trabalho. Apenas as constantes estacionadas que sempre terminavam do mesmo modo sem qualquer alteração na rotina.

As vezes eu tentava acariciá-la, outras comentar sobre o assunto, levar o ato para uma sequência em minha casa, motel ou na casa dela. Todas essas tentativas fatalmente em vão. Todas eram sumariamente cortadas ou ignoradas como se jamais tivesse existido nada além de uma carona entre colegas. O fellatio era um assunto não comentado, um pormenor que nunca saiu daquele carro estacionado e jamais foi tratado como preliminar.

- Bom dia Diego.
- Olá Liz.
- Você está com uma cara de quem não dormiu nada. Está preocupado com alguma coisa?
- Liz deixa eu conversar com você um instante.

Fui caminhando até próximo do carro e falando baixo.

- A quanto tempo você conhece a Valéria?
- Creio que uns cinco anos.
- Ela sai com alguém? Foi casada ou algo do gênero?

Imediatamente Liz soltou um sorriso estranho.

- Ah... Não sei Diego. Talvez fosse melhor você perguntar diretamente para ela. Nunca vi Valéria saindo com muitas pessoas e não é muito cortês de minha parte falar sobre a vida de uma colega de trabalho. Ainda mais nossa coordenadora.

Segurei ela pelo braço antes que saísse.

- Espera.
- Ai meu braço!
- Desculpe-me... É que eu realmente preciso saber o que está... Foi mal Liz. Acho que eu estou estressado com as provas. Desculpe.

As pessoas começavam a comentar sobre mim nas conversas entre corredores. Pelo menos imagino que seja sobre mim. A maioria simplesmente se calava quando me aproximava e nunca mais me chamaram para nenhum happy-hour ou eventos que não fossem da escola.

Os encontros com Valéria continuavam do mesmo modo. Tentava aos poucos evitar suas caronas mas era em vão. A maioria das vezes tínhamos que sair com a desculpa de comprar equipamentos, materiais, buscar alguém, uma reunião... Todas essas tarefas eram deixadas de lado enquanto nos dirigíamos a Ponte Nova e sempre com a mesma finalidade.

Fui tentando impedir esse ato que para mim já era uma escravidão sem propósito. Não entendia mais como reagir. Parecia que do mesmo modo que não conseguia nenhuma expressão do rosto de Valéria não conseguia negar ser mecanicamente chupado. Algumas vezes simplesmente implorava para que fosse rápido, outras pensava em algumas mulheres com quem já tinha saído e muitas vezes apenas chorava sussurrando para que parasse ou que me explicasse o motivo.

Todas as vezes que tentei dormir com outra mulher havia se tornado em um martírio. Era como se meu pau só levantasse ao comando de Valéria. Como um animal de circo que havia sido condicionado a ficar excitado apenas na curva da Rua da Expedição. Qualquer outra tentativa era como um morto deitado sobre aulas de anatomia.

- Preciso pedir minhas contas.

Ela me encarou como qualquer coordenadora já olhou para mim quando pensei em mudar de escola ou quando achava que os valores não eram do meu agrado.

- Certo professor Diego. Vou preparar seus documentos e encaminhar ao RH. Espero que fique conosco até o fechar do Semestre, seria mais profissional de sua parte para com a equipe e obviamente com os pais e seus alunos.

Acabei perdendo minha cabeça e joguei uma pilha de livros no chão enquanto apoiava com força minhas mãos a mesa e a encarava com um nítido ódio crescente no olhar.

- Qual é a sua?! Sua vagabunda!
- Perdão?
- Você está de sacanagem com a minha cara ou que?! Qual é a merda do seu jogo caralho!

Nessa hora as pessoas começaram a se reunir em frente a sala, tenho certeza que alguns alunos também mas eu não me importava mais com nada.

- Você tem me chupado na porcaria daquele cantinho nojento ao lado do rio desde que cheguei aqui e não se importa com mais nada? Você é feita de gelo ou algo do tipo?! Tenho tentado entender o que você quer, o que é isso que nós temos e por que diabos você me escolheu. Fico pensando por um momento, talvez um maldito momento, que você se importa mas parece que ao pedir demissão você não está nem aí! O que você vai fazer? Contratar outro idiota para ficar boquetando no seu maldito carro?

Lembro do Thomas, que era um professor bem forte de educação física e o Bedéu da ecola o Antônio me arrastando para fora da sala. Eles primeiro tentaram conversar comigo, depois me lembro de tentar reagir e finalmente me deram uma surra.

Depois de algumas horas de dúvida se deveriam ou não chamar a polícia me lembro da corajosa Valéria dizendo que me levaria ao médico, lembro de algumas pessoas aconselhando que outra pessoa me levasse, que pelo menos alguém nos acompanhasse, lembro até do Thomas me encarando de forma ameaçadora deixando claro que iria me quebrar em dois se eu tentasse alguma coisa.

Lembro do carro seguindo pela cidade a pouco menos de 50 por hora. Lembro do silêncio aos meus pedidos de desculpas, de meu rosto inchado olhando para o retrovisor e do dente quase solto. Lembro de um ritmo hipnótico e agonizante que me fez chorar em prantos enquanto virávamos pela conhecida esquina da Ponte Velha.

2 comentários:

_lua_ disse...

Conhecendo seu blog, adorei!!

Seguindo, me permite??

Parabéns!

bjs da lua.
=))

Piotr disse...

que porra...