segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Valéria ano 94 - Parte 1

Quando desci do avião em Mato Grosso no ano de 94 para lecionar em uma nova escola fiquei perdido por alguns instantes no aeroporto tentando encontrar alguma placa que dissesse meu nome ou a mulher de vestido azul que iria me buscar. Engraçado o quanto damos atenção à quantidade de mulheres que usam vestidos azuis enquando esperamos desconhecidos.

Fiquei aproximadamente uns trinta minutos sentado em cima de minha mala com um refrigerante de cola na mão enquanto encarava uma mulher em seus trinta e muitos, talvez entrando nos quarentas sentada de pernas cruzadas olhando para o nada. Depois de uns três minutos resolvi arriscar.

- Valéria?
- Pois não?
- Você é a Valéria?
- Sou sim.
- Ah... Sou o Diego. Vim de Brasília. Sou o professor contratado para a Escola Vale Verde.
- Ah sim! Prazer Diego. Sou Valéria a coordenadora da escola. Chegou há muito tempo?
- Um tempinho. Não sabia que tinha tantas pessoas de vestido azul por aqui.

Ela não sorriu e então achei melhor só segui-la para dentro do carro.

- As aulas começam em março?
- Isso. Você vai gostar da turma são bem tranquilos. Primeira vez em Cuiabá?
- Sim. Li bastante a respeito mas nunca tinha visitado. Quero muito conhecer o Palácio da Instrução. Dizem que é bem bonito a noite.
- É sim. Você vai ter bastante tempo para conhecer.

Passamos mais um tempo em silêncio onde fiquei notando a paisagem e tentando evitar olhar as pernas morenas no vestido que teimava subir em tempo em tempo durante o percurso do aeroporto.

- Quanto tempo até a cidade?
- Como vamos pela Ponte Nova você vai ter a chance de conhece melhor o rio. Devemos chegar em uns 20 minutos no máximo. Imagino que gostaria de comer alguma coisa antes certo?
- Agradeceria. O que você sugere?
- Tem um self-service perto da Praça Antônio Corrêa. Acho que você vai gostar.
- Perfeito.

Quando vamos entrando perto da cidade ela passou rente a ponte e então virou a esquerda. Notei que procurava algum lugar para estacionar, provavelmente por conta da cheia do rio, tínhamos uma linda visão de uma queda d’água mas confesso que com a fome que estava esperava que esse simpático tour durasse apenas dois minutos. Por que afinal de contas ela comentou sobre o restaurante então?

Quando o carro parou. Fui abrindo a janela quando senti as mãos de Valéria sobre o meu pau. Ela abriu meu zíper e ato contínuo me chupou ali mesmo ao som da cachoeira e um calor surreal que atraíra mosquitos para dentro do carro. Terminado o ato ela voltou ao volante e foi dirigindo até o restaurante em silêncio.

Comemos uma moqueca com uma combinação bizarra de batata fritas e salada de alface com tomate. Dividimos uma cerveja e então ela voltou a falar.

- A turma que você vai lecionar é a 5°B e a 8°A. São em sua maioria filhos de gente rica e mimada de Cuiabá. Então é melhor saber qual é sua posição na sala de aula. Se você titubear eles vão montar em você.
- Tenho experiência com crianças mimadas. Dei aula em alguns colégios particulares de Brasília. Dois dos meus alunos eram filhos de políticos.
- Políticos... Há! Você vai entender o que são filhos de poderosos por aqui.

Terminamos a cerveja e ela me deixou em meu hotel. Perguntou mais alguma coisa sobre eu ter ou não um lugar para ficar, quanto eu estava pensando em gastar para aluguel e se tinha gostado do restaurante terminada a conversa me deu um beijo no rosto e partiu.

Fiquei pensando enquanto desfazia minha mala sobre o que diabos tinha acontecido. Era realmente uma espécie de batismo, apoio ao companheiro de trabalho, cantada, talvez cultural? Estava começando a bancar o preconceituoso e idiota. A chupada tinha sido tão banal quanto um aperto de mãos, nada demais e sem qualquer afeto ou comentários após feito. Resolvi tomar uma ducha e dormir um pouco antes de conhecer a cidade.

continua...

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