terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O menino no sapato - parte final

Eriberto passou sua manhã pensando em um nome. Não é uma tarefa tão fácil assim criar um nome. Principalmente um que significasse algo para você, ou quem você fosse.

Como deveria escolher o seu nome? Deveria ser algo que simbolize coragem, afeto, carinho ou proteção? Algo que você gosta, que precisa ou que deseja ser? E o nome Cyria Multiplisorridevanenoturno era bacana demais! Tinha que buscar alguma coisa... coisa não oras. Era um nome. Tinha que ser o Seu Nome, algo tão legal quanto.

Eri (ele já havia perdido o Berto no caminho) entrou correndo pela casa, pulou a poltrona da sala e abriu a porta do quarto gritando a pleno pulmões.

- Eri Abertifloraluziplural!

Saindo com um pulo de dentro do sapato o garoto abriu um sorriso e segurando seu turbante fez uma longa reverência.

- É um belo nome que carrega contigo Eri Abertifloraluziplural. Nomes saem bem melhor quando cantados bem alto. Apenas números deveriam ser ditos bem baixinhos, assim eles podem se perder e as pessoas apenas enxergariam o pouco e o muito.
- Ainda não me disse o porque escolheu morar em meu sapato. Tá eu sei que é porque eu não o uso mais. Mas por que resolveu vir morar aqui em meu... Não é meu o quarto não é? É apenas um ambiente, mais um lugar, outro teto como qualquer outro não é?

O menino deu um pequeno sorriso, seus dentes pequeno e pontiagudos mostravam um verdadeiro e sincero sinal de alegria.

- Continue.
- Esse é o lar dos meus pais. É enorme e eles vivem reclamando do tamanho de onde vivem. Esse quarto é tão grande e mesmo assim eles vivem entupindo de coisas, de roupas, de brinquedos. Quase como se eu precisasse de tudo que me dão em troca do que eles querem ter para si.

Ele começou a perceber que o menino a sua frente aumentava ainda mais o sorriso e ele parecia um pouco maior, quase na altura de seu joelho.

- Eles vivem cansados, tristes e suspirando como se não houvesse mais ar em seus pulmões. Peitos cansados e segundo ouvi meu pai falar baixinho um dia, tão pesados que doía muito em algumas horas do dia. A televisão sempre continua mostrando várias coisas e minha mãe olha tudo em volta querendo saber onde poderia caber todas elas.

O quarto parecia ainda maior, um pouco mais colorido, mais vivo e com tons tão mais interessantes do que seus pais pintaram quando se mudaram. Ele sempre quis um quarto com estrelas pelas paredes e no teto e tudo que ganhou foi uma parede branca com... Era uma estrela naquele canto?

- Continue Eri Abertifloraluziplural. Não pare, você está quase lá.
- É uma estrela não é? Naquele canto, eu realmente estou...

Um mar de estrelas brotou daquela pequena estrela, como uma explosão de fogos de artifícios cobrindo o quarto inteiro em rotações tão criativas e lentas que ele não pode evitar de sorrir.
Ao virar o rosto notou que o menino era do seu tamanho, tão real e carregava consigo um misto de cheiro de telha molhada e livros antigos.

- Você poderia mudar de tamanho o tempo inteiro?
- Não fui eu que mudei de tamanho.

O quarto era maior do que ele jamais sonhara e todos os tons estavam trocados, todos os aromas, seus sentidos pareciam um enorme catavento e ele não conseguia parar de rir.

Viu o menino caminhando em direção ao sapato e dentro dele havia uma enorme e linda escadaria de musgos e flores. Ela apontava para uma luz toda própria e uma sensação de arrepio que consumia toda sua pele.

- Por que eu nunca tinha visto nada disso antes?
- Talvez, porque você não queria. Talvez, por estar ocupado com outras coisas. Talvez, porque existe alguma coisa na maneira que vocês pensam, que que nubla o fato de que beneficios são tao bons quanto perdas.

Sem olhar sequer um segundo para trás Eri Abertifloraluziplural pulou para dentro do sapato deixando para trás um quarto, dois pais, colégio e um menino chamado Eriberto.

Um comentário:

the author disse...

O grande problema de saber se quando as coisas mudam elas mudam mesmo ou são substituidas por outras. Uma versão bonita e zéduardística, com direito a todas as vírgulas que não precisava.