Fiquei olhando aquele garoto que estava com um sorriso enorme no rosto enquanto eu olhava de rabo de olho a fresta da porta.
- Isso não é seu nome.
- Claro que é meu nome. Eu mesmo me dei!
- Você não pode escolher seu próprio nome.
- Não? Quem disse que não? De que vale ser chamado por algo que não é seu. Você não criou o seu próprio nome?
- Não...
- Oras... Então escolha o seu nome!
- Não posso criar um nome.
- Mas vocês vivem dando nome para tudo. Qualquer coisa que vocês querem que seja de vocês possui um nome. Assim como aqueles dentuços de pêlos histéricos.
- Cachorros?
- Eles se chamam de Roufes ou Haus. É assim que eles falam ao menos.
Ouvi minha mãe batendo na porta. E então joguei correndo minha blusa por cima do garoto quando ela entrou.
- Berto você não vai tomar seu café?
- Já estou indo mãe.
- E pare de deixar suas roupas jogadas. Assim elas ficam todas puídas.
Quando fechou a porta notei que ele estava muito chateado por ter sido coberto por uma blusa suja do time de futebol. Ele logo começou a se coçar inteiro e esfregar o cabelo com força.
- Como você pode simplesmente me tirar a luz desse modo?!
- Era para minha mãe não te ver.
- Mãe... Mães nunca pode me ver. Elas sempre estão preocupadas com os filhotes para notar qualquer coisa além deles. São como os pais. Preocupados demais com o que acham ser suas responsabilidades. Tão enfadonho.
- Mas eles precisam ser responsáveis.
- Você não ouve muito bem não é?
- ...
- Eles ACHAM SER SUAS RESPONSABILIDADES não fazem a menor idéia do que signifique de verdade.
Ouvi minha mãe me chamando mais uma vez e corri para vestir minhas roupas. Olhei para o lado antes de sair de meu quarto e pude ver sua mãozinha dando um tchau para mim ao entrar no sapato e uma pequena voz saindo abafada.
- Quando voltar lembre de ter escolhido um nome.
... continua
Um comentário:
escolho esse hoje. posso ter um nome a cada dia?
beijos sempre sus.pirados
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