quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O menino no sapato - parte 2

Fiquei olhando aquele garoto que estava com um sorriso enorme no rosto enquanto eu olhava de rabo de olho a fresta da porta.

- Isso não é seu nome.
- Claro que é meu nome. Eu mesmo me dei!
- Você não pode escolher seu próprio nome.
- Não? Quem disse que não? De que vale ser chamado por algo que não é seu. Você não criou o seu próprio nome?
- Não...
- Oras... Então escolha o seu nome!
- Não posso criar um nome.
- Mas vocês vivem dando nome para tudo. Qualquer coisa que vocês querem que seja de vocês possui um nome. Assim como aqueles dentuços de pêlos histéricos.
- Cachorros?
- Eles se chamam de Roufes ou Haus. É assim que eles falam ao menos.

Ouvi minha mãe batendo na porta. E então joguei correndo minha blusa por cima do garoto quando ela entrou.

- Berto você não vai tomar seu café?
- Já estou indo mãe.
- E pare de deixar suas roupas jogadas. Assim elas ficam todas puídas.

Quando fechou a porta notei que ele estava muito chateado por ter sido coberto por uma blusa suja do time de futebol. Ele logo começou a se coçar inteiro e esfregar o cabelo com força.

- Como você pode simplesmente me tirar a luz desse modo?!
- Era para minha mãe não te ver.
- Mãe... Mães nunca pode me ver. Elas sempre estão preocupadas com os filhotes para notar qualquer coisa além deles. São como os pais. Preocupados demais com o que acham ser suas responsabilidades. Tão enfadonho.
- Mas eles precisam ser responsáveis.
- Você não ouve muito bem não é?
- ...
- Eles ACHAM SER SUAS RESPONSABILIDADES não fazem a menor idéia do que signifique de verdade.

Ouvi minha mãe me chamando mais uma vez e corri para vestir minhas roupas. Olhei para o lado antes de sair de meu quarto e pude ver sua mãozinha dando um tchau para mim ao entrar no sapato e uma pequena voz saindo abafada.

- Quando voltar lembre de ter escolhido um nome.

... continua

Um comentário:

Lineah Saudadimensabsoludiário disse...

escolho esse hoje. posso ter um nome a cada dia?

beijos sempre sus.pirados