quarta-feira, 5 de maio de 2010

Anulado

Eram que horas quando tudo ficou opaco? Olhando em volta noto que tudo perdeu os tons. Era como se de repente as paletas de cores jamais existira. Estou encarando um mundo de formas onde a própria definição de volume se perde na transparência.

Já pensou em caminhar sem saber exatamente a distância? Eu posso te assegurar que antes dera ser cego e ter em minha compensação os demais sentidos como guia.

Sim meu senhor! Peço desculpa ao leitor por não deixar claro. Mas não foram somente as cores, e com elas os tons de xinza, que esvanecera. Com elas sumira também o som, calor, frio, textura, odor, sabor... Sumiu por completo e teimo em dizer que não irão voltar.

Notando bem não havia animais, plantas, nem sequer nuvens ou sol, ou seria noite? Nesse caso não havia também lua ou estrelas. Apenas um espaço não definido... minto! Um espaço desenhado com nossas construções, alicerces, objetos e divisórias.

Parei de prestar atenção ao notar uma turba passar disparada pela rua abaixo. Muitos caindo e levantando, outros esbarrando e outros tantos não se importando, ditando no silêncio o alto tom de bocarras abertas. Todos eles seguiam para o que um dia foi um museu e ali entendi que era para onde deveria ir.

Grupos desesperados com lágrimas sem sal ou calor encaravam as formas no que deveria ser pedras metal e madeira em formas, esculturas como dizíamos antes, deitavam seus olhares como uma prece nas fotografias, nos quadros e nas montagens. Era como se as obras fossem um útimo resquício de vida distribuída pelo mundo.

Cansado dos olhares dos desesperados me atirei de volta as ruas, essas espaçadas e de carros parados com placas e sinais que não tinham mais sentidos.
Percebi então uma criança sentada com um bloco de peças em seu colo, tão concentrada em seu trabalho que conseguiu prender minha atenção além das obras e aqueles olhares religiosos voltados a elas.

A criança construia uma espécie de torre, ou me pareceu uma, com pedaços de caixas de fósforos, sapatos e embalagens de produtos. Ao final dessa obra ela esboçou um sorriso e deixou seu produto enquanto recolhia coisas deixadas para trás pelos demais. Placas, bolsas, cigarros, telefones, chápeus e todo o resto.

Fiquei ali olhando a pequena construção e a criança que se distanciava com pequenas tranqueiras em suas mãos. Olhando acabei por sorrir ao lembrar das pessoas no museu. Uma gargalhada, sem nenhum som, saía de mim me fazendo chorar de tanto rir criando câimbras em meu ventre ao notar a semelhança absurda com o mito da caverna.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oliver Sacks, o pintor daltônico?