terça-feira, 26 de abril de 2011

Silêncio

O celular tocou perto das 21 horas e então Adriano resolveu desligar o aparelho. Ficou atento ao silêncio olhando para a casa, seus móveis, livros lido pela metade, peças de decoração que não tinha a menor ideia do porque adquiriu e a garrafa de Jack Daniels que comprou na feira dos importados.

Estava tomando o segundo copo com gelos peludos, daqueles que se funde ao ambiente de nevasca do freezer, quando notou o laptop apitando algum aviso de e-mail. Ato contínuo se aproximou do computador, parou e resolveu só encarar o aviso apitando como um sino estridente e irreal.

Computador desligado, celular desligado. Demorou aproximadamente dois dias para o telefone fixo tocar, achou engraçado imaginar que alguém ainda lembre esse número, apenas ouviu o trim espalhar pela casa até parar e então desconectou o aparelho.

O uísque já havia acabado e não tinha mais nenhum álcool dentro de casa. O cigarro ainda daria para um dia já que sem o álcool ele fumaria bem menos. Por um momento ele hesitou e quase ligou a televisão para tirar aquele silêncio de sua volta.

Amarrou a televisão em sua própria tomada e a deixou do lado de fora do apartamento, nenhum vizinho abriu a porta enquanto ele fazia isso, então voltou novamente para a mesa e acendeu mais um cigarro.

A comida acabou depois de uma semana. Agora a abstinência de cigarro e álcool era apenas uma memória ruim. Quando começou a falar consigo mesmo, rompendo o silêncio, mordeu com força a língua. O sangue e a dor fez ele rir por alguns instantes e então resolveu quebrar sua gilete.

Enquanto sentia o corpo frio e dormente ficou pensando no incrível volume de sangue que uma língua cortada poderia criar. Mas então um pouco antes de adormecer percebeu que realmente fazia sentido ao se lembrar do salmo de Mateus:

“Porque a boca fala do que está cheio o coração”

2 comentários:

Ju ♥ disse...

por isso é importante amar, amar muito... mesmo q doa!

Eu conheci uma menina que gostava de uísque disse...

Palavras pra quê? ;) pisc!