sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Leitura

- Me serve mais uma taça?
- Você não disse que estava ficando tonta já?
- Gosto de ficar tonta com você.

Eu sorrio enquanto ele fica tão vermelho como o vinho. Esse menino é tão bonitinho que chega a doer.

- Queria ler uma coisa para você.
- É coisa sua?
- Não é de um poeta português. Antônio Pedro é seu nome.
- Esses escritores do século XIX?
- Na verdade ele é dos anos 30.

Se ando tão triste, não digas

Porque ando triste e cansado

- Caibo num caixão fechado...


Ora pois, se perguntarem,

Não digas nada. Talvez


Imaginem que este jeito

De andar tão triste, por ti,

Foi um defeito

Com que nasci.


Deixo meu vinho de lado e tento segurar meu rosto, olhar para a cozinha, pensar em qualquer coisa.

- Você está bem?
- Droga! Não, não estou nada bem.
- Eu só queria dizer algo bonito para você.

Meus olhos estão vermelhos e deixo marcar minha maquiagem, manchando meu rosto e meu orgulho.

- Prometi a mim mesma que homem nenhum... Nenhum deles me faria chorar de novo.
- Eu...

Beijo com força sua boca, sentindo o sabor de vinho, misturado com o hortelã que estava na salada.

- Merda. Você realmente é lindo de doer.

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