Meu nome é Eriberto e hoje ao contrário de todos os dias eu percebi ao tentar calçar meu sapato que algo estava dentro dele. Algo macio e quente que gritou quando pus meu pé.
- Ai! Não olha onde poem o pé não?
Era um menino dentro do meu sapato. Ele era parecido com todos os outros garotos de minha escola. Tirando o seu tamanho.
- Desculpa. Não tinha visto você aí dentro.
- Desculpa... Você quase me esmaga e tudo que pede é desculpas?
- Você está machucado?
- Minha cabeça está doendo um pouco. Tem um turbante?
- Turbante?
Ele pulou para fora do sapato e andou em círculos com as mãozinhas para trás das costas.
- Um turbante. Como ele não pode saber o que é um turbante? Todo mundo sabe o que é um turbante. É um desperdício de diálogo, sem contar uma falta tremenda de educação, machucar alguém e nem sequer oferecer um turbante a ela.
- Desculpa. É que eu nunca ouvi falar de um turbante.
- Claro que nunca ouviu falar de um turbante. Turbante é algo que fica sobre a sua cabeça, que mantêm suas ideias circulando tempo suficiente para que possa escolher uma boa antes de soltar. Francamente...
- Mas o que isso tem haver com seu machucado?
Ele deu dois pulos e coçou a cabeça bastante nervoso.
- Você achatou minhas ideias! Sem um turbante elas ficaram tão finas que podem sair correndo de meu ouvido por todo o quarto. Agora me traga logo um turbante.
Ele teve que me mostrar como se fazia um turbante. Acabei pegando uma gaze e enrolei em sua cabeça. Colocamos um alfinete pequeno na frente para prender. Ele olhou no espelho e pareceu satisfeito.
- Tá. Não é exatamente um rubi mas pode servir por enquanto.
- O que você estava fazendo em meu sapato?
- Ele estava começando a ficar apertado em você e bem sei que garotos não levam a sério suas vestimentas. Sempre comprando coisas novas só por não caberem mais nelas.
- Mas todo mundo cresce.
- Todo mundo não. Só aqueles que gostam de desperdiçar as coisas. Eu nunca cresci e assim tudo que eu uso me serve para sempre.
- Você só tem essa roupa?
Então o menino deu um voleio e se apresentou como um ator de teatro.
- E para que eu precisaria de mais roupas? As pessoas mudam suas roupas porque precisam parecer aqueles bonecos atrás dos vidros. Você gosta de parecer um boneco?
- Não.
- Olhe para mim. Todos que me vêem sabem que uso calça vermelha, uma linda blusa verde com missangas, cordões de couro no pulso e essas sandálias de couro de rato. Sou minhas roupas!
- Você é estranho.
Ele sentou no chão e cruzou as pernas uma sobre a outra como um biscoito.
- Então devo me apresentar. Meu nome é Cyria Multiplisorridevanenoturno.
continua...