A música já toca tão alto que apenas os sussurros são ouvidos. Queria sentir o tremer de tua boca assim tão próxima ao meu ouvido onde eu me perco entre meus pensamentos e teus toques.
Adoro o seu dizer de sacanagens ao meu ouvido, aquele mesmo que me deixa sem graça em público no meu evidente cruzar de pernas. Gosto do seu sorriso quando peço para esperar chegar em casa e ser negado.
Fico me lembrando daquele detalhe irônico de você me prensando contra a pia de minha casa e prendendo meu pau entre suas coxas, a mesma que me aperta e em um sussurro me faz tremer e você sorrir.
Queria um controle maior sobre meu corpo ao teu lado, queria deixar de lado essa escravidão de teus toques ou pelo menos saber o por que estou me tocando sozinho quando não te tenho ao meu lado.
- Por que às vezes, bem às vezes... Eu faço o mesmo seu idiota.
Cheiro de vento sobre os cabelos, ele se levanta e mira o nascer de um calor no espelho de um céu sobre a grama.
Suas vestes são as vestes dos orgulhosos, daqueles que durante alguns metros disputaram esforços mútuos por sua sobrevivência.
Mãos grossas seguram a madeira lisa em sua base, a mesma que com orgulho diz defender sua família.
Uma prece para os manitus. Que ele seja o tendão da terra, o orgulhoso céu, a convicção de todos que vieram antes dele. Cabe a esse homem honrar o ciclo que seus ancestrais a muito cobriram essas planícies.
Sons de cavalos, cheiro de álcool, suor, sede de terras e sangue. A última caçada está a suas costas, que as marcas deixadas em suas armas mostrem e sirvam de memória.
Nela encontra-se a memória de uma máquina fotográfica com 210 fotos de uma menina que confiou sua nudez ao namorado, 24 tampas de Long Neck de Heineken, duas tampas de Devassa, um charuto, duas esferas de metais terapêuticos, dados de War, uma chave, sete pacotes de camisinhas baratas e maconha.
Foi feita uma promessa que nada sairia desta caixa. A promessa deveria ser mantida mas ocasionalmente a maconha sai e dependendo da companhia acompanhada das camisinhas.
- Alô... - Sonhei com você. - O quê? - Sonhei com você, estava sonhando com você. - Que horas são? - Três e vinte e sete. - Tá tudo bem? - Não. - Aham. - Tinha assistido um bom filme, estava bem acompanhada e então acordo chorando porque sonhei contigo. Odeio isso. - Você não estava bem acompanhada. - Você não sabe. Foi uma excelente companhia, boas conversas. - Mas você me liga as três da manhã. - Não por ele ter sido uma má companhia. - Não disse que era má. Disse que não era boa.
...
- Se realmente tivesse sido boa, estaria ao seu lado na cama. E certamente você não estaria me ligando.
Gosto do calor, gosto do modo como ela sorri de lado, com sua nuca suada, pedindo para que a abrace. Abraçar uma mulher suada é a simplicidade da certeza de seu desejo voltado a ti.