quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Crú

Sua casa deve ser um local de descanso. Um espaço onde possa se esconder de todos os problemas do dia, deixar ele escorrer por você em um ducha quente e passar alguns instantes agradáveis com quem escolheu dividir sua vida e chama de família. Ao abrir a porta e olhar no rosto da sua mulher um desespero crescente, deixa de lado o egoísmo do descansar de lado.

- Aconteceu alguma coisa?
- Precisamos falar sobre Helena.
- Cadê ela?
- Está no quarto, sente-se aqui um momento.

Ela passa as mãos sobre os cabelos escuros e com princípio de pequenos fios brancos e então deixa descer apenas uma lágrima.

- Não amo minha filha.
- ...
- Não consigo amá-la. Nunca amei.
- Você vai voltar à terapia.
- Cristiano estou sendo sincera. A terapeuta sempre disse que não ser sincera era a ruína de nosso casamento.
- Como pode dizer algo assim? Pelo amor de Deus! Ela é sua filha.
- E é uma egoísta. Uma filha da puta manipuladora.
- Você disse isso para ela?
- Cristiano.
- Você disse, a sua filha, que não a amava?
- Disse. Disse que olhar para ela, era a confirmação que não criei nada significativo para o mundo.

Cristiano se levanta, olha com um ódio sem limite para sua esposa e segue para o quarto da filha. Bate duas vezes na porta e então sussurra com afeto.

- Helena querida. É o papai.

Ele espera mais alguns instantes e então abre a porta.

A menina está sentada, olhando para a parede a sua frente. Fez um desenho simples de uma casinha, cercas, um bonequinho pequeno ao lado de dois grandes, um deles está riscado, é a mãe.

Cristiano pega a filha no colo, abraça o corpo da pequena, enquanto sente lágrimas quentes sobre seu rosto. O soluço faz seus pequenos laços de cabelo roçar nos olhos molhados de seu pai.

- Papai, o que eu fiz de errado?
- Nada Helena.
- Mamãe disse...
- Mamãe está muito doente filhinha. Nós vamos ajudá-la.

Os soluços vem seguidos um movimento de sim.

- Te amo filhinha. Sempre vou te amar.

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