segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Veneno

“Pois bem!, respondeu o Senhor. Tudo o que ele tem está em teu
poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa. E Satanás saiu
da presença do Senhor.”

Eram umas três da manhã enquanto ela tentava arrumar suas coisas e sair correndo de da casa que não era mais bem vinda. Quase nunca chove em Brasília no inverno, mas durante a madrugada era um frio absurdo demais para qualquer pessoa pensar em sair de casa.

- Pára de ser idiota. Dorme aqui essa noite.
- Dormir? Você acha que eu estou com cabeça para dormir seu escroto?
- Nós terminamos Janice, não estou te expulsando de minha casa em plena madrugada.
- Então seria melhor você ter terminado durante o dia.
- Às vezes você age como uma criança.
- E você como um canalha.

Ela simplesmente saiu pela porta, olhou para trás apenas uma vez e firmou um pacto. Esse homem iria pagar pelo o que fez. Ele iria sofrer tanto quanto ela imagina estar sofrendo por ele.

...

- Terminou com a neurótica?
- Sim, nós terminamos ontem.

O pé dela subiu pela perna dele em direção a virilha.

- Vou sentir saudades dos encontros escondidos. De você me comendo com pressa na garagem do apartamento.
- Vai ficar chateada se eu disser que não vou sentir saudades de nada disso?
- Não vai?
- Não Marina. Eu estava cansado de mim mesmo. Queria apenas dormir com você, deitar do seu lado e ter a certeza que estou fazendo tudo certo.

Marina sorri, levanta da cadeira, senta em seu colo e entrega um beijo demorado. Então Fernando a afasta.

- Nós estamos em um restaurante, você está louca?
- Por você.
- Te amo.
- Eu sei. Vou ao banheiro.

O espelho mostra uma mulher jovem e apaixonada retocando o seu batom. Finalmente ela pode desfilar com o homem que sempre foi dela. Pode ser apresentada aos seus amigos, a idiota da sua mãe e talvez até se mudar para o apartamento dele. Tudo deve ser feito com calma e leveza para que não cometa os mesmos erros que a corna cometeu.

- Ele vai te trair também.

Olhando para trás ele pode ver a ex. Ela está com um rosto terrível. Velho e sem maquiagem alguma para ajudar.

- O que você está fazendo aqui? Vai armar um escândalo? Olha que eu chamo o gerente.
- Não vou criar nenhum escândalo. Só vim te avisar que ele vai te trair, ele precisa disso.
- Ele precisa disso. – A jovem dizia segura de si, segurando sua cintura e seios.
- Vai dormir tranqüila sabendo que ele vai trabalhar até mais tarde? Que vai precisar sair em um sábado pela manhã para resolver um pepino na agência? As festas de madrugada cheias de modelos? Modelos como você?
- ...
- Aproveite querida. Aproveite o tempo que acha que é seu. Deleite-se com a cama, que nunca vai ter certeza do porque trocaram as colchas.

Ela sai do banheiro alguns anos mais velha. Olha para o homem de quase cinqüenta anos sentado olhando para a jovem que passou ao seu lado. E sente-se estranhamente velha em seus 25 anos.

- Você estava olhando para a guria que passou ao seu lado?
- Que guria? Do que você está falando?
- Nada.
- Está tudo bem? Você está pálida.
- Estou bem. Vamos ir ao cinema amanhã? Estava querendo ver um filme com você.
- Vamos deixar para o domingo. Amanhã tenho que ir trabalhar.
- Sábado?
- Acumulei muito trabalho por conta de nossas saídas nessa semana.
- E quanto a noite?
- Devo chegar tarde, não me espere acordada.

Ele beija a sua mão e percebe que ela estão frias. Pensa que deve ser uma queda de pressão, então ela sorri e ele deixa se enganar com o falso sorriso que tantas vezes viu no rosto de sua ex.

“Por que as mulheres conseguem se tornar tão desinteressantes, ao se tornarem prioridades em minha vida?”

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